Metanol: Minas registra primeiro caso suspeito de intoxicação
Paciente está internada em Belo Horizonte
Minas Gerais registrou o primeiro caso suspeito de intoxicação por metanol, segundo confirmação da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) nesta terça-feira (7). De acordo com o órgão, a suspeita é de uma mulher de 48 anos que está internada em Belo Horizonte.
O Ministério da Saúde havia informado, no boletim divulgado na segunda-feira (6), a suspeita de um caso em Poços de Caldas, No Sul de Minas. No entanto, a SES-MG esclareceu que a suspeita foi descartada e que, no momento, apenas um caso segue em investigação na capital mineira.
Segundo a Secretaria, amostras dos materiais foram coletadas e encaminhadas para análise da Polícia Científica de Minas Gerais, conforme o protocolo estabelecido no estado.
Até a publicação do boletim de segunda-feira (6), o Ministério da Saúde havia recebido 217 notificações de intoxicação por metanol após consumo de bebidas alcoólicas em todo o país. Deste total, 17 casos foram confirmados e 200 seguem em investigação.
O estado de São Paulo concentra a maioria das notificações, com 82,49% dos registros – são 15 casos confirmados e 164 em investigação. O Paraná aparece em seguida, com dois casos confirmados e quatro sob análise. Outros 12 estados também investigam possíveis ocorrências: Acre (1), Ceará (3), Espírito Santo (1), Goiás (3), Minas Gerais (1), Mato Grosso do Sul (5), Paraíba (1), Pernambuco (10), Piauí (3), Rio de Janeiro (1), Rondônia (1) e Rio Grande do Sul (2). Já Bahia, Distrito Federal e Mato Grosso descartaram os casos que estavam sob suspeita.
Em relação aos óbitos, dois foram confirmados em São Paulo e outros 12 seguem em investigação: um em Mato Grosso do Sul, três em Pernambuco, seis em São Paulo, um na Paraíba e um no Ceará.
Sintomas semelhantes aos da ressaca
A Secretaria de Estado de Saúde, em resposta à Tribuna, informou que não há informações consolidadas sobre os casos suspeitos de intoxicação por metanol descartados em Minas Gerais. Segundo o órgão, alguns registros foram eliminados por não atenderem aos critérios necessários para serem classificados como suspeitos.
De acordo com a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), os sintomas iniciais da intoxicação por metanol se assemelham aos de uma ressaca. O quadro começa com sensação de euforia e embriaguez, seguida de um período assintomático que pode durar entre 12 e 24 horas – e, em alguns casos, chegar a 90 horas.
Após esse intervalo, surgem sinais como dor de cabeça, enjoo, falta de apetite, vômitos e dor abdominal. Com a progressão do quadro, podem ocorrer tontura, confusão mental, perda de coordenação motora, convulsões e até coma. Em situações mais graves, há risco de hemorragias cerebrais.
A Amib destaca que os problemas de visão são comuns, incluindo sensibilidade à luz, visão borrada ou dupla, perda da percepção de cores e, em casos extremos, cegueira. O ácido fórmico – substância tóxica formada no organismo a partir do metanol – provoca alterações metabólicas severas e leva à acidose, caracterizada pelo aumento da acidez no sangue e na urina. Sem tratamento imediato, a intoxicação pode evoluir para falência de órgãos, insuficiência respiratória e morte.
Quando procurar ajuda médica
Em nota, a SES-MG orientou que pessoas com sintomas suspeitos procurem atendimento médico imediatamente. Todos os casos devem ser comunicados ao CIATox/MG, que fornece orientações clínicas e notifica o Cievs-Minas.
A Secretaria também alerta sobre o risco de consumir bebidas de origem duvidosa. Caso algum sintoma apareça, especialmente entre 6 e 72 horas após o consumo de bebidas destiladas, é fundamental buscar ajuda médica imediata.
Segundo a Amib, o principal sinal laboratorial da intoxicação é a acidose metabólica grave. Exames de imagem, como tomografia ou ressonância magnética, podem identificar lesões cerebrais, e a avaliação oftalmológica ajuda a detectar danos à visão.
O tratamento é considerado urgente e envolve corrigir a acidose com bicarbonato de sódio, bloquear a ação do metanol com etanol (utilizado no lugar do fomepizol, indisponível no Brasil) e, em casos graves, realizar hemodiálise para remover o metanol e o ácido fórmico do organismo. Também pode ser administrado ácido fólico, que auxilia na eliminação das substâncias tóxicas.
O metanol, ou álcool metílico, é um líquido incolor, sem cheiro e de gosto amargo, usado como combustível, solvente e na fabricação de cosméticos e produtos de limpeza. No corpo, ele é rapidamente absorvido e transformado no fígado em formaldeído e ácido fórmico, substâncias altamente tóxicas. Mesmo pequenas quantidades podem ser fatais.
Polícia Federal investiga fábricas
Enquanto o número de casos aumenta, a Polícia Federal investiga fábricas suspeitas de adulterar bebidas com substâncias proibidas. Na sexta-feira (3), a PF realizou uma operação de fiscalização em indústrias de bebidas em Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina, sob suspeita de uso irregular de componentes químicos.
Durante a ação, foram coletadas amostras de bebidas produzidas e armazenadas, que foram encaminhadas para análise laboratorial. Os testes vão verificar se os insumos estão dentro das normas, se há presença de metanol ou outras substâncias tóxicas acima do permitido e se há irregularidades na produção e no controle dos lotes.
A Tribuna entrou em contato com a Polícia Federal para saber atualizações sobre as investigações e se novas fábricas podem ser alvo de apuração, e aguarda retorno.
*Estagiária sob a supervisão da editora Carolina Leonel