Acima da média
Números da violência no país são destaque em relatório da ONU, indicando que o enfrentamento à violência não se esgota na repressão
Um relatório elaborado pela Organização das Nações Unidas, divulgado na última segunda-feira, revelou que o Brasil tem a segunda maior taxa de homicídios da América do Sul e uma das maiores do mundo. De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes, o país registrou 30,5 crimes consumados contra a vida a cada grupo de cem mil habitantes. Tais dados só nos colocam atrás da Venezuela, país que há anos vive uma autêntica guerra civil. O estudo apontou também para o alto número de homicídios cometidos por policiais: em 2017, foram 1.599. Os agentes de segurança também são vítimas da violência: em 2017, foram 80 policiais mortos. O relatório trabalhou com dados oficiais, mas já desatualizados em razão da guerra urbana que se instalou em algumas metrópoles, como o Rio de Janeiro.
O Brasil está mal na fita, pois, ao lado da Nigéria, responde por 28% dos homicídios praticados no mundo, num claro aumento da letalidade. A Colômbia, durante anos um dos mais violentos países, viu seus números despencarem após acordo do Governo com as Farc. Tal situação, porém, não dá para replicar no Brasil, uma vez que não se trata de uma guerra de viés político. O tráfico de drogas responde pela maior parte dos crimes tanto para fora quanto para dentro, isto é, mata inocentes, mas também vive o confronto diário de concorrentes.
O estudo também traça um perfil das principais vítimas: homens entre 15 e 29 anos de idade correspondem a uma taxa média de 16,6 homicídios a cada grupo de cem mil habitantes, seguidos por homens com idade entre 30 e 44 anos, com taxa de 14,7. Tais dados não são desconhecidos, pois já estão em diversos estudos sobre a violência no país. A questão é como reverter esses números. Em Minas, uma das ações é o programa Fica Vivo, que envolve medidas repressivas, mas também passa por outras frentes, abordando aspectos sociais. As áreas mais críticas são, em sua maioria, regiões sem serviços para a comunidade: não há áreas de lazer, postos de saúde, escolas ou até mesmo igrejas. O Fica Vivo tenta remodelar tais espaços, mas é um trabalho de longo prazo e de incentivos permanentes.
Durante sua visita a Juiz de Fora, o governador Romeu Zema tinha na agenda uma visita ao projeto Travessia, instalado no Bairro Olavo Costa. É uma experiência de longa data que carece de recursos para ampliar suas ações. O Fica Vivo teria lá a sua base, mas tem que ser levado também para outras regiões nas quais o cenário de medo também é uma realidade.
Enquanto isso, no Congresso, tramita o pacote anticrime elaborado pela equipe do ministro Sérgio Moro. Se os parlamentares se dedicarem a uma análise forjada no interesse do país, a matéria deve ser aprovada ainda este ano. É o que se espera.