Boas histórias
No meio de tantas mazelas, é necessário destacar boas ações, que, mesmo não sendo virtudes, devem servir de exemplo
Ser honesto não é virtude, mas, no meio de tantas mazelas, sobretudo na instância política, que vive num cenário de corrupção sem fim, ainda é possível contar boas histórias. Na edição de sexta-feira (7), a Tribuna mostrou o drama do aposentado Amaury Ângelo Escarati. No dia 6 de abril deste ano, ele viu sua vida virar de ponta cabeça ao receber uma notificação de um oficial de Justiça. Estava sendo acusado de praticar o furto de uma bicicleta no município de José do Patrocínio, interior de São Paulo, a cerca de mil quilômetros de Juiz de Fora. Mas a história não fechava: Amaury nunca foi e nem tinha ouvido falar de tal cidade, mas estava na mira do Ministério Público.
Ele revelou que, em 2005, teve os documentos furtados, registrou a ocorrência e tocou a vida para a frente, mas jamais poderia imaginar as esquinas do destino. A notificação era clara: seria ele o autor do furto. Aconselhado pelo próprio oficial de Justiça a procurar auxílio de advogados, Amaury foi à luta. A história só teve fim quando, numa audiência de instrução e julgamento, em José do Patrocínio, ele ficou de frente para a vítima que, de imediato, disse ao juiz não ser ele o autor do crime, mesmo tendo se passado tanto tempo.
A história poderia ter terminado aí, mas é nesse ponto que começa a despontar o lado bom da vida. Amaury, sensibilizado pelo drama do garoto, já de volta a Juiz de Fora, usou a internet e adquiriu uma “bike” para o garoto, pois, agora, era o seu meio de trabalho. O presente foi entregue no dia 26 de junho, e o agradecimento veio por meio de uma foto, na qual ele estava usando o equipamento. Amaury é o exemplo que falta para os personagens das tantas operações do Ministério Público e da Polícia Federal. Deveriam segui-lo.
Mas há mais. No início da semana, o trocador Anderson dos Santos e o motorista Saulo Gage dos Reis, que trabalham na linha Bairro Jardim Esperança – Centro, receberam de um passageiro uma bolsa que este tinha achado num banco. Nela estavam R$ 4 mil e um boleto bancário. Por meio deste, localizaram o verdadeiro dono e, sem qualquer dúvida, devolveram o dinheiro. Os dois e o anônimo passageiro são a face que deveria ser rotina num sociedade ora alarmada por tantas denúncias desse jogo de ambição desmedida.