Efeito da reforma
A partir do Plano Real, o país viveu um novo modelo econômico que deu fim ao perverso ciclo da inflação, quando não se podia fazer qualquer previsão de custos
Quando Itamar Franco assumiu a presidência da República, o país estava sem rumo ante a cassação do presidente Fernando Collor, o caçador de marajás, que acabou se enroscando nas próprias pernas e na arrogância de não ouvir o Congresso. Itamar, de imediato, anunciou um governo de coalizão, com a participação dos segmentos que estavam dispostos a colocar o país nos trilhos, tendo como uma das metas conter a inflação galopante, cujo combate foi frustrado pelo desastrado confisco da poupança, elaborado pela então ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello. O convite ao senador Fernando Henrique Cardoso para comandar a área econômica foi mais uma convocação, pois este estava feliz à frente das Relações Exteriores e sem disposição para assumir uma pasta crítica. Feita a mudança, a história conhece o seu final. A equipe por ele comandada deu forma ao Plano Real, que, no último domingo, completou 25 anos, já sob a gestão de Rubens Ricúpero e, posteriormente, por Ciro Gomes.
A importância do feito está na própria economia do país, que, a partir daí, a despeito dos percalços, estabilizou a vida dos brasileiros e afastou o flagelo da inflação. Antes, os preços variavam ao longo do dia, e quem tinha lastro ganhava rios de dinheiro no overnight. A especulação acabou, mas a certeza dos preços deu nova forma ao dia a dia da população.
Reformas, quando bem estruturadas, são importantes para a economia. O Plano Real levou meses para sair do papel e passou por momentos críticos em sua gestação, sobretudo ante a incerteza de seu futuro. Um quarto de século depois, as mudanças passam pelo mesmo ciclo. A da Previdência, numa semana estratégica no Congresso, deve avançar, mas ainda não se sabe sob qual formato final: com ou sem estados e municípios. Com eles, a mudança é de amplo espectro, pois vai contemplar dois segmentos que vivem uma situação preocupante. Sem eles, o problema será resolvido apenas em parte, sem garantia de que funcionários dos estados e das prefeituras terão benefícios futuros assegurados.
A outra reforma passa pelo viés tributário. O país cobra muito e cobra mal os seus impostos. O setor produtivo é um dos mais penalizados e só é lembrado em períodos de campanha. Os discursos são recorrentes na defesa de mudança. Na prática, porém, pouco tem sido feito ao longo dos anos. Ao contrário, o Estado cobrador amplia sistematicamente suas ações, comprometendo o custo final de serviços e produtos. Além disso, o excesso de impostos não é revertido em benefícios para a população. A saúde continua sendo um problema recorrente; as estradas, um caos; enquanto educação e segurança pública vivem com baixo financiamento. De quatro em quatro anos, o eleitor pergunta: mas para onde vai o dinheiro? A reforma tributária pode dar essa resposta e mudar o jogo, porém, para sua implementação, é fundamental a determinação de Itamar Franco e o olhar voltado para o futuro do Parlamento.