MEDIDAS URGENTES
Antes de iniciar o processo de votação que culminou, por 55 a 22, no afastamento da presidente Dilma Rousseff por até 180 dias, o presidente do Senado, Renan Calheiros, voltou a discutir a necessidade de mudanças, não apenas na economia, mas também na política. Destacou a reforma que o Congresso insiste em não aprovar e a importância de novas regras para o país. Não falou novidade, mas colocou, de novo, a questão à mesa por conta da necessidade de mudança que agora se faz mais presente.
A instância política, meio adequado para se fazer tais alterações, tem sido refratária à ideia, sobretudo por se tratar de um tema de seu direto interesse. As decisões adotadas, até então, são meras questões eleitorais, quando o país cobra medidas mais amplas. Falar em coligação, voto distrital, entre tantos outros pontos, é importante, mas não o principal. O próprio modo de fazer política precisa ser arejado, da mesma forma que a representatividade, hoje diluída em mais de três dezenas de legendas, fruto de um modelo em que ter partido tornou-se um negócio.
O presidente em exercício, Michel Temer, até por conta de sua condição de jurista, conhece o assunto, por isso não deve incorrer no erro de outros dirigentes que falam uma coisa em campanha e, quando chegam ao poder, ou colocam o debate em banho-maria ou simplesmente o tiram de cena. A reforma não pode passar pelo mesmo processo, sobretudo pela necessidade de se estabelecer regras que impeçam novas crises.
O presidencialismo de coalizão é perverso nesse aspecto, pois coloca em jogo um eterno processo de barganha. A presidente Dilma Rousseff foi afastada, não por ser honesta ou desonesta, pois isso não entrou em questão em momento algum – salvo nos seus discursos. Ela está sendo tirada do poder por questões econômicas e por atuar mal na política, que faz dos seus principais atores peças de um jogo que só vai acabar quando a mudança for efetivada.