História perdida
Destruição do Museu Nacional deve servir de alerta para outros espaços que conservam a história do país, ora em risco pela falta de investimentos
Certamente, a proteção dos museus vai entrar na pauta dos candidatos à Presidência e aos governos estaduais, mas esse tema só ganha relevância eleitoral após a tragédia no Rio de Janeiro com a destruição do acervo do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista. Com 200 anos, ele conservava boa parte da memória nacional, mas a falta de investimentos, principalmente na segurança, era visível. Há algum tempo, os responsáveis pelo espaço já vinham cobrando investimentos, mas estes ainda estão no papel.
E, como em eventos de tal porte há sempre um debate em torno de responsabilidades, o reitor da UFRJ acusou os bombeiros de atuarem sem a mínima logística para enfrentar um sinistro de tamanha magnitude, mas não entrou no mérito com a constatação de os hidrantes em torno do prédio estarem sem água, algo grave por conta do patrimônio que estava em risco. O fato a considerar é que não há como recuperar o que foi perdido, salvo a estrutura do prédio, que ainda pode ser restaurada. Para tanto, porém, é preciso haver mais recursos. O Governo federal diz que as obras já começam esta semana, mas o discurso soa mais como uma satisfação à opinião pública do que um dado concreto.
Um país tem pouco sucesso no futuro quando se desconecta do seu passado. Deixar a cultura em segundo plano é um erro comum na agenda dos políticos, quando a história de um povo deve ser referência para as ações do presente e do que virá pela frente. No museu, por exemplo, estava a história constitucional do Brasil, que deve ser considerada num momento em que a Carta de 1988, que completa 30 anos, e seus artigos estão em discussão.
Provavelmente, a conservação dos museus será discutida daqui por diante, mas não é o único ponto. Os dirigentes precisam envolver-se numa agenda mais ampla, embora entendam que falar de saúde, segurança e educação já basta. Ledo equívoco. A pauta do Governo não se esgota em agendas que podem até ser prioritárias pela sua repercussão nas ruas, mas é fundamental avaliar que o Brasil é um país com mais de 200 milhões de habitantes, com uma história de pouco mais de cinco séculos, mas rica em seu conteúdo e que precisa ser preservada nos museus de todos os portes espalhados por todo o território.