Após 53 anos da fundação, clube Marianinho é vendido e demolido
Agremiação na Avenida Rui Barbosa, em área de 2100 metros quadrados, teria passado por complicações financeiras na pandemia
O Sport Club Mariano Procópio, mais conhecido em Juiz de Fora como Marianinho, fundado em 1969 e localizado na Avenida Rui Barbosa, no bairro homônimo à agremiação, na Zona Nordeste da cidade, é mais um clube que teve a sede vendida e está no processo de demolição no município, como ocorreu com o Tupynambás, no Poço Rico. A derrubada da estrutura acontece há cerca de um mês, como comprovado pela reportagem da Tribuna, que visitou o espaço no final de dezembro.
Segundo o último presidente do clube, Wilmo de Araújo, a decisão foi ocasionada por complicações financeiras advindas da pandemia. O valor da venda foi de R$ 2.300.000,00, “utilizado para pagar as dívidas que o clube tinha, e o remanescente dividido entre os sócios”, conforme o último mandatário da associação.
“As coisas não aconteceram como queríamos. Começamos a ter problemas financeiros, porque ficamos praticamente dois anos sem atividade por causa da pandemia. Quando retornamos (em outubro de 2021), vimos que a situação estava deficitária. Fizemos de tudo para manter o clube aberto. Mas não tinha muito o que fazer, as condições eram precárias”, conta Wilmo. “Eram muito poucos sócios, só 43. A manutenção estava cara, não dava para fazer só com o aluguel de nossa quadra”, reforça.
O presidente afirma que entende as indagações da sociedade à respeito do fim do clube, mas garante que não havia outra possibilidade. “Não tivemos apoio. Chegou onde chegou, infelizmente. Estou lá desde 2015 na presidência, sete anos tentando de todas as maneiras com que o clube andasse. Mas a pandemia devastou tudo. A ideia não era finalizar, era colocar o clube em frente”, declara.
Estrutura e história
O espaço onde se instalava o Sport Club Mariano Procópio possui 2100 metros quadrados, com uma piscina, uma sauna, uma quadra poliesportiva, uma quadra de bocha, além de um salão de festas e um bar. “Eu era sócio do clube há mais de 20 anos. Sou professor de educação física, trabalhei com escolas de futebol lá. É um clube antigo, tem história. A Corrida da Fogueira foi iniciada no Marianinho. Temos muita tradição na bocha e no futsal. Sinto muito por ter entrado nessa época de pandemia. Fizemos de tudo para mantê-lo aberto, mas não tínhamos o que fazer”, conta Wilmo.
No dia em que a reportagem esteve nos arredores do local, a corretora de imóveis Priscila Aguiar, sócia do clube desde os dez anos de idade, passava pelo local. De acordo com ela, que também trabalhou na secretaria e na cantina da agremiação até 2014, as memórias são positivas. “Tinha vários campeonatos, principalmente de bocha. Algumas escolas de samba vinham também. O clube era conhecido pelo forró. Vinha gente de fora, tinha uma fama. Era um lazer aqui no bairro, o pessoal se encontrava em churrasco, festa de aniversário, bailes. Havia sempre uma possibilidade de entretenimento no Mariano Procópio”, enxerga Priscila.
Apesar dos bons momentos vividos no clube, a ex-sócia avalia que o Marianinho teria sido abandonado nos últimos anos. “Depois de um tempo, o clube foi deixando de ficar interessante para os sócios. Começaram a fazer em esquema de diária, vinha gente de Juiz de Fora inteiro nadar no clube por um preço baixo no dia. O clube ficou ao Deus-dará, ninguém mais frequentava. Não tinha clima”, pontua. “Mas fiquei muito chateada com a demolição. Os moradores do bairro não receberam nenhum comunicado de que seria vendido”, revela a mulher.
A compra e a nova construção
Conforme Wilmo de Araújo relatou à Tribuna, a agremiação teria sido comprada pela empresa paulista BRL Trust Investimentos. Em contato com a Tribuna, porém, a administradora de fundos imobiliários negou a transação. O ex-presidente do Marianinho também não soube precisar o que será construído no local onde funcionava a agremiação esportiva.
De acordo com o edital de convocação para a assembleia extraordinária no Marianinho, agendada para 30 de junho de 2022, em que os associados do clube referendaram o contrato de compra e venda da sede, a operação seria concretizada pela Fato Gestora de Negócios Ltda, que, por sua vez, também negou a compra à reportagem. Wilmo reforçou que a Fato não teria participado da transação, apesar de ter assinado o edital de convocação à época.
Apesar de as empresas não confirmarem uma relação entre elas ou quem, de fato, realizou a compra até a edição desta matéria, a Tribuna apurou que a Fato Gestora de Negócios seria cotista de fundo administrado pela BRL Trust Investimentos.
A Tribuna também procurou o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) em busca de entender quem é o responsável pela compra e demolição do terreno, assim como o que será construído no local. Não há, no entanto, um procedimento aberto até o momento. “Estamos apurando as informações. A dificuldade é pelo fato de o MPMG estar de recesso forense, com funcionamento apenas em sistema de plantão”.