Torcedor usuário de cadeira de rodas relata obstáculos no acesso ao Estádio Municipal
Casal do projeto ‘Caçadores de Estádios de Futebol’ visita Juiz de Fora e destaca pontos que precisam de adaptação

A legislação esportiva brasileira, iniciada com o Estatuto do Torcedor e substituída pela Lei Geral do Esporte, em julho de 2023, determina que as arenas esportivas no Brasil devem assegurar acessibilidade ao espectador com deficiência ou com mobilidade reduzida. Diante disso, o advogado Cláudio Bazoli, cadeirante, juntamente com sua esposa, a jornalista Karla Bazoli, criaram, em 2022, o projeto “Caçadores de Estádios de Futebol”. Nele, o casal visita praças esportivas de todo o Brasil para avaliar a acessibilidade dos locais. No sábado (15), eles vieram ao Estádio Municipal Radialista Mário Helênio para assistir à derrota do Tupi por 2 a 1 sobre o Paracatu.
Cláudio chegou ao Estádio Municipal e procurou os funcionários presentes para se informar sobre a acessibilidade do espaço. Segundo o advogado, a opção oferecida foi subir a rampa íngreme que dá acesso à parte superior das arquibancadas. “Falaram que não era escadaria, mas que era íngreme. Não teve ninguém que se ofereceu para me ajudar. Por sorte eu estava com amigos”, relata.
Com a ajuda de dois amigos, que se revezaram para levar Cláudio ao topo da arquibancada, o advogado conseguiu chegar à parte coberta e assistir ao jogo. O advogado afirma que, por gostar muito de ir ao estádio, não reclama de precisar subir a rampa, mas destaca que, se estivesse sozinho, não seria possível. “Se eu não tiver a ajuda de alguém para me ajudar a subir e descer, é complicado. E essa dificuldade não é só para cadeirantes. Um idoso passaria dificuldade. Uma pessoa obesa, acima do peso, passaria dificuldade. Uma grávida passaria dificuldade. Pessoas com mobilidade reduzida passariam dificuldade também para subir essa rampa”, diz.
Na arquibancada verde, que fica fechada em jogos do Tupi, há uma rampa menos íngreme que dá acesso ao local. Cláudio questiona o fato de ela não ser utilizada para facilitar a chegada de pessoas com mobilidade reduzida. “Se tem um espaço para o cadeirante, para a pessoa com deficiência de uma maneira geral, para não ter que subir essa rampa, se tem um espaço construído para ele ver o jogo mais perto do gramado, por que não libera a arquibancada para quem precisa?”, indaga o torcedor.
Em nota, a Prefeitura de Juiz de Fora afirma que “em situações específicas e de acordo com as características do evento, também pode ser autorizada a chegada de veículo até a parte superior do estádio, de modo a facilitar o acesso de pessoas com dificuldade de locomoção”.

Apesar dos apontamentos, Cláudio avalia a sua visita ao Estádio Municipal como positiva. “Apesar de não ter a demarcação do espaço do cadeirante lá em cima, se o público não se levantar, principalmente nos jogos que não enchem muito, a visão do campo é boa, é privilegiada, dá para ver o jogo sem obstrução”, afirma.
Assim como Cláudio, Karla também aprovou a visita ao principal palco esportivo de Juiz de Fora. A jornalista pontua que a educação dos demais torcedores de não ficarem em pé na frente do advogado também contribuiu positivamente na impressão sobre o local, mas reforça que é necessário fazer adequações no espaço. “Sinto falta quando o estádio não tem um staff, um pessoal já direcionado para essa situação, com uma cadeira de rodas, ou disponível, como no nosso caso, para ajudar a empurrar a pessoa numa cadeira de rodas”, destaca.
Já João Luiz Mota, amigo de Cláudio e um dos que revezaram para ajudá-lo a subir a rampa do Estádio Municipal, diverge da opinião do casal e avalia de forma negativa a acessibilidade do espaço. “Pelo fato de ter a opção, ainda que seja uma opção ruim, não é o pior. A gente já foi em alguns estádios que não tinham nenhuma opção. O Cláudio já teve que ser carregado em uma escada, mas eu diria que é ruim, está no grupo das piores experiências”, avalia.
Projeto busca visibilidade para PCDs
Cláudio e Karla são do Rio de Janeiro e, desde 2013, passaram a viajar para conhecer estádios de futebol. Nessa aventura, passaram por muitas dificuldades atreladas à falta de acessibilidade, o que os motivaram a criar o projeto “Caçadores de Estádios de Futebol”. “A gente notou que muitas pessoas com deficiência não vão aos jogos por falta de acessibilidade. O nosso projeto tem como objetivo mapear a acessibilidade do máximo de estádios do Brasil para fomentar a inclusão e trazer de volta as pessoas com deficiência que deixaram de frequentar estádios de futebol. Nesse jogo, por exemplo, eu era o único cadeirante”, explica Cláudio.
Ao todo, o casal já visitou 211 estádios de 22 países, incluindo aqueles utilizados na Copa do Mundo de 2022, no Catar. No Brasil, eles já percorreram 25 estados, além do Distrito Federal. A única unidade federativa que falta é o Amapá, já que o objetivo é finalizar o projeto no Zerão, estádio localizado em Macapá e que possui uma particularidade: a linha central coincide com a Linha do Equador, ou seja, cada lado do campo está em um hemisfério.
Resumo desta notícia gerado por IA
- Projeto “Caçadores de Estádios de Futebol” avalia acessibilidade no Estádio Municipal de Juiz de Fora.
- Advogado cadeirante relata dificuldade para acessar arquibancadas devido a rampa íngreme.
- Prefeitura afirma que, em casos específicos, permite acesso de veículos à parte superior.
- Casal já visitou 211 estádios em 22 países e mapeia condições para promover inclusão.
Tópicos: Estádio Municipal









