Assaltos a bancos fazem polícia criar delegacia especial
Último caso aconteceu em Dores do Turvo, a cerca de 120 quilômetros de JF. ‘Violência empregada está fora de alcance das instituições privadas’, diz Febraban
Os assaltos a agências bancárias e caixas eletrônicos em Minas Gerais continuam a assustar a população de cidades pequenas e levaram as polícias Civil e Militar a se mobilizarem para a elaboração de novas frentes de enfrentamento a esta modalidade criminal, já chamada de “Cangaço Mineiro”. Uma delegacia especializada para investigar os casos será criada, e a Polícia Militar investe em treinamento para capacitar seus militares e vai aumentar o efetivo em cidades com até 50 mil habitantes. Apenas nesta semana, entre terça-feira (9) e a madrugada desta quinta (11), dois episódios foram registrados na Zona da Mata, em Urucânia e Dores do Turvo. Em julho passado, um policial militar e um vigilante foram mortos durante tentativas frustradas de roubo a duas agências bancárias de Santa Margarida, também na Zona da Mata. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) diz estar acompanhando os ataques a caixas eletrônicos com “extrema preocupação”.
No último registro, em Dores do Turvo, município a cerca de 120 quilômetros de distância de Juiz de Fora, a tentativa de assalto aconteceu em um caixa eletrônico do Bradesco, no prédio da Prefeitura, na Praça Cônego Agostinho José de Rezende, no Centro, na madrugada desta quinta (11). Um homem de 21 anos foi preso, e várias armas de fogo de grosso calibre e munições, apreendidas. De acordo com a PM, outros quatro foram detidos durante a tarde. Um deles é irmão do jovem, 21, capturado mais cedo. No entanto, ele não teria tido participação no crime, mas foi flagrado pelos policiais portando um revólver calibre 38 e seria morador de Dores do Turvo. Outros dois suspeitos foram presos no município de Teixeiras. Conforme o tenente Leonardo José Campos, a dupla seria a mentora do crime. O quinto preso foi capturado durante rastreamento na cidade de Senador Firmino. Este último seria morador de Ponte Nova. Dois homens ainda estão foragidos. As idades dos suspeitos não foram divulgadas.
Troca de tiros
A ocorrência teve início por volta da meia-noite, quando um vigilante do banco ouviu barulhos vindos do local. Ele foi até o caixa e se deparou com o grupo tentando arrombar a máquina com uma marreta. Houve troca de tiros. No momento da ação, um motorista que passava pelo local foi rendido pela quadrilha. O veículo foi atingido pelos disparos, mas o condutor conseguiu fugir. A quadrilha escapou na mesma picape Fiat Strada em que chegara à Prefeitura. Acionada, a PM encontrou no local 46 munições deflagradas de calibres 38, 12 e 9 milímetros. Também foi apreendido material explosivo. Um dos assaltantes teria sido reconhecido pelo vigilante. A PM deu início ao cerco e foi primeiramente até a casa do suspeito, que confessou participação no assalto. Os militares encontraram no local o carro usado na fuga, quatro pistolas, sendo três calibre ponto 40 e uma 9 mm, dois revólveres calibre 38, duas espingardas calibre 12, dois coletes balísticos, grande quantidade de munições e a picape, com placa de Belo Horizonte. O suspeito disse que outras quatro pessoas, todas da capital, estavam com ele e se embrenharam em um matagal na Zona Rural de Dores. Outra arma de fogo foi apreendida na casa do irmão do preso.
Outras cidades
Em Urucânia, cidade distante de Juiz de Fora cerca de 250 quilômetros, criminosos explodiram três caixas eletrônicos de uma agência do Itaú no último dia 9. Ninguém se feriu e nenhum suspeito foi preso.
No dia 4, Dom Cavati, cidade de cerca de 6 mil habitantes do Vale do Aço, distante cerca de 200 quilômetros de Muriaé, foi palco de uma ação que terminou com duas agências bancárias destruídas. Foram três explosões, uma na agência do Sicoob e outras duas no Itaú. Também em janeiro, no dia 7, uma agência bancária de Curral de Dentro, Norte do estado, foi destruída por bandidos.
‘Violência fora de alcance das instituições privadas’, diz Febraban
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) diz estar acompanhando os ataques a caixas eletrônicos com “extrema preocupação”. Sobre as explosões informou, por meio de nota, que “os criminosos usam força desproporcional, com armamentos pesados, de elevado poder de destruição. A ação de segurança necessária para fazer frente à violência empregada está fora de alcance das instituições privadas, como estabelecimentos comerciais e bancos”.
Para a entidade, é necessário combater as causas desses crimes. “Em primeiro lugar, impedindo que os bandidos tenham acesso fácil a explosivos. Em segundo lugar, desbaratando as quadrilhas, o que se faz com ações de inteligência. Em terceiro lugar, dificultando o acesso dos bandidos ao produto do crime.” A Febraban afirma que triplicou o investimento no aprimoramento da segurança bancária em relação ao que era gasto dez anos atrás e que investe em tecnologia para a realização de operações que reduzam a necessidade de recurso dentro das agências bancárias.
Colaboração
A nota também destacou a parceria dos bancos com governos, polícias Civil, Militar e Federal e com o Poder Judiciário no combate à criminalidade. “As equipes atuam de forma coordenada na troca de informações, fornecendo imagens captadas pelo sistema interno de televisão ou modus operandi de quadrilhas que contribuem tanto para a desarticulação e prisão de grupos criminosos. Esse trabalho coordenado permite maior robustez na formação de elementos de provas pelas autoridades policiais, que no judiciário embasarão a decisão dos magistrados.”
Apesar dos casos recentes e recorrentes, conforme a instituição, um levantamento mostrou que, em 2016, foram registrados 339 assaltos e tentativas de assaltos no Brasil, sendo este o menor número de assaltos nos últimos 17 anos. O número indica redução de 14% em relação a 2015, quando foram registradas 394 ocorrências, e é bem inferior ao registrado em 2000, quando houve 1.903 assaltos e tentativas de assaltos.
Delegacia irá atuar contra ‘Cangaço Mineiro’
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) anunciou nesta semana a criação de uma Delegacia Especializada no Combate a Roubos de Bancos e Caixas Eletrônicos. Segundo a instituição, estão sendo criadas novas estratégias de combate ao “Cangaço Mineiro”, forma como a atuação audaciosa dos bandidos, principalmente no interior do estado, ficou conhecida. A expectativa é que o serviço de inteligência consiga identificar e interceptar as quadrilhas em todo o estado e apresente resultados em curto prazo. A nova delegacia será concretizada a partir de uma resolução que deve ser assinada ainda nos próximos dias. As ações terão o apoio também da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), grupo de policiais que atuam em operações de alto risco.
A Polícia Civil afirmou que o intuito é de que este trabalho possa funcionar de forma preventiva, por meio de serviço de inteligência. De acordo com o chefe-adjunto da PCMG, Rogério de Melo Franco Assis Araujo, o trabalho terá como foco identificar e neutralizar células criminosas. “Não iremos permitir que Minas Gerais tenha este tipo de cangaço. Teremos um trabalho de inteligência policial que poderá realizar um acompanhamento e, consequentemente, a identificação destes autores com investigações. Queremos e iremos proporcionar mais segurança e paz social para a sociedade”, concluiu. A equipe que formará o grupo já está sendo construída e terá o apoio de vários policiais em cada departamento de Polícia Civil no Estado.
PM capacita policiais e aumenta efetivo em cidades pequenas
Em entrevista coletiva na última sexta-feira (5), o coronel Alexandre Nocelli, comandante da 4ª RPM, havia dito que as atenções da PM também estavam voltadas para os crimes de explosões em caixas eletrônicos. Segundo ele, para este combate, o pelotão rodoviário da PM será empenhado. “Vamos potencializar as ações da Polícia Militar Rodoviária, que vai estar mais focada no combate à violência, principalmente nas quadrilhas especializadas em explosões de caixas que podem cruzar as estradas da região”, finalizou.
O assessor organizacional da 4ª RPM, major Jovânio Campos, afirmou que estão sendo feitas ainda ações de prevenção nas divisas territoriais com o Rio de Janeiro e Espírito Santo, além de trabalhos de inteligência e monitoramento de suspeitos. Conforme o oficial, o comando da instituição elaborou um plano de instrução padronizado de comportamento dos policiais diante este tipo de ocorrência. “Estamos fazendo o treinamento dos nossos policiais com arma de maior impacto, como fuzis, para que eles possam fazer frente aos bandidos que vêm agindo fortemente armados.”
O oficial destacou que a PM também está enviando, desde o ano passado, mais efetivo para as cidades com até 50 mil habitantes. “Este são os principais alvos das quadrilhas. A maioria dos sargentos que se formou em dezembro passado está sendo enviada para estes municípios”, destacou o major.