O custo do apoio
Governo joga todas as suas fichas na aprovação do parecer do deputado Paulo Abi-Ackel, que pede o arquivamento da denúncia contra o presidente Michel Temer
Salvo os contratempos próprios da política, que levam à mudança de agenda, a Câmara dos Deputados vota nesta quarta-feira o relatório do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) pedindo o arquivamento da denúncia contra o presidente Michel Temer, formulada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O primeiro parecer, do deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), foi rejeitado pelo plenário. Por ele, a ação deveria prosseguir, mas não foi esse o entendimento da maioria. Essa mesma maioria, de acordo com a bolsa de apostas, deve aprovar o arquivamento da matéria, por não ver na proposta do procurador dados suficientes para o caso chegar ao Supremo Tribunal Federal.
Os deputados, no entanto, não estão olhando inconsistências jurídicas para tomar uma decisão. O voto desta sessão será meramente político, a favor ou contra, fruto do jogo que se estabeleceu no Congresso Nacional e na ação direta do Planalto na cooptação de aliados. Tudo indica que a ação pessoal do presidente e de seus assessores dará resultado, sobretudo após a abertura de caixa de bondades do Governo. Houve até deputado que tatuou o nome do presidente no ombro, numa prova de fidelidade. O que ele não revelou é ter sido beneficiado por acolhimento de emendas de sua autoria, que chegam à casa dos R$ 7 milhões.
Tais atitudes fazem parte do jogo e nem são inéditas. Quando tem interesse direto, o Executivo usa de todos os meios para alcançar seus fins: foi assim na aprovação da reeleição, na gestão Fernando Henrique, no mensalão no ciclo de Lula e na tentativa de bloquear o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O lado perverso é o custo de tais iniciativas. Mesmo permanecendo no posto, Michel Temer será um presidente frágil, sujeito à obrigação de manter o balcão de barganhas para levar suas metas adiante, sobretudo pelo teor de algumas delas. Sem chances de reeleição, ele quer fazer parte da história aprovando reformas. Elas são fundamentais, como a tributária e da Previdência, mas terá dificuldades para implementá-las por conta da relação que estabeleceu com os parlamentares na tentativa de salvar a própria pele.