Passo atrás


Por Juliana Netto

04/04/2017 às 08h17

Em entrevista à Tribuna, publicada na edição de domingo, o professor da Universidade de Tulane, em Nova Orleans, no EUA, Mauro Porto observou que os episódios dos últimos anos no Brasil são surpreendentes e incompreensíveis para a comunidade acadêmica brasileira e do exterior. Doutor em comunicação social pela Universidade da Califórnia, ele abordou o cenário nacional e as ameaças a preceitos democráticos com a polarização social e a crescente onda conservadora mundial. Mas o que mais chamou a atenção foram as conclusões apresentadas durante a conversa com o repórter Renato Salles: todas são de conhecimento geral, a despeito dessa incompreensão. Há anos se fala dos impasses sociais dirimidos, especialmente, na gestão Lula, e que acabaram se tornando um problema ante a reação do andar de cima. É fundamental manter o tema na ordem do dia, a fim de garantir acesso coletivo, como em alguns países em que esse fosso é menor.

O professor Mauro Porto também defendeu a reforma política. Este tema também está há tempos na agenda das ruas sem que a classe política se desse conta da sua importância. Ou melhor, ela sabe dessa necessidade, mas reage no sentido contrário, contabilizando ações protelatórias que impedem o aprofundamento da necessária mudança. As poucas realizadas são panaceias, a despeito do desgaste do atual modelo, que culminou com empresários e lideranças políticas presas em decorrência do uso indevido do financiamento de campanha. O modelo, a despeito de estar esgotado, não avança, e, só agora, por conta da operação Lava Jato, se fala em alguns pontos que já deveriam ter sido mudados, como o próprio financiamento e a redução do número de partidos.

O professor tem razão ao enfatizar que as soluções não devem ser simplistas, mas seu discurso mostrou, principalmente, que todos sabem o que deve ser feito. A questão – e este é o nó górdio – é a vontade de implementar as mudanças. A pressão das ruas tem sido o indutor de algumas medidas, mas os políticos devem ser convencidos de que, em não havendo mudanças, darão margem ao avanço do discurso demagógico, com o surgimento de salvadores da pátria, que, no fundo, serão um passo atrás para o país.

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