Gesto extremo
O atentado contra o deputado Jair Bolsonaro atinge a própria democracia, pois significa intolerância em vez do contraditório
O ataque ao candidato Jair Bolsonaro foi um atentado à própria democracia, pois, a despeito do discurso extremado do parlamentar do PSL, nada justifica um gesto tão grave. As diferenças devem ser tiradas no debate, e não em atos violentos, pois não é esse o cerne de uma disputa eleitoral. Os demais pretendentes à Presidência e aos governos estaduais que se manifestaram sobre o atentado têm razão em condenar o crime, uma vez que o Brasil não tem histórico de agressão aos postulantes a cargos públicos, e Juiz de Fora, que lamentavelmente foi o local dessa quadra, menos ainda. Ao contrário, o juiz-forano tem uma tradição de militância, mas sempre dentro dos limites impostos pela democracia. Foi assim na campanha das Diretas e em outras jornadas que mobilizaram as ruas.
É cedo aferir as consequências políticas do atentado, mas certamente ele entrará na pauta dos palanques. Mas é temerário considerar que foi um gesto deliberado com esse fim. O autor, pelos primeiros indícios, não tem ficha policial, mas em postagens pelas redes sociais se mostra avesso aos políticos de modo geral.
Ante uma situação como essa, o discurso de “nós contra eles” tem que sair de cena, pois exacerbar os ânimos a menos de um mês para as eleições é contribuir para o impasse, e não para a decisão livre das ruas. De que o país menos precisa, agora, é a opção pelo enfrentamento em vez da boa política. Os atos extremos só produzem outros enfrentamentos que quase sempre culminam em situações de risco.
Há quatro anos, em meio à campanha, o país registrou a morte do candidato Eduardo Campos (PSB) durante um acidente aéreo. Agora, o atentado traz de novo a sombra da preocupação. Eleições são para ser celebradas, mas o gesto dessa quinta-feira foi para o caminho inverso.