Grupo da região se prepara para caminhada de 820 km até Santiago de Compostela

Adelvo Carelli, de 45 anos, integra equipe de oito pessoas que fará o tradicional percurso europeu a partir de 28 de agosto


Por Davi Sampaio e Vinicius Soares

08/08/2025 às 06h00- Atualizada 08/08/2025 às 11h27

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Adelvo começou a fazer caminhadas durante a pandemia, antes de completar diferentes desafios (Foto: Arquivo pessoal)

Acostumado com as trilhas e montanhas de Ibitipoca, o mineiro Adelvo Carelli, de 45 anos, vai dar um passo além. Ao lado de outros sete companheiros – quatro de Lima Duarte e três de Juiz de Fora -, ele embarca no próximo dia 26 para encarar o tradicional trajeto entre a França e Santiago de Compostela. A equipe começa a andar no norte francês até chegar à cidade espanhola, em um percurso de cerca de 820 quilômetros, que será percorrido em 26 dias.

“É um sonho que eu tinha. Vou agradecer se conseguir completar o percurso. Será uma missão cumprida”, resume Adelvo. O caminho de Compostela, famoso roteiro de peregrinação cristã, atrai caminhantes do mundo inteiro. “O pessoal de Juiz de Fora faz a cada três anos. Arrumei mais três pessoas conhecidas e vamos em oito. É o esporte que gostei de fazer. Faço por mim mesmo e incentivo outras pessoas”.

A paixão pelas caminhadas começou durante a pandemia, quando pequenas trilhas evoluíram para maratonas de resistência. “Comecei com cinco quilômetros e fui aumentando. Já fiz 107 quilômetros em um dia, 17 horas de caminhada. Aqui na região mesmo, saindo de Lima Duarte e chegando em Pedro Teixeira”, conta Adelvo. O gosto pelo desafio já o levou a Aparecida do Norte sete vezes e até à Gávea, no Rio de Janeiro, sempre a pé.

O grupo, batizado de Caminhando entre Serras, decidiu não fazer reservas nos albergues pelo caminho, justamente para manter a flexibilidade. “Temos um mapa com os locais para finalizarmos o percurso. Mas às vezes você pode andar mais ou menos. Por isso, vamos decidir na hora”, explica.

Mais do que um desafio físico, a experiência representa uma jornada de autoconhecimento, conexão com a natureza e espiritualidade. “Para a saúde, ter contato com a natureza, com pessoas. Traz conhecimento, e você quer fazer percursos mais longos. É uma caminhada muito famosa. É algo de outro mundo”, descreve Adelvo.

Enriquecimento espiritual

Quem também integra o grupo de caminhantes é Marco Aurélio Costa, de 62 anos. O juiz-forano faz caminhadas há 14 anos e já percorreu o caminho de Santiago de Compostela três vezes. Costa revela que faz o trajeto de três em três anos, porém, mesmo não tendo mais o ineditismo, cada vez é única.

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Marco Aurélio revela as fotos para eternizar as lembranças de cada ida a Santiago de Compostela (Foto: Arquivo pessoal)

“Completar o caminho de Santiago de Compostela é uma coisa que preenche o nosso ser, porque a gente tem um vazio dentro de nós, e quando a gente se dispõe a fazer alguma coisa que te faz feliz, que te preenche, você fica cheio de Deus, cheio do Espírito Santo e quer irradiar para as pessoas que estão ao nosso redor. Mas é uma luta constante, porque não é nada fácil se organizar, ficar 30 dias fora. Só a força de Deus, o Espírito Santo, que nos fortalece para a gente conseguir essa folga no trabalho”, descreve Marco Aurélio.

O caminho de Santiago de Compostela, entre os seus 820 quilômetros e 26 dias de caminhada, apresenta o maior desafio logo no começo, de acordo com Marco Aurélio. ”O primeiro dia é o mais difícil, o dos Pirineus (cadeia montanhosa que separa a Península Ibérica da Europa continental), que é quando atravessamos a divisa da França com a Espanha. São 27 quilômetros e meio. Depois, as coisas vão se encaixando e a gente vai relaxando, porque não é fácil subir e descer montanha”, relata Costa.

Para Marco Aurélio, a constância nos treinos, na alimentação e nos cuidados é o suficiente para suportar a caminhada de Compostela. “Eu caminho cerca de quatro vezes por semana. A preparação é durante a vida inteira. Quando a gente se prepara para alguma coisa, tem que ser a vida inteira. A gente come todo dia, dorme todo dia, trabalha todo dia. A gente precisa ter essa preparação espiritual e física também para que não sejamos surpreendidos na viagem de Santiago de Compostela”, afirma.

Marco Aurélio compreende que completar o caminho até a cidade espanhola é mais do que superar os limites físicos: é uma evolução espiritual. “O caminho de Santiago foi criado na época de Tiago, que é apóstolo de Jesus. Ele fazia esse caminho a pé, evangelizando nas montanhas, nas paróquias e nas comunidades rurais. E esse caminho de Santiago é um exercício de desapego, porque a gente leva as nossas mudas de roupa nas costas. Se você colocar muitas coisas, você não vai conseguir fazer. Durante o caminho inteiro, você encontra muito tênis, roupa, casaco, que as pessoas jogam fora por não aguentar carregar tudo”, reflete o caminhante.

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