Prevenir é uma ação necessária
Boa parte dos municípios não tem estrutura para enfrentar as enchentes e nem políticas preventivas para preparar a população
Os pesquisadores da Genial/Quaest, que foram às ruas apurar o sentimento dos brasileiros em torno da tragédia do Rio Grande do Sul, além da majoritária solidariedade, constataram que a população, em consequência de tantos episódios, está convencida de que a maioria é resultado das mudanças climáticas. Entende haver uma total conexão com os temporais, enquanto outros 30% têm a mesma percepção, mas consideram a conexão parcial. Em ambos os cenários, porém, apontam o desmatamento como matriz dessa instabilidade. Os números estão no Painel, cuja coluna está ao lado nesta mesma página.
No mesmo levantamento, os pesquisados apontaram a leniência das instâncias de poder na execução de obras e investimentos em infraestrutura. Apenas 30% acreditam que nada poderia ter sido feito, uma vez que o que ocorreu era inevitável. A maioria entende que há uma série de medidas que, se executadas, pelo menos mitigariam os danos.
É necessário destacar, porém, que o caso do Rio Grande do Sul é atípico por afetar um estado inteiro, mas não é isolado. Em 2020, por exemplo, chuvas prolongadas também causaram deslocamento de pessoas e mortes no estado. Além disso, a região enfrentou uma situação semelhante em março de 2023, quando fortes chuvas danificaram casas e infraestrutura, resultando em mortes e deslocamentos.
Pelo país afora, todos os anos, especialmente entre janeiro e fevereiro, são registradas situações graves. Foi assim na Região Serrana do Rio de Janeiro e na região de São Sebastião, no litoral paulista, para ficar apenas nesses dois casos. Foram desastres localizados em pontos específicos. No caso gaúcho, não. O fenômeno foi alcance estadual que terá repercussões por anos ante a situação de cidades que, mais do que investimentos, terão que ser reconstruídas.
A ausência de ações preventivas é real. As comportas da bacia do Guaíba, que recebe os rios que cortam a região de Porto Alegre, deveriam passar por revisões frequentes. Há casos de municípios que já passaram por situações semelhantes, mas não se preparam para novos episódios.
Este é o retrato do Brasil. A maior parte dos 5.500 municípios não tem estrutura para enfrentar grandes eventos climáticos, e medidas só são tomadas depois de terem acontecido, num processo de reação em vez de ação. Na vizinha Região Serrana do Rio de Janeiro, mudam os governos e o problema permanece, ignorando tragédias como a de 2011 na qual 900 pessoas morreram. Há três anos mais de uma centena perdeu a vida pelas mesmas questões.
As chuvas têm um viés sazonal que permite aos governos se anteciparem adotando medidas envolvendo planejamento urbano e infraestrutura resiliente, que possam resistir a evento extremos. Isso inclui a construção de barreiras de enchentes, sistemas de drenagem aprimorados e estradas e pontes reforçadas.
A adoção de sistemas de alerta precoce e comunicação eficaz também são ferramentas importantes, por permitirem à população ações se prevenir ante as intempéries. Em regiões críticas, os sistemas de alerta salvam vidas. Para tanto, a população também deve estar preparada para agir em casos de desastres naturais. É notável o papel dos voluntários que se deslocaram de várias partes do país para atender aos flagelados, mas os governos devem implementar processos de educação e preparação da comunidade para que esta esteja sempre pronta para responder de maneira eficaz quando os desastres ocorrerem.