Menos pesquisa, mais votos

O corte nas verbas de pesquisa ocorre no mesmo momento em que é anunciado o Fundo Partidário cada vez maior para garantir a ação dos partidos no pleito de 2020


Por Tribuna

04/09/2019 às 06h58

Por recomendação da área econômica, o Governo bloqueou R$ 544 milhões da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), implicando o cancelamento de cerca de 5.500 bolsas para pesquisa. O dado é grave, pois o recurso é tirado de uma área estratégica, uma vez que, sem pesquisa, há problemas na competição global. O congelamento, que começou a vigorar este mês, soma-se a outras 6.198 bolsas que haviam sido bloqueadas no primeiro semestre do ano. A Capes argumenta que o corte foi realizado para garantir o pagamento dos bolsas que estão em vigor.

Por outro lado, cumprindo determinação da Justiça Eleitoral, o Governo vai disponibilizar R$ 2,5 bilhões para o Fundo Eleitoral a ser aplicado nas eleições municipais do ano que vem. O valor é expressivo e soa como um escárnio diante dos cortes para a pesquisa, mas ainda foi considerado baixo pelos parlamentares. No início de agosto, a comissão do Congresso que analisa o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) havia sugerido o valor global de R$ 3,7 bilhões.

O financiamento de campanha ficou mal resolvido no arremedo de reforma política aprovado pelo próprio Congresso. As doações empresariais foram cortadas, e criou-se um vácuo no processo, uma vez que vários políticos tinham nesse instrumento a principal base para suas campanhas. Em vez de aprimorar, o modelo foi plenamente rejeitado, dando margem ao jogo de fundo, pelo qual passa o dinheiro não declarado.

O lado perverso do fundo não é a sua proporcionalidade, que hoje beneficia especialmente o PSL e o Partido dos Trabalhadores, por terem as maiores bancadas na Câmara Federal, e sim a aplicação dos recursos nas bases. Boa parte dos candidatos passa longe do dinheiro, drenado, em boa parte, para as candidaturas com maior potencial de voto ou para os caciques partidários. A distribuição interna ainda é um problema não resolvido pelas próprias agremiações.

Como não há indícios de mudança, pois a conversa sobre uma reforma política mais ampla ficou para o segundo plano, a alternativa é acompanhar de perto o destino do dinheiro, o que só será possível com ação efetiva dos tribunais de contas e do Ministério Público Eleitoral. Mesmo com o papel importante das redes sociais, o pleito ainda é decidido a favor dos políticos com maior potencial financeiro, capaz de garantir suas campanhas com maior consistência.

 

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