Os pés pelas mãos: Valeu, Ed!
Provocador. Explosivo. Polêmico. Encrenqueiro. Genial. Estes adjetivos são comumente atribuídos a grandes craques do passado, como Mané Garrincha ou Heleno de Freitas. Donos de muitos defeitos, menos os do comportamento politicamente correto, do discurso padrão e do visual superstar tão frequente entre os boleiros atuais. Na última quarta, o país despediu-se do último jogador brasileiro capaz de reunir todos esses atributos. O Vasco prestou sua homenagem a Edmundo e, apesar da escolha da data ter prejudicado a repercussão que o adeus do Animal merecia, a festa foi digna do que o atacante representou para o clube e para o futebol nacional.
O velho Ed era talvez o último destes jogadores à moda antiga. Levava uma partida de futebol tão a sério que, muitas vezes, apresentava-se como um peladeiro. Raça e graça, encontravam-se na objetividade de um craque com uma trajetória de conquistas. Se alguns preferem apontar o dedo na cara e julgar Edmundo por suas brigas, pontapés, cusparadas ou o acidente automobilístico que vitimou três pessoas, prefiro louvar o que ele fez nos gramados. Seus gols antológicos. Suas comemorações debochadas. Seus dribles improváveis. Os erros e acertos do cidadão, deixo para as justiças divina e do homem.
O atacante que se despediu com a camisa do Vasco, mas também brilhou no Palmeiras e teve passagens subestimadas por Corinthians, Flamengo e outros, está entre os melhores jogadores que minha geração viu jogar. Infelizmente, integrou um time de injustiçados na Seleção – que para alguns treinadores parece ser destinada apenas aos bons moços e praticantes de certas religiões -, ao lado de nomes como Marcelinho Carioca, Djalminha e Alex Cabeção.
Apesar da pouca assiduidade, Edmundo foi protagonista de um momento marcante com a amarelinha. Na decisão do Mundial de 1998, quando o placar apontava 2 a 0 para a França, deu a maior bronca do planeta em Rivaldo, que colocou a bola para fora para que um adversário – aparentemente fazendo cera – fosse atendido. Mais do que ferir o tal fair play, o velho Ed mostrou algo que gostaria de ver mais entre os atletas que defendem o Brasil nos dias de hoje: a atitude de um jogador que quer vencer tanto o rachão da sexta quanto a final da Copa.