Briga pelo poder
Partidos já se articulam para ocupar espaços no Governo, mas presidente eleito terá que pacificar sua própria base para evitar problemas futuros
Os velhos cardeais da política dizem que o melhor momento para os vencedores se situa entre a proclamação dos resultados e a posse. Depois disso, só os problemas permanecem, pois gerenciar prefeituras, governos estaduais e a Presidência da República não é um exercício simples. É preciso ter paciência e perseverança, sobretudo quando se trata de um processo em que a aprovação de matérias depende, necessariamente, de articulações com o Parlamento. A diferença entre gestões é o modo como essas conversas se desenvolvem. Em alguns momentos, como apontam os escândalos ora desvendados pelas operações da Polícia Federal e do Ministério Público, elas foram realizadas de forma distante do viés republicano, num processo de toma lá, dá cá, em que as duas partes ganham e a sociedade perde.
Político de longo trânsito na Câmara Federal, por onde atuou por mais de 20 anos, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, a despeito de tudo o que foi dito em campanha, começa a enfrentar dificuldades, curiosamente em seu próprio partido, no qual uma guerra pelo WhatsApp explicitou divergências e brigas pelos espaços do poder. Certamente deverá chamar seus correligionários para uma conversa, a fim de garantir que tal comportamento não se alastre pelos demais componentes de sua base política.
A briga por espaços é quase um processo humano, no qual o homem tenta ocupar postos para defender interesses, uns sob a marca do particular, outros de coletivos. O que deve ocorrer em tais situações é dar transparência ao debate, a fim de assegurar que não ocorram vícios que levem à corrupção. Sem isso, o presidente eleito corre o risco de ir pela mesma trilha dos antecessores. Mesmo eivados de boas intenções, tiveram que ceder dedos e anéis para garantir a aprovação de seus projetos. Bolsonaro garantiu que tudo será diferente, mas não precisa tirar de cena a política, pois, além de ser necessária, é a via mais adequada de transformação. A forma é que tem que ser mudada.
A escolha da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, pastora Dalamares Alves, foi uma aposta distante dos partidos, mas haverá a sombra do senador Magno Malta, que acabou ficando fora do Governo. As posições da ministra são as mesmas do Governo, o que é do jogo, mas a questão é saber se ela irá seguir a cartilha do Governo ou de seu líder, de quem foi assessora por muitos anos. A segunda opção contraria o próprio discurso do presidente. Mas só o tempo dirá.