Reforma interna
A reforma política tem que criar mecanismos de depuração dos partidos, hoje mais voltados para interesses individuais de suas lideranças do que para seus programas de governo
As discussões em torno do Ministério Público, de novo no centro de uma polêmica com o ministro do Supremo Gilmar Mendes – que considerou atos de loucura as recentes ações do procurador Rodrigo Janot -, não encerram o ciclo de tensão que perpassa o noticiário político. Os partidos, diante do envolvimento de algumas de suas lideranças nos escândalos da Lava Jato, também estão revendo conceitos e se preparando para profundas mudanças internas. E não há outro caminho se quiserem ir à frente, defendendo o que está escrito em seus programas. O PSDB inaugurou um grupo dissidente intitulado Mário Covas, numa referência ao ex-senador e governador de São Paulo, que marcou sua carreira pela intransigência contra a corrupção, disposto a mexer nas estruturas hoje comandadas pelo senador Aécio Neves. Na mira do Ministério Público, o senador mineiro está perdendo espaço, e seus críticos tucanos acham que, em permanecendo na presidência do diretório nacional, ele está levando o partido para o buraco.
São questões internas, mas suficientes para indicar o novo movimento que não se esgota no PSDB. O próprio Partido dos Trabalhadores, que nos últimos anos divide com os tucanos o protagonismo político – ambos tendo o PMDB como linha auxiliar -, também passa por esse tipo de inflexão. Com o ex-presidente Lula condenado em primeira instância por causa do triplex no Guarujá e agora réu no caso do sítio de Atibaia, não se sabe em que condições – como Aécio – ele chegará às eleições de 2018. E, sem Lula, quem seria o seu sucessor na disputa presidencial? O tema não chega às ruas, mas ocupa corações e mentes de próceres da legenda, preocupados com o futuro e com as dissidências cada vez maiores de grupos mais à esquerda.
Ora no poder, o PMDB atua como biruta de aeroporto. Deu apoio a Fernando Henrique nos seus dois mandatos e fechou com Lula nas suas duas gestões, repetindo o gesto no ciclo Dilma Rousseff. Na hora mais sombria, tirou a escada e assumiu o poder com Michel Temer. Tal operação, porém, não lhe garante permanência no topo depois de 2018, por conta do viés federativo que adota desde sempre: o PMDB nacional não é o de Minas, e muitos menos o de Juiz de Fora se assemelha a ambos. Esse cenário se repete em outras regiões, apontando a necessidade da reforma política profunda, que não deve mexer apenas nas regras eleitorais, mas também na conformação partidária, hoje desengajada – salvo as exceções – de qualquer viés ideológico.