Áreas ocupadas
Ação da PM no Bairro Jardim Natal é um dado relevante, mas o Estado precisa implementar outras medidas, como investimentos sociais, para evitar a propagação do crime e reverter a sensação de insegurança que afeta a população
No Rio de Janeiro, e não apenas na capital, a ocupação de território pelo crime organizado é uma rotina, bastando um breve acompanhamento do noticiário para tal constatação, sendo que há, ainda, o agravamento das milícias, que tomaram várias regiões, expulsando especialmente os traficantes, mas fazendo ações semelhantes, como cobrar pedágio e serviços da população, numa clara falência dos equipamentos do Estado. Uma reação, na última quinta-feira, levou cerca de 50 milicianos para o cárcere, mas nada indica a solução do problema que passa não apenas pelo afastamento dos criminosos, mas também por medidas de impacto social.
Juiz de Fora está longe desse cenário, mas não pode dar margem para qualquer dúvida. Na última quinta-feira, policiais militares ocuparam o Bairro Jardim Natal, Zona Norte da cidade, depois que duas pessoas foram agredidas, sendo que uma delas teria tido as unhas arrancadas pelos infratores, como uma espécie de punição por não se submeterem ao controle. Os PMs destacaram que em Juiz de Fora esse tipo de ação não prospera, a despeito de até uma barreira ter sido instalada na parte mais alta do bairro e retirada, posteriormente, por máquinas da Prefeitura.
Quando secretário de Segurança de Minas Gerais, o ex-deputado Mauro Lopes fazia questão de dizer com frequência que, em Minas, criminosos não deitavam fama, indicando que o cenário fluminense, que durante muitos anos glamourizou famosos chefes de facções, não se repetiria no outro lado da divisa. De fato, no estado, a despeito da propagação das redes sociais, os chamados famosos não ampliam suas influências perante o poder de reação do Estado. O que ora ocorreu no Jardim Natal pode ser replicado em outras zonas quentes, sobretudo se houver avanço em projetos do Estado, como o Fica Vivo, cujo foco principal é o combate aos crimes consumados e tentados contra a vida.
Em sua passagem por Juiz de Fora, o governador Romeu Zema teve a oportunidade de conhecer o projeto Travessia, que tem uma importante ação social numa das regiões mais críticas da cidade, a Vila Olavo Costa. Ele seria, também, a porta de entrada do Fica Vivo, pois sua implementação não se esgota na repressão. Ele também implica medidas de atendimento social e de lazer, pois só dessa maneira será possível atender aos anseios da comunidade. A ocupação é um dado relevante, mas não pode ser permanente. As ações sociais, sim. Precisam permanecer a fim de reverter as expectativas comunitárias e mudar a leitura da população, que se sente abandonada pelo Estado.
A segurança, a saúde e a educação são agendas estratégicas para virada do jogo, daí a importância de se acompanhar de perto a evolução dos programas e garantir sua execução, sem os riscos de outros projetos que são anunciados, mas não chegam a sair do papel.