Pátria de chuteiras
Uso das cores do Brasil não pode ser apropriado ou rejeitado por conta do enfrentamento político
O maniqueísmo que se estabeleceu na política, fruto do enfrentamento de longa data entre o Partido dos Trabalhadores e o PSDB, produz, às vésperas da Copa do Mundo, um desconforto declarado em alguns setores por conta da apropriação de símbolos até então de uso coletivo independentemente do viés ideológico. Um deles é o amarelo da Seleção Brasileira, que emoldurava as ruas e as praças, especialmente, nos jogos do Brasil. Ao olhar da esquerda, ele, agora, se associa aos grupos de centro e de direita, que também foram às ruas em atos de protestos. O dilema de usá-las para apoiar o time de Tite não é um fato desconhecido ou de bastidores. Está na agenda das ruas.
A discussão, porém, deve mudar o foco. A despeito dessa suposta apropriação, as cores verde e amarelo são da Bandeira Nacional e representam as florestas e o ouro, e não entidades partidárias ou ideológicas. Radicalizar a esse limite não é a postura ideal quando há demandas mais importantes a serem discutidas. Ademais, as diferenças ideológicas, próprias e importantes para o embate democrático, não podem ser o mote da exclusão. Todos estão voltados para o sentido único da competição.
Com as redes sociais, o debate tornou-se um instrumento de enfrentamento. Os lados não debatem; cada um fala para o seu lado, criando um fosso que separa não apenas militantes, mas também amigos e até familiares. A sociedade pós-moderna tem um desafio e tanto pela frente, pois, à medida que a distância se amplia, maior é a possibilidade de surgimento de salvadores da pátria, que fazem do populismo um instrumento de convencimento.
A campanha eleitoral, e não a Copa do Mundo, será o momento em que eles mais se apresentam, aproveitando a emoção das candidaturas. Faz parte do processo, cabendo ao eleitor ficar atento ao que estarão colocando à mesa em seus programas de Governo. Quanto à Copa do Mundo, o momento, agora, é de todos olharem na mesma direção.