Parlamento Jovem promove encontro entre estudantes de JF
Reunião realizada nesta quarta é parte da preparação para a plenária regional, marcada para 14 de agosto
“A gente é o começo de uma mudança. Aos poucos vamos conseguir transformar o mundo. Mas, infelizmente, a realidade do preconceito ainda faz parte do nosso dia-a-dia. A discriminação vem acontecendo há séculos e, como jovem, negra e mãe, preciso lutar pelos meus direitos e de todos que estão no mundo comigo”, defende a adolescente Daniele Nogueira, 16 anos, estudante do 2º ano da Escola Estadual Adalgisa de Paula Duque, localizada no município de Lima Duarte. Ela, que afirma sofrer preconceito desde criança, é uma dos cerca de 70 estudantes que integram a 16ª edição do Parlamento Jovem, que, neste ano, discute a discriminação étnico-racial.
Nesta quarta-feira (26), jovens de instituições públicas e privadas de Lima Duarte, Santos Dumont e Juiz de Fora participaram do segundo encontro de estudantes que compõem o Polo Regional Zona da Mata II, no Colégio dos Jesuítas. Na ocasião, eles participaram de oficinas, a fim de conhecerem melhor os trâmites da política na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O encontro também promove dinâmicas e integração do grupo, composto por jovens com realidades sociais, culturais e econômicas diferentes uma das outras.

Entre as funções dos estudantes do ensino médio está a elaboração de propostas em âmbito municipal e regional em torno do tema proposto. Nesta quarta, eles foram separados em três grupos, e os monitores expuseram como funciona a metodologia de discussão. Em 7 de agosto, os alunos serão divididos por grupos de trabalho para discutir os subtemas. No dia 14, a Câmara de Juiz de Fora sedia a plenária regional, onde os jovens parlamentares apresentarão as propostas formuladas sobre o tema da edição. A partir dela, será possível sugerir a modificação, a junção ou a exclusão de sugestões para serem apresentadas na plenária estadual, a ser realizada entre 18 e 20 de setembro, na ALMG.
Aprendizado
O tema deste ano foi dividido em “Desigualdades socioeconômicas”, “Violências por motivo étnico-racial” e “Direito às identidades e à diversidade cultural”. Neste contexto, Daniele afirma também que percebeu que não precisava de ninguém falando que a cor dela é bonita, que o cabelo estava bonito, pois é uma certeza que agora faz parte dela. “Eu tinha vergonha de mim. Mas, desde o início do ano, com a minha participação no projeto, mudei na forma de pensar e, com isso, as pessoas passaram a me olhar diferente. Elas me aceitam como sou, independente do cabelo, roupa ou de onde eu venho”, diz.
Estudante do 1º ano do ensino médio na Escola Estadual Engenheiro Henrique Dumont, Emanuele Rodrigues de Carvalho, 17, no Parlamento Jovem pela segunda vez, destaca a oportunidade de aprendizado. “O tema é fundamental para que a gente possa discutir soluções em forma de leis para ajudar pessoas que sofrem discriminação, tanto física quanto verbal e racial.
Mariana Vitória, estudante do 2º ano do ensino médio do Colégio dos Jesuítas, ressalta como a discussão aprimora as ideias e garante aprendizado. “Estou adorando discutir, falar, argumentar. Não é possível que em 2019 a gente idolatre pessoas que cultuam o ódio e a diferença de tratamento baseadas na cor da pele”, garante a jovem, escolhida para falar na plenária regional. “O respeito tem que existir, independente da cor, gênero, religião. Daí a importância do jovem participar da política, para não ficar perdido. Tem pessoas que votam, mas não sabem basear suas escolhas neste ou naquele candidato e, neste projeto, a gente aprende como se tornar cidadão, de fato”, finaliza.
Parlamento Jovem promove encontro entre estudantes
Desmistificar o conceito de política que é produzida pelo senso comum é o que move as ações do Parlamento Jovem, que inicia sua atuação nas escolas, mas extrapola o espaço estudantil. “Isso reverbera dentro e fora da escola. É na adolescência que a gente começa a questionar aquilo que acontece ao redor. Por isso a importância deste processo na formação cidadã dos estudantes. A política ainda é associada à corrupção e a conchavos, mas, na verdade, o parlamento permite às pessoas que entendam que a política está presente no cotidiano, seja na escola, na igreja que pertence, no grupo de amigos”, garante Sérgio Dutra, coordenador do Parlamento Jovem em Juiz de Fora desde a primeira participação do município, em 2010.
Quando as discussões chegam à ALMG, as propostas dos jovens poderão ser encaminhadas ao Executivo, como sugestão de ação a ser implementada, ou à Comissão de Participação Popular, para estudo e, eventualmente, transformação em projeto de lei. “Desta forma, eles têm nas mãos a possibilidade de participação efetiva na vida política e, por consequência, contribuir para a mudança da sociedade”, diz Dutra, que ainda acrescenta: “Mais do que ver as suas propostas, os alunos conhecem diferentes realidades, em que, às vezes, o espaço ocupado, seja ele econômico, social e geográfico, resulta em formas diferentes de entender e compreender o que está sendo discutido. Isso permite aos alunos várias possibilidades”.
Formam o núcleo municipal do programa os alunos dos colégios Nossa Senhora do Carmo, Tiradentes e do Colégio dos Jesuítas; e as escolas estaduais Dilermando Costa Cruz e Henrique Burnier. Cada polo deve fazer uma sugestão para o tema que será trabalhado em 2020. Na plenária regional, cada cidade defenderá um tema, que será encaminhado para a etapa estadual. O tema sugerido pelos alunos de Juiz de Fora e Lima Duarte é LGBTQfobia. Já estudantes de Santos Dumont sugerem a intolerância religiosa.