DESAFIOS DE TEMER
O presidente em exercício da Presidência da República, Michel Temer, já nesses 180 dias de afastamento da presidente Dilma Rousseff, terá que apontar para o que pode ser o seu projeto definitivo de Governo, uma vez que o país não comporta atrasos ante tantas demandas importantes e precisa, de pronto, saber o que ele pretende fazer. Para tal jornada, porém, terá que ser ousado, sobretudo em questões vitais, a começar pela reforma estrutural, que já se faz tarde, e uma ação política em direção à verdadeira reforma política. Embora a prerrogativa caiba ao Congresso, o poder de agenda do Executivo é essencial para o seu avanço, o que faltou até agora. A presidente afastada se mostrou inapetente no trato político, só se voltando para essa via quando se viu ameaçada. Tanto no seu primeiro mandato quanto na sua segunda gestão, ignorou questões importantes que poderiam ser mudadas. Mas, como estava ganhando o jogo, não quis mexer.
Os próprios fatos, porém, apontam para a necessidade da reforma, a começar pelo excessivo número de partidos políticos que levam a um governo de coalizão às avessas,obrigado a barganhar apoio na base do toma lá dá cá, sem qualquer comprometimento ideológico. E, nesse balcão, o Governo vira refém de interesses nem sempre republicanos, que acabam lhe caindo ao colo. Na mesma esteira, é fundamental avançar no debate sobre o parlamentarismo, mesmo diante de impasses históricos levantados pela própria opinião pública. O povo acatou a ideia para salvar o mandato de João Goulart, mas rejeitou uma segunda tentativa já em tempos democráticos. Há, pois, um dado cultural a ser levado em conta, embora, num parlamentarismo, o país não estaria envolvido na eterna discussão sobre o impeachment da presidente e de suas consequências.
Temer sabe também que há um gargalo na Previdência Social. Quando disse que iria enfrentar o tema, a presidente Dilma Rousseff esbarrou, sobretudo, nos seus aliados, que consideravam a discussão prematura, mesmo ciente de que esse assunto está posto há anos. No atual modelo, a Previdência é fadada à falência, deixando incerto o futuro dos jovens que hoje ingressam no mercado de trabalho. Para os analistas, o presidente em exercício tem que se mostrar, no máximo, nos três primeiros meses, enquanto tiver maioria no Congresso e simpatia das ruas. A partir daí, se se mantiver em estado de inércia, entrará prematuramente no inferno astral que afastou Dilma.