Guerra urbana
Atlas da Violência é um documento emblemático, pois aponta para a insegurança que se tornou rotina pelo país afora, sem uma resposta no mesmo padrão do Estado
O Brasil tem números de guerra. O Atlas da Violência 2018, divulgado na terça-feira e produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que a taxa de homicídios em 2016 chegou a 30,3 por cem mil. Em Juiz de Fora, o índice caiu, mas, como no resto do país, continua sendo um flagelo, sobretudo na faixa etária de 15 a 29 anos. O documento é uma testemunha real do pouco envolvimento do Estado em políticas públicas voltadas para o combate à violência, cujo foco tem sido mais pelo viés repressivo do que preventivo. Para tanto, as instâncias de poder têm que atuar coordenadas, o que ainda é um problema, sobretudo quando se sabe que um banco nacional de dados ainda é uma utopia em boa parte da federação.
Desde as suas primeiras edições, o Atlas tem mostrado que o Brasil é um país perigoso. Essa posição se amplia quando são colocados também os dados dos crimes contra o patrimônio. Se em algumas cidades se comemora a redução dos homicídios, os furtos e os roubos continuam no topo da pirâmide. Ainda há um longo caminho a ser percorrido.
A receita é conhecida: menos armas nas ruas, o que exige um controle mais rígido, a despeito das campanhas para ampliação do porte; mais investimentos sociais, com políticas que envolvam emprego e renda, oportunidades e lazer. Muitos jovens são atraídos pelo crime pelo lado lúdico da facilidade e da identificação, o que faz deles agentes do tráfico, ora engrossando as listas de vítimas, ora de autores de crimes contra a vida.
Com uma campanha eleitoral em curso, cria-se uma boa chance para perguntar aos candidatos o que pensam sobre o assunto. A intervenção no Rio de Janeiro, vista como solução para todos os males, ainda não produziu os resultados esperados. Ao contrário, a violência aumentou, sobretudo nos crimes contra o patrimônio. Quando de sua adoção, poucos se envolveram no debate, mas deverão ser cobrados, pois a segurança pública tornou-se um dos temas do alto da lista de prioridade da população.
No caso de Juiz de Fora, a queda de homicídios é um fato acompanhado pela Tribuna e deve ser destacado, mas, a despeito dos esforços dos agentes públicos – e são expressivas as suas ações -, ainda não é possível comemorar, mesmo estando o município em situação bem mais confortável do que os de seu porte em Minas Gerais.