Novas demandas dos idosos
Como nem todos têm acesso a uma aposentadoria, o número de idosos vítimas de desnutrição não se esgota apenas em questões de saúde, mas também por causas econômicas
Entre 2000 e 2021 foram registradas 93.868 mortes de idosos causadas pela desnutrição no Brasil. Um novo estudo publicado pela Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia destaca que houve uma queda na taxa de mortalidade entre as pessoas de 60 a 79 anos, mas os números se mantiveram estáveis e elevados entre a população acima de 80 anos. A pesquisa utilizou dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde.
Considerando que a desnutrição é uma causa de morte evitável e a expectativa de vida da população brasileira aumentou em relação as décadas anteriores, os pesquisadores destacam que a queda ou estabilidade ainda estão elevados e servem de alerta, sobretudo pelo fato de a desnutrição ter várias razões nesta faixa etária, a começar por problemas de dentição e deglutição.
O alerta se acentua por apontar para a necessidade de políticas públicas mais enfáticas para a terceira idade a despeito dos muitos programas já em curso. Os estudos destacam ainda que os idosos também são mais suscetíveis a quadros de saúde que favorecem à perda de peso e a desnutrição, como demências e doenças crônicas.
Os eleitores que vão às urnas de outubro têm uma chance única de indagar aos candidatos e às candidatas às prefeituras municipais sobre quais são suas metas para esse segmento que tem forte influência na vida econômica. Em muitos lares, os idosos continuam sendo gestores, mas, na outra ponta, se situam como vítimas das influências socioeconômicas. De acordo com os pesquisadores da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, a diminuição da renda com a chegada da aposentadoria e o aumento dos gastos com remédios têm forte repercussão nesse processo.
A própria aposentadoria tem sido um desafio não apenas no Brasil, mas pelo mundo afora em decorrência do aumento da expectativa de vida. Ademais, a previdência tornou-se um desafio para os governos por conta do desequilíbrio que a afeta: menos contribuintes e mais beneficiários. A reforma da Previdência deu um alívio, mas continua sendo uma preocupação para as próximas gerações, pois é na fase idosa que há maior dependência.
Além dos custos com remédios, os idosos também vivem o dilema dos custos com planos de saúde. Nem todos têm meios de garantir o atendimento privado, embora o SUS seja uma referência internacional.
Até no primeiro mundo os custos da previdência têm sido motivo de preocupação pelos mesmos fatores. No Canadá o sistema de saúde, como o SUS, é universal, com ênfase em cuidados primários, mas há desafios na prestação de cuidados de longa duração, especialmente devido à demanda crescente com o envelhecimento da população.
A desnutrição que entre 2000 e 2021 foi a causa de 93.868 óbitos está diretamente ligada à falta de assistência a esses idosos, ora por não terem acesso às políticas públicas, ora por não terem uma aposentadoria capaz de garantir o seu sustento.
Com o aumento da faixa de idosos ante o envelhecimento da população global, o desafio é garantir qualidade de vida para esses personagens, a fim de que não façam parte dessa perversa estatística apontada pelos estudos recentemente publicados.