Os desafios de Moro

Futuro ministro da Justiça terá pela frente uma ampla pauta, sobretudo na área de segurança, uma das prioridades do presidente eleito Jair Bolsonaro


Por Tribuna

02/11/2018 às 07h00- Atualizada 05/11/2018 às 21h43

Ao aceitar o convite do presidente eleito Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Justiça, que terá suas atribuições ampliadas, o juiz Sérgio Moro inaugura uma nova etapa na sua vida profissional e adiciona ao debate o papel que irá desempenhar na próxima estrutura de poder. Sabe-se que Bolsonaro, na conversa que tiveram na manhã dessa quinta-feira, destacou sua preocupação com o combate à corrupção e ao crime organizado, bandeiras, aliás, que o magistrado também encampa. Resta saber, então, como esse trabalho será desenvolvido.

Moro tem afinidade com as duas questões, mas o ministério tem atribuições que vão além delas. Ele terá que zelar, por exemplo, para que o amplo e necessário trabalho de investigação não faça do país um estado policialesco. Ao contrário, terá que mostrar que quem investiga e prende são os agentes da lei, e não o cidadão comum, como os que se arvoraram, já no primeiro momento, a sair dizendo que irão fazer isso ou aquilo, ou justiça pelas próprias mãos.

O futuro ministro da Justiça tem afinidade com a Polícia Federal e deverá ampliar suas atribuições e dar lhe condições para desenvolver suas ações, mas é fundamental que olhe também para os estados, cujo esquema de segurança passa por sérias dificuldades. Em Minas, por exemplo, a Polícia Civil está sucateada e seus quadros desidratados ante a falta de concurso para recuperação do efetivo. Há muito tempo as aposentadorias não têm sido cobertas por novos profissionais, deixando um passivo em várias frentes espalhadas pelo estado afora. Juiz de Fora é um desses municípios afetados pela falta de mão de obra.

Outra questão é o modo como Moro irá trabalhar. Bolsonaro, do alto dos seus 57 milhões de votos, representa a expectativa de um país inteiro em torno de temas relevantes. O futuro ministro, por sua vez, já se notabilizou por suas ações na Lava Jato, a qual, necessariamente, tem que deixar, e já, para evitar especulações sobre o seu papel, embora elas já estejam nas ruas e virando demanda nos tribunais. Trata-se, aí, de um gesto mais político do que técnico, pois, ao tempo em que esteve à frente da 13ª Vara da Justiça Federal, o magistrado manteve-se distante dos candidatos e não se sabia, sequer, quem seria o futuro presidente do país.

 

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