Reforma interna

A reforma política tem que criar mecanismos de depuração dos partidos, hoje mais voltados para interesses individuais de suas lideranças do que para seus programas de governo


Por Tribuna

03/08/2017 às 06h00- Atualizada 03/08/2017 às 07h37

As discussões em torno do Ministério Público, de novo no centro de uma polêmica com o ministro do Supremo Gilmar Mendes – que considerou atos de loucura as recentes ações do procurador Rodrigo Janot -, não encerram o ciclo de tensão que perpassa o noticiário político. Os partidos, diante do envolvimento de algumas de suas lideranças nos escândalos da Lava Jato, também estão revendo conceitos e se preparando para profundas mudanças internas. E não há outro caminho se quiserem ir à frente, defendendo o que está escrito em seus programas. O PSDB inaugurou um grupo dissidente intitulado Mário Covas, numa referência ao ex-senador e governador de São Paulo, que marcou sua carreira pela intransigência contra a corrupção, disposto a mexer nas estruturas hoje comandadas pelo senador Aécio Neves. Na mira do Ministério Público, o senador mineiro está perdendo espaço, e seus críticos tucanos acham que, em permanecendo na presidência do diretório nacional, ele está levando o partido para o buraco.

São questões internas, mas suficientes para indicar o novo movimento que não se esgota no PSDB. O próprio Partido dos Trabalhadores, que nos últimos anos divide com os tucanos o protagonismo político – ambos tendo o PMDB como linha auxiliar -, também passa por esse tipo de inflexão. Com o ex-presidente Lula condenado em primeira instância por causa do triplex no Guarujá e agora réu no caso do sítio de Atibaia, não se sabe em que condições – como Aécio – ele chegará às eleições de 2018. E, sem Lula, quem seria o seu sucessor na disputa presidencial? O tema não chega às ruas, mas ocupa corações e mentes de próceres da legenda, preocupados com o futuro e com as dissidências cada vez maiores de grupos mais à esquerda.

Ora no poder, o PMDB atua como biruta de aeroporto. Deu apoio a Fernando Henrique nos seus dois mandatos e fechou com Lula nas suas duas gestões, repetindo o gesto no ciclo Dilma Rousseff. Na hora mais sombria, tirou a escada e assumiu o poder com Michel Temer. Tal operação, porém, não lhe garante permanência no topo depois de 2018, por conta do viés federativo que adota desde sempre: o PMDB nacional não é o de Minas, e muitos menos o de Juiz de Fora se assemelha a ambos. Esse cenário se repete em outras regiões, apontando a necessidade da reforma política profunda, que não deve mexer apenas nas regras eleitorais, mas também na conformação partidária, hoje desengajada – salvo as exceções – de qualquer viés ideológico.

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