Paradoxo nas urnas
Uma pesquisa elaborada pela Inter-Parlamentary Union – uma associação de legislativos nacionais de todo o mundo – indicou que o Brasil ocupa o 154º lugar entre 193 países com menor representação feminina na política. Tal dado, apresentado no Painel desse sábado, é a constatação de uma questão que há tempos ocupa espaço no debate político, principalmente pelo paradoxo que contém. As mulheres são maioria da população, saem na frente na conformação dos colégios eleitorais, mas não têm a mesma representatividade nas casas legislativas de todas as instâncias. A Câmara Municipal de Juiz de Fora celebrou com pompas a eleição de duas mulheres no pleito de 2016, por ser algo praticamente inédito, repetido apenas uma vez. Também em Juiz de Fora, o sexo feminino prevalece entre os eleitores.
São muitas as versões para tal cenário, mas o que incomoda não são as explicações, e sim a implementação. Até hoje essa curva não foi revertida, mesmo em tempos de empoderamento feminino. As mulheres ganham cada vez mais espaço nas instâncias de decisão – ainda insuficiente -, mas não replicam essa ascensão na política.
No Senado Federal, com 81 senadores, 12 cadeiras são ocupadas por mulheres (14,81%). Já na Câmara dos Deputados, dos 513 eleitos, 51 mulheres atuam como representantes do povo (9,94%). São, portanto, 63 mulheres dentre as 594 cadeiras do Congresso Nacional (10,6%). Não há nenhuma proporção com o estrato social, o que levou à criação das cotas. Os partidos foram obrigados a ceder 30% de suas vagas de candidatos para representantes do sexo feminino. O que seria uma saída tornou-se um problema, pois, em não havendo quórum, os partidos são obrigados a apresentar uma lista reduzida de candidatos ou adotar a artificialidade de indicar personagens apenas para completar o grupo.
É necessário insistir nessa questão, a fim de equilibrar o jogo e, de fato, preencher os legislativos de acordo com a proporção nas ruas. Para isso, porém, é fundamental, também, levar a discussão para os fóruns adequados, a fim de apontar para o eleitor que o voto deve ser dado a quem melhor lhe representa independentemente do gênero.