Fifa não responde sobre abusos de direitos humanos e vê “melhor Copa” na Rússia
Presidente da entidade, Gianni Infantino, faz balanço sobre a competição, ri das encenações de Neymar e diz: “Ainda mostrará suas habilidades”
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, classificou a Copa do Mundo de 2018 na Rússia como “a melhor jamais organizada”. Com cofres repletos e sem contratempos, o evento marcou dentro da entidade máxima do futebol uma esperança de virada de página, depois do caos do Mundial de 2014 no Brasil e das prisões de cartolas. Em sua coletiva de imprensa final em Moscou nesta sexta (13), o suíço teceu amplos elogios aos organizadores russos e evitou dar respostas sobre repressão do governo local contra ativistas de direitos humanos e falta de liberdades.
“A paixão que sentimos nesse país desde o começo da Copa foi especial”, disse. “Há alguns anos eu já dizia que seria a melhor Copa. Agora, posso dizer ainda com mais convicção de que essa é a melhor Copa do Mundo realizada”, disse. Agradecendo ao Governo de Vladimir Putin, ele destacou a forma pela qual o país recebeu mais de um milhão de estrangeiros. “A operação foi um enorme sucesso”, disse. Para ele, parte desse êxito foi o fato de que não houve um debate político durante o torneio.
O que ele não falou, porém, é que protestos estavam proibidos por lei. “Tem sido também um êxito por respirarmos de novo futebol e viver futebol”, disse. “Deixamos o futebol falar. Não é sobre presidentes e dirigentes. São aqueles no campo que falam”, destacou. O suíço manteve a Fifa distante de coletivas de imprensa ao longo das semanas. “Nosso trabalho é fazer com que tudo funcione nos bastidores”, se limitou a dizer, lembrando que trouxe “o futebol de volta para a Fifa”.
Na avaliação do presidente da Fifa, a Copa “mudou a Rússia, que se transformou num país do futebol”. “Não é mais apenas um país onde a Copa ocorre. Mas onde o futebol passou a fazer parte da cultura e isso graças ao time russo. A infraestrutura e tudo mais é eficiente e o legado vai colocar a Rússia no topo do futebol mundial. O que foi construído é para o futuro e existem planos”, disse.
O governo russo, diante do risco de elefantes brancos e estádios sem clubes, vai bancar as arenas por pelo menos mais dois anos. Mas Infantino também insiste que a percepção do mundo sobre a Rússia mudou. “Todos os que estão aqui descobriram um país lindo e que os quer receber e que quer dizer ao mundo que o que é dito não é exatamente o que ocorre aqui”, disse. “Os preconceitos mudaram”, constatou. Mas, ao ser questionado sobre as violações de direitos humanos no país, ele apenas indicou que esse não era o papel do futebol. A oposição está silenciada, a liberdade de imprensa é violada diariamente, protestos são proibidos e a pobreza, em alta, não é divulgada. Para completar, o presidente da Fifa apresentou os números do êxito: 98% das arquibancadas lotadas, um milhão de turistas, uma audiência de 3 bilhões na televisão e 11 bilhões nos meios digitais, seis vezes maior que o Super Bowl, a grande final do futebol americano.
Encenações de Neymar
As encenações de Neymar durante a Copa do Mundo arrancaram risos do presidente da Fifa, Gianni Infantino. Sua resposta começou diplomática. “Neymar é um grande jogador. Essa é a primeira coisa. É um grande talento”, disse. “Quando estou diante de jogadores que nos fazem sonhar, não posso dizer nada de negativo”, explicou. Mas o cartola então fez uma pausa, abriu os braços e riu. “Claro, ele vai mostrar mais habilidades no futuro”, disse. “Ele vai mostrar suas reais habilidades no futuro”, completou. Seu tratamento foi diferente ao abordar a participação de Lionel Messi nesta Copa. “Esperávamos mais da Argentina”, disse. “Mas Messi é grandíssimo, como sempre. Fez um golaço. Se ganhassem de 2 a 1 da França, caso se fechassem, Messi poderia mostrar ainda mais. Não se discute Messi. Ele nos faz sonhar há dez anos e vai continuar”, apostou.