Entrevista André Nascimento/Atleta de vôlei
Quem poderia imaginar que aquele jovem canhoto, destaque nas categorias de base do Clube Bom Pastor, teria tanta história para contar? Da juventude em Juiz de Fora até o lugar mais alto do pódio nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, o carioca André Nascimento participou da geração mais vitoriosa da Seleção Brasileira na história do vôlei.
Além do ouro em Atenas, “Canha” conquistou a medalha de prata em Pequim (2008), além de ser hexacampeão da Liga Mundial, tricampeão da Superliga, bicampeão mundial e da Copa do Mundo, e campeão dos Jogos Pan-Americanos. Foram tantos títulos que a saudade das quadras falou mais alto após a aposentadoria, durante a temporada 2013/2014.
Com a motivação renovada, André Nascimento assinou novo contrato com o Montes Claros. Mas não foi por falta de vontade que o atleta não acertou com o JF Vôlei. Na última temporada, a negociação estava praticamente acertada, mas o oposto precisou seguir em Florianópolis para resolver questões particulares. Nessa temporada, o ídolo procurou novamente a diretoria da equipe juiz-forana decidido a retornar ao esporte, mas dessa vez foi o JF que declinou, já que na época não estava definido se haveria viabilidade financeira para manter o projeto.
Nessa semana, André Nascimento esteve em Juiz de Fora ajudando o Montes Claros a bater o JF Vôlei por 3 sets a 0, em partida válida pelo Campeonato Mineiro. Em meio aos treinamentos, o oposto conversou com a Tribuna, relembrando o início da carreira, as conquistas e o retorno às quadras.
– Tribuna: Depois de um ano longe do voleibol, como tem se sentido nesses jogos?
– André Nascimento: Uma das coisas positivas é que consegui fazer uma boa pré-temporada. Foram praticamente dois meses de preparação, isso me ajudou muito. Estava há um ano e meio sem jogar. Você sente um pouco a falta de ritmo de jogo, o próprio entrosamento. Então passa por alguns picos bons e em outros cai um pouco. Acho que é natural. Mas estou muito feliz por voltar, estar ativo e, principalmente, bem fisicamente. Isso é muito importante.
– E o que te motivou a voltar?
– Antes eu estava mexendo com uma academia. No vôlei nossa carreira é muito curta, e isso é algo que tenho pensado para o futuro, já estou com 36 anos. Fiquei esse tempo parado e senti muita falta de estar em quadra, treinando, ter aquela rotina que tive por muito tempo. Certamente foi isso que me fez ter vontade de voltar. Fiquei parado pensando “nossa, preciso voltar, jogar, não posso parar agora”. Tive propostas em anos anteriores, até do próprio time de Juiz de Fora, mas por problemas particulares não vim. Agora estou retornando pelo Montes Claros e estou bastante feliz.
– O torcedor pode ter uma ponta de esperança de um dia vê-lo jogando por Juiz de Fora?
– Ah, com certeza! Se houver uma oportunidade, eu ficaria muito feliz. Principalmente por estar perto de onde mora toda a minha família. Toda a minha história começou aqui. Com certeza, para mim seria uma satisfação.
– O atleta vive uma rotina muito desgastante. Você está vivendo uma fase de recuperar o prazer até mesmo de treinar?
– Ah, também! É como você falou, é justamente essa rotina, de estar treinando, com a adrenalina do jogo, a dor do treino, mas com a satisfação de conseguir realizar aquilo, de poder jogar e ajudar a equipe, e provar para si mesmo que ainda consegue jogar e fazer as coisas. Com certeza, apesar da experiência, estou aprendendo bastante também. E isso é bem legal. Estou bastante motivado.
– Como é voltar para Juiz de Fora e ver a cidade onde você teve seu início no vôlei, jogando pelo Clube Bom Pastor?
– É muito especial voltar aqui, onde tudo começou e tive o contato com o vôlei. Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, e tenho um carinho especial por lá, onde comecei a jogar vôlei foi em Juiz de Fora, no Clube Bom Pastor, na rua com os amigos. Não me esqueço das conquistas que eu tive, da cidade que me valorizou, me homenageou. Tenho um forte carinho por isso, por esse carinho que a cidade tem por mim. É muito especial.
– Sobre o Montes Claros, o que você espera do time para a Superliga?
– O Montes Claros é uma equipe jovem mesclada com alguns atletas experientes. Acho que eles são uma aposta do Andrey Souza, gestor do projeto. E eu aceitei estar com ele justamente por isso. Acho também que hoje em dia a molecada precisa ter uma oportunidade de jogar, e essa garotada está tendo a chance de jogar uma Superliga realmente, jogando efetivamente como titular. É uma oportunidade grande para todos, e a expectativa é enorme. A gente espera surpreender. Estamos trabalhando muito forte para isso. Acho que agora é nada mais nada menos que trabalhar, evoluir a cada jogo. O Campeonato Mineiro também tem sido uma oportunidade muito boa para começar a Superliga bem.
– Você é um medalhista olímpico. E a Olimpíada de 2016 vai ser um momento de muita pressão sobre os jogadores por conta da expectativa de medalha. Como avalia o momento do vôlei brasileiro?
– Com certeza será uma pressão muito grande por estarmos jogando em casa. Por outro lado, é uma oportunidade que nós temos para mostrar que podemos ganhar em casa também. No Brasil, ainda não tivemos esse feito com essa geração, mas acho que é bastante importante. E eu torço para que dê certo. Vai ser uma festa muito bacana.