Sonhando com Paralimpíadas, judoca faz vaquinha para disputar competições
Deficiente visual, Isabele Gomes precisa de apoio financeiro para representar Minas Gerais nos Jogos Escolares
A paratleta Isabele Gomes, de 15 anos, moradora do Bairro Santo Antônio, na Zona Sudeste de Juiz de Fora, busca apoio financeiro para competir no Open de Judô Inclusivo, nos dias 26 e 27 de outubro, em Maceió; e nas Paralimpíadas Escolares, pela seleção de Minas Gerais, entre 20 e 25 de novembro, em São Paulo (SP). Para isso, ela promove uma vaquinha on-line. Cega de um dos olhos e com baixo nível de visão do outro, a adolescente tem o sonho – e grande chances, de acordo com o seu sensei, Marco Túlio -, de representar a seleção brasileira nas Paralimpíadas de Los Angeles, em 2028.
“Ela precisa de dinheiro para pagar os campeonatos, de uma academia para fazer musculação e uma suplementação. Vem de família humilde e falta apoio na cidade. Queremos disputar o Open e as Paralimpíadas Escolares neste ano e, em 2025, o Circuito Loterias Caixa, da Confederação Brasileira, para começar a pontuar no ranking. Em 2028, ela terá 19 anos e tem talento para chegar nas Paralimpíadas”, garante o treinador do Centro de Estudos e Prática de Artes Marciais (Cepam), academia no Bairro Grajaú, Zona Sudeste.
Rotina puxada e benefícios do esporte
A história de Isabele com o esporte começou cedo, em sua cidade natal, Muriaé, aos 7 anos. Antes disso, quando tinha 4, foi diagnosticada com toxoplasmose. Sua mãe, Angélica Gomes, levou a filha ao médico porque percebia que ela caía e esbarrava em objetos frequentemente. Foi constatado, então, que ela nasceu sem a visão do olho esquerdo por causa da doença. No início do ano passado, teve uma infecção grave no olho direito, causada pela toxoplasmose.
Com isso, ela começou a treinar e participar também de competições paralímpicas, e já venceu a Super Etapa da ABJI e os Jogos Escolares de Minas Gerais (JEMG). No momento, Isabele treina três vezes na semana no Cepam, sem deixar os estudos de lado. “Acordo cinco da manhã para ir à escola. Chego em casa, almoço, estudo e desço para o judô. Pego dois ônibus, um da minha casa até o centro e outro até a academia. Fiz vários esportes antes, como vôlei e futebol, mas gosto da luta. É o melhor momento dos meus dias”, conta a paratleta, fã de Rafaela Silva, medalhista olímpica.
Nos treinos, a judoca tem a companhia do seu irmão, Gustavo Gomes, de 13 anos. “Fico muito feliz de ver minha irmã subindo na vida, me inspiro nela. Somos parceiros. Quero ver ela nas Paralimpíadas um dia. Ela é uma irmã legal, me ajuda em tudo que tenho dificuldade”, diz o garoto.
Como conta o sensei Marco Túlio, Isabele tem o convite para treinar no Instituto Benjamin Constant, referência no judô para cegos e baixa visão, localizado no Rio de Janeiro (RJ). Entretanto, a dificuldade financeira é grande para as passagens, hospedagem e alimentação. “Ela não pode ir sozinha pela idade, tem que ter acompanhante. Acaba não indo e isso atrapalha a evolução. Se ela conseguir treinar nos principais lugares, vai melhorar cada vez mais. O esporte traz para a Isabele socialização, confiança e uma autoestima melhor, além de mais coordenação motora e equilíbrio. A questão da visão vira um mero detalhe, não mexe com ela”.
Foco nas Paralimpíadas
Atualmente, a muriaense participa tanto de competições olímpicas, como as etapas da Federação do Rio de Janeiro, quanto das paralímpicas, pela equipe Umbra/Clube de Regatas Vasco da Gama. A ideia é que ela também lute com pessoas sem deficiência para pegar ritmos e velocidades melhores. “De forma geral, o treinamento dela é parecido com o das outras pessoas. Adaptamos algumas coisas como começar com a pegada feita”, explica o sensei. “Chega nas competições e as mães não querem que as filhas lutem contra ela. É muito forte, tem técnica excelente, ótimos contra-golpes. Também é resiliente. A luta pode estar ruim, mas não esmorece, consegue reverter e aplicar o jogo dela”.
Como não poderia ser diferente, a judoca sonha alto. “Quero continuar treinando muito. Aqui converso com meus amigos, é um momento muito legal. Minha mãe sempre fala que é melhor eu estar treinando que na rua. Buscarei melhorar as partes táticas e físicas para estar nas Paralimpíadas de 2028”, mira Isabele, especialista nos golpes O-Goshi e Koshi-Guruma.
*Sob supervisão do editor Gabriel Silva