Fogo nos palanques
Incêndio no Museu Nacional deu margem ao seu uso político por candidatos no jogo de palanques em que acusar o outro tornou-se uma estratégia de campanha
As chamas mal foram apagadas, e os políticos já levaram o incêndio do Museu Nacional para o palanque. O governador Fernando Pimentel acusou seu adversário direto, Antonio Anastasia, de ter votado a favor da PEC do teto de gastos que cortou recursos para vários serviços, e incluiu entre eles os museus. O tucano, por seu lado, disse que o discurso do adversário era para rir, tal a falta de fundamento, e lembrou os 14 anos do governo petista, que, no seu entendimento, não fez nada para garantir a memória nacional. Esse enfrentamento, certamente, vai se reproduzir entre os presidenciáveis e deve entrar na agenda dos candidatos ao Governo do Rio, palco do sinistro.
As campanhas eleitorais têm essa característica, pois os candidatos acham que apontar o dedo para o concorrente é a melhor estratégia. Nem sempre dá certo, pois o eleitor já não cai mais nesse enredo, sobretudo por saber que a tática do ataque é uma mera estratégia de se defender. E mais, quando percebe que determinado candidato é alvo de críticas coletivas, tende a voltar sua atenção para este, por entender que ninguém apanha de graça. Os marqueteiros já perceberam isso e orientam para o viés propositivo, isto é, em vez de perder tempo falando mal do outro, o melhor a fazer é apresentar o que pretende fazer. Mas nem todos entendem isso.
Colocar o incêndio na pauta só faz sentido se for ampliada a discussão da falta de investimentos na cultura, por exemplo. O ministério tem sido desidratado no decorrer dos anos por força de contingenciamentos, mas também por ser visto como uma pasta de menor porte, que não interessa aos partidos que participam do loteamento do poder. Esse equívoco tem sido trágico para o setor, que perdeu o seu poder de arregimentação de projetos e de cumprir metas como a segurança dos museus. O que ocorreu no Rio foi uma tragédia anunciada, que pode se reproduzir em qualquer outro museu do país. Em 2015, o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, também foi atingido pelas chamas e só voltou a funcionar este ano. O de Juiz de Fora passa por obras de décadas, que não têm o ritmo adequado pela falta de verbas.
Esse é um cenário que deveria ser levado em conta, pois, como já foi dito neste mesmo espaço, um país que não zela pela sua história é fadado a fracassos no futuro.