1994, para sempre (2)
“Em dois anos, o Central estava de volta à ‘emoção de todos nós’ (viva Bituca!), recuperado e pronto para receber grandes espetáculos”
As chamadas “efemérides” não significam muito mais do que oportunidades para se lembrar de uma data significativa após uma passagem regular dos anos. Afinal, pouca ou nenhuma diferença faz se aquele acontecimento marcante ocorreu 10, 13, 30 ou 42 anos e meio atrás. Mas quando três raios caem no mesmo lugar – e no mesmo ano – vale a pena olhar com atenção para este lugar (falo de Juiz de Fora) e para este ano (refiro-me a 1994). E para suas efemérides. Foi por isto que, no domingo passado, comecei a contar aqui umas historinhas sobre um momento em que os tais raios iluminaram a história cultural da nossa terra. Um impacto tão forte não merece ser esquecido.
No episódio da semana anterior andei falando de sopas com velhinhos franceses, de uma defesa de tombamento diante de figurões do patrimônio nacional e de uma gravação de Milton Nascimento para um vídeo. Cenas de uma Juiz de Fora lutando pelo Cine-Theatro Central. Agora essa história continua e o cenário é outro: Brasília. Enquanto, por aqui e no Rio, a Prefeitura negociava valores e formas para adquirir a ameaçada casa de espetáculos, na capital federal o prefeito Custódio Mattos buscava costurar na Presidência da República soluções para fazer esse resgate. A oportunidade era de ouro, pois havia no Palácio do Planalto um personagem familiarizado com esta causa. Não foram poucas as vezes em que o menino e o jovem Itamar Franco sentaram-se diante da tela do Central. Sem contar os festivais de música que o então prefeito produzira ali na virada dos anos 1960 para 1970.
O tombamento federal e o vídeo dos grandes artistas em defesa da causa davam respaldo para que o Presidente não fosse acusado de favorecer um “teatrinho” da sua cidade. Mas como viabilizar a transferência de recursos? Foi aí que surgiu uma outra protagonista que ainda não tinha entrado na cena: a UFJF. Seria mais fácil para o Governo que o recurso federal fosse transferido do Ministério da Educação para a Universidade, de forma a tornar-se, ela, a compradora da casa e futura dona do patrimônio. As autoridades universitárias toparam, mas com uma condição: que a Prefeitura, que liderava toda essa batalha até então, garantisse a reforma e a restauração do teatro, que estava deteriorado e em franca decomposição. “Ok, pode comprar que a gente recupera o patrimônio”, disse o prefeito ao reitor José Passini e ao ministro Murílio Hingel. E, assim, o nosso Cine-Theatro Central passou das mãos dos judeus franceses Valansi para o rol de bens da nossa UFJF.
Sim, os astros estavam alinhados para que os sonhos se realizassem, mas era preciso muito trabalho para cumprir o compromisso. Um detalhado projeto de restauração foi elaborado, enfrentou os rigores dos pareceres do Ministério da Cultura e conseguiu aprovação na Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. Com os incentivos fiscais, grandes empresas, mobilizadas pela PJF, toparam investir. Pronto. Em dois anos, o Central estava de volta à “emoção de todos nós” (viva Bituca!), recuperado e pronto para receber grandes espetáculos. “Tem que restaurar pra gente ir lá fazer show: Juiz de Fora é aqui, né? Bastante ligada ao Rio”, disse Tom Jobim no tal vídeo. Viva!
Mas, este foi só o primeiro raio luminoso que percorreu os céus de Juiz de Fora naquele 1994. Ele não foi o único que abalou a história das artes na cidade neste ano especial. Outros dois vão ser lembrados no próximo domingo.
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