Pódio olímpico
Projeto quer dar isenção de impostos a medalhistas olímpicos, mas a melhor alternativa é um projeto que contemple o incentivo ao esporte e para todos
Ex-atleta do nado livre e tendo disputado duas olimpíadas, o deputado federal Luiz Lima (PL-RJ) apresentou projeto de lei que estabelece a isenção de imposto de renda sobre a premiação paga pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) para os medalhistas olímpicos. Na sua justificativa, o parlamentar salienta que a medida tem como meta valorizar o esporte e apoiar os atletas.
As intenções do deputado podem ser boas, sobretudo num momento em que o país se faz representar nos jogos na França que envolvem atletas de todas as partes do mundo. Conquistar medalhas numa competição de tamanha relevância é, de fato, um feito e tanto, mas não dá para sustentar a tese da isenção do Imposto de Renda quando todos os demais estão debaixo da mesma lei.
Há quem considere a proposta como um mero gesto de demagogia, mas é possível dar o benefício a dúvida ao parlamentar que já representou o país em duas competições e conhece de perto o sonho da medalha, mas seria uma ação temerária por abrir portas para outras isenções.
A despeito das restrições, não será surpresa se o projeto passar pelo Congresso com aval de políticos da base governista e da oposição. O faro político aponta para o momento e para as repercussões futuras, daí o interesse de se colocar a matéria em votação em tempo recorde.
O Congresso, no entanto, em vez da isenção, deveria trabalhar com projetos que promovam o esporte como um todo, pois a norma, nesse caso, só beneficia uma parcela mínima de atletas, quando se sabe que a grande maioria carece de incentivos e benefícios para levar a carreira adiante.
Muitos atletas são patrocinados pelo setor privado e por mecenas, o que tira do benefício milhares de pessoas que, sobretudo nas periferias, deveriam ter mais chance para se apresentar.
O esporte faz parte do pacote de ações que carecem de prioridade. Ele produz integração e, sobretudo, dá um novo sentido a pessoas com fragilidade social. Assim, o deputado, em vez da isenção, deveria se somar aos parlamentares que atuam em causas que atendam a um público bem mais amplo.
Desta forma, estaria não apenas premiando, mas também mudando expectativas e alterando vidas. O esporte é vida, é saúde, é integração, não havendo, pois, uma causa mais justa como essa.
Os medalhistas olímpicos são referência para outros tantos que não tiveram melhor sorte ou que ficaram fora da competição. Devem, sim, ser utilizados como exemplos de sucesso e do trabalho intenso ao qual se submetem para chegar ao pódio. Outros tantos, se tiverem chance, estão dispostos a cumprir a mesma jornada, e a política pode ajudar. E muito.