Adulteração de bebidas traz impactos ao comércio de Juiz de Fora
Venda de bebidas destiladas tem queda, mas donos de bares acreditam em recuperação com as festas de fim de ano
Os recentes casos de adulteração de bebidas destiladas trouxeram impacto não só à saúde, mas também à economia brasileira. Pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) mostrou queda de 10% no número de empresas do setor que tiveram lucratividade — uma marca dos efeitos da crise provocada pelo medo da presença de metanol em produtos e da alta da inflação. Em Juiz de Fora, proprietários de bares e restaurantes identificaram diminuição nas vendas de bebidas destiladas, como também demonstraram-se confiantes com o aumento da demanda nessa época do ano repleta de festas.
A pesquisa da Abrasel revelou que, em agosto, 43% das empresas do setor tiveram rendimentos positivos, enquanto em setembro apenas 33% registraram lucratividade. O total de negócios em prejuízo passou de 16% para 27%. O Índice Abrasel-Stone também indicou queda de 4,9% no volume de vendas da categoria em setembro.
Segundo a presidente da Abrasel Zona da Mata, Francele Galil, o setor de bares e restaurantes tem enfrentado desconfiança por conta de ações ilegais de adulteração de bebidas. “Trata-se de um problema de saúde pública, que exige ação coordenada entre autoridades, setor produtivo e sociedade.” Mesmo sem registros de casos confirmados de bebida adulterada com metanol na cidade e na região, a avaliação é que a fiscalização de distribuidoras e empresas tem sido eficaz. Ainda segundo levantamento da associação, para os últimos meses do ano, 81% dos empreendedores esperam alta no faturamento em comparação ao mesmo período do ano passado.
De acordo com Rogério Barros, coordenador do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Juiz de Fora (SHRBSJF), nesse primeiro momento, houve redução de consumo e queda no faturamento no comércio, estimada entre 30% a 50%, segundo dados apurados por amostragem de alguns associados. “Estamos mantendo os associados e a população informados de que não há registro de casos em Juiz de Fora e região e que os produtos sejam adquiridos de fonte legal e com nota fiscal. Estamos na expectativa de que, em novembro, comece a normalizar e que as investigações sejam concluídas nos estados afetados.”
Donos de bares e restaurantes apostam na confiança nos fornecedores
No Vizú, a sócia-proprietária Maria Fernanda Manna, 34 anos, conta que as vendas com bebidas destiladas apresentaram queda. “Percebemos que os clientes ficaram receosos. Independente da gente trabalhar com parceiros corretos e notas fiscais, por buscarem maior segurança, optaram por beber mais chopes e vinhos.”
Como explica, tanto ela, quanto a sua equipe, tem contato direto com todos os fornecedores, em sua maioria produtores nacionais e regionais, nos quais há uma relação de confiança construída. Algumas das bebidas usadas no preparo de drinks têm seu processo de produção acompanhado por um dos sócios-proprietários, que também é mixologista e chefe de bar. De acordo com a sua avaliação, a situação já está bastante controlada. “Para os próximos meses e fim de ano, a tendência é normalizar, mas deixando sempre transparente para o cliente e dando outras opções para consumo sem ser destilado.”
A percepção de queda no consumo de bebidas destiladas também é compartilhada por Hugo Fernandes Costa, 31, sócio proprietário do Reza Forte. Durante os atendimentos, a equipe do estabelecimento tem reforçado a procedência de seus produtos aos clientes. Segundo ele, as bebidas são fornecidas ao bar por produtores, distribuidores e representantes legais. “Por mais que a gente saiba da procedência das bebidas, acho que essa insegurança do cliente é normal, a gente entende que as pessoas estão com medo. Não temos nenhuma medida para lidar com a situação, no sentido de reverter o problema das vendas. Continuamos fazendo exatamente do jeito que já fazíamos, comprando dos mesmos fornecedores, operando do mesmo jeito.”
Uma das bebidas mais utilizadas para preparar os drinks no bar é a cachaça. As garrafas de pinga são compradas de produtores locais, com os quais os proprietários do bar mantém relação próxima, de confiança, realizando visitas frequentes aos alambiques. “Quando falamos sobre as bebidas falsificadas e adulteradas, pensamos no uísque, na vodka, mas não muito na cachaça. É claro que existem muitos alambiques ilegais, mas não trabalhamos com cachaças sem controle no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa)”, afirma.
Thiago Pullig, 26, sócio proprietário do Bar do Luiz, também percebe que houve queda na venda de destilados no estabelecimento. Diante da situação, avalia, a experiência tem sido positiva, com todos cientes da regularidade e da procedência dos produtos. “Fizemos diversas reuniões para explicar a situação que estava ocorrendo sobre adulteração de bebidas, e nossos funcionários sempre estão dispostos para explicar ou tirar quaisquer dúvidas. Estudamos como conferir a originalidade dos produtos e testamos todas as bebidas para garantir a procedência.”
O sócio afirma que o bar, aberto na cidade há 23 anos, trabalha com os melhores fornecedores e marcas, com todos os produtos contendo notas fiscais. “Acreditamos que a situação tende a melhorar nos próximos meses. Essa conferência rígida sobre a procedência das bebidas tende a garantir o consumo seguro e a tirar de circulação marcas e empresas que atuam na produção de bebidas de maneiras inadequadas.”
Capacitação para identificar bebidas falsificadas
A Abrasel, em parceria com a Associação Brasileira de Bebidas Destiladas (ABBD) e a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), realizou treinamentos on-line gratuitos com orientações para identificar bebidas falsificadas e para proteger consumidores, capacitando mais de 13 mil pessoas no país, inclusive em Juiz de Fora e na Zona da Mata. Para auxiliar os empresários do setor na identificação de bebidas falsificadas, a associação também produziu a cartilha Combate ao mercado ilegal de bebidas: Como identificar e obter um produto autêntico.
A associação também é parceira do projeto “O legal merece um brinde” do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), uma ação que busca conscientizar comerciantes e consumidores sobre os riscos da clandestinidade e incentivar o consumo de bebidas alcoólicas registradas e de qualidade. “Nesse caso, o foco é mais na compra e comercialização de cachaça mineira legal, produto que figurou como ingrediente obrigatório nas últimas duas edições do festival gastronômico JF Sabor. Mas é um trabalho de conscientização que já foi iniciado e que, com certeza, já vem trazendo bons resultados”, avalia
Francele.









