A América sobre duas rodas
O desafio de percorrer milhares de quilômetros em cima de uma bicicleta ultrapassou as barreiras dos sonhos de infância do equatoriano Andrés Campagña. Aos 29 anos, ele já percorreu diversos países da América do Sul junto de “Matilde”, sua mountain bike. Parou pela segunda vez em Juiz de Fora nesta semana, depois de ficar alguns dias apreciando as belezas naturais do distrito de Conceição de Ibitipoca. Segundo ele, a motivação para o desafio vem da paixão que sente pelas magrelas desde pequeno, quando farejava alguns mapas em busca da aventura perfeita: percorrer a América para “conhecer e dar a conhecer” sobre o que há de melhor em cada país.
A aventura começou no dia 18 de junho de 2013. Deixou a família em Quito, a capital do Equador, pensando em fazer uma viagem de baixo custo. Andrés é formado em engenharia mecânica e passou um ano se preparando para encarar o percurso. Iniciou seu trajeto pelo Peru, passando pela Bolívia e Argentina, parando na Terra do Fogo, Extremo Sul continental. “Tenho boas lembranças dos lugares onde passei, como o departamento de Amazonas, no Peru, o Salar de Uyuni, no Deserto de Sal, na Bolívia, e a Patagônia, na região argentina”, conta.
Ao retornar, passou também pelo Uruguai. Já no Brasil, Andrés atravessou toda a Região Sul do país, onde se deslumbrou com as Cataratas do Iguaçu, na divisa do Paraná com a Argentina. Entrou no Paraguai e retornou, seguindo viagem pelo interior do estado de São Paulo, passando pelas cidades que integram o Caminho da Fé. Entrou no estado do Rio de Janeiro, parando em Paraty, na capital e passando pela Serra de Petrópolis, seguindo até Minas, onde encontrou pouso em Juiz de Fora, na casa de uma cicloturista. “Estava em um restaurante à beira da BR-040 quando o marido dela me viu e me convidou a ficar aqui. Não tinha intenção de parar, mas acabei fazendo amigos e me apaixonando por Ibitipoca. Agora minha vontade é conhecer as cidades históricas da Estrada Real”, conta. Até aqui, Andrés contabiliza 20 mil quilômetros em todo o percurso.


Próximas etapas
O visto que possui para permanecer no Brasil foi concedido, a princípio, por apenas seis meses, mas isso não o intimidou. “Pensei que seria impossível atravessar um país deste tamanho neste tempo. Como existe um acordo entre as nações do Mercosul, consegui um novo documento, vai dar para ficar até uns dois anos”, revela. Nessa empreitada, ainda pretende percorrer as regiões do Nordeste, pelo litoral e o sertão, seguir pela Amazônia, passando pela Transamazônica, e finalizar o trajeto pela outra ponta do país, no estado de Roraima. Sua intenção é passar por cidades da Venezuela e seguir pela Colômbia, onde deve se decidir se irá se aventurar pela América Central ou se retornará ao seu país de origem. “Uso um aplicativo que vai me guiando, mas a rota sempre muda. Viajo muito por estrada de chão, pelo interior, porque é mais tranquilo. Carrego quase 30 quilos na bicicleta, então não dá para fazer trilhas.”
Embora prefira trechos sinuosos, como os morros de Minas Gerais, Andrés conta que o maior percalço de toda a viagem está na busca de locais para pernoitar. “Sigo pedalando durante o dia, e a maior dificuldade talvez seja encontrar lugar pra dormir. Ando sempre com minha barraca, saco de dormir, e às vezes sou obrigado a ficar na beira da estrada. O que me deixa é feliz é que poucas vezes precisei pagar para me hospedar. Isso prova que o povo da América do Sul é muito hospitaleiro”, conclui.
Incentivado pelo pai, Galo Campagña, 64, Andrés começou a pedalar desde pequeno e já tinha viajado de bike por todo o Equador. Espera levar pelo menos mais um ano e meio para concluir todo o trajeto a que se propôs e, neste tempo, encontrar algum patrocinador que o apoie na jornada. Motivado, o cicloturista diz que, embora preocupada, a família está feliz. “Estou realizando meu sonho, eles sabem disso e estão comigo.” Toda a saga de Andrés Campagña pode ser acompanhada pelo seu blog (https://rutaypedal.wordpress.com/) e também em sua página “Ruta y pedal” no Facebook.