Dedos e anéis
Na reta final das convenções, partidos fazem concessões para conservar seus espaços de poder; nem sempre há combinação com as bases
O gesto da direção nacional do PSB de afastar a candidatura de Marcio Lacerda ao Governo de Minas pode ter sido feito da pior maneira possível, mas não foi de todo uma surpresa. Desde o início das articulações para formação dos palanques nos estados, já se sabia do interesse do PT em desmobilizar o projeto socialista em Minas, dando como contrapartida apoio à candidatura à reeleição do governador de Pernambuco, Paulo Câmara. Para tanto, o PT tirou da lista o nome da vereadora Marília Arraes, mesmo sabendo de sua boa cotação nas pesquisas eleitorais. Enquanto estava esse zero a zero, o PSB segurou a onda e manteve o projeto de Lacerda sob o argumento de ter fortes chances de ser a terceira via, mas o jogo começou a ser jogado pelos pesos-pesados da política nacional. O PT tinha que neutralizar o crescimento da candidatura de Ciro Gomes, que estava em negociações com o PSB, daí, desempatou o jogo.
Lacerda ainda faz uso do jus sperniandi e garantiu, durante entrevista em Belo Horizonte, que vai manter a convenção prevista para este fim de semana e se apresentará aos mineiros como candidato ao Governo. Está disposto a recorrer até a Justiça Eleitoral se o impasse não for superado. Como o registro das candidaturas se esgota no dia 15, o imbróglio, mesmo se cair na instância judicial, tem que ser resolvido em pouco mais de uma semana.
O que ocorre em Minas se replica pelo país afora, pois se trata de um modelo de articulação que vem de anos. Ceder os anéis para não perder os dedos ou fazer concessões para ganhar na frente são práticas que vencem vários pleitos e que, certamente, vão continuar ocorrendo, sobretudo por não haver impedimento legal para a sua consecução. O lado ético é outra coisa, mas em política a velha máxima dos fins justificando os meios é uma rotina.