JF Carreiras: Profissionais buscam qualificações para atender novas exigências
De 40 a 55 anos, trabalhadores buscam especializações ou novos cursos, para continuarem competitivos ou para buscar novos caminhos
Diz o ditado que nunca é tarde para aprender, recomeçar, estudar, entre outras ações que podem trazer mudanças de vida. Quando o assunto é a carreira profissional, há quem opte por buscar novos caminhos na meia-idade, através de qualificações – seja uma nova graduação ou especialização -, partindo de exigências do mercado de trabalho ou mesmo pelo desejo de se recriar. Em Juiz de Fora, mais de 300 pessoas acima de 40 anos estão cadastradas no sistema do Centro de Integração Empresa-Escola de Minas Gerais (CIEE-MG) em busca de uma oportunidade de estágio. Destes, quase 150 são para vagas de nível superior, e cerca de 160 para área técnica e ensino médio/Educação de Jovens e Adultos (EJA). Os números exemplificam uma pequena parcela da população juiz-forana que está explorando outros rumos na recolocação profissional.
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Filho de uma contadora e um advogado, o estudante do 5º período de administração do Centro Universitário do Sudeste Mineiro (Unicsum), Paulo César de Castro, veio de Conselheiro Lafaiete para Juiz de Fora, em 1988, para estudar na área científica. Entretanto, logo no primeiro período, cancelou o curso e iniciou outro de técnico em contabilidade. Se formou em 1992, vindo a trabalhar também em empresas de outras cidades, como Niterói e Rio de Janeiro. Em 2015, Paulo César criou seu registro como Microempreendedor Individual (MEI), atuando em Juiz de Fora na prestação de serviços administrativos. “Eu resolvi fazer administração em 2018 porque o contador entende a contabilidade, mas administrar mesmo uma empresa, no seu geral, ele não entende muito. Nós temos que unir as profissões. As profissões são feitas para somar e agregar valores.”
Atualmente com 48 anos, o estudante aponta a ampla concorrência na área de contabilidade como um dos fatores que levam a necessidade de buscar novas capacitações. “Estou no meio de uma turma de 18 e 20 e poucos anos – só uma colega que tem 33”, conta. “Nós vamos ficando mais velhos, e o pessoal vai tirando a gente do mercado, então nós temos que correr atrás de atualizações.”
Conciliando o curso com os trabalhos como MEI, Paulo César chegou, inclusive, a fazer estágio de administração na Receita Federal. “O mercado estava precisando de uma coisa nova e eu também. Não adianta ficar ‘chovendo no molhado’ ou ‘bater em ferro frio’, como diz o ditado. Tem que buscar coisas que você fica feliz em trabalhar e em atender as necessidades que as pessoas almejam nas empresas.”
‘É preciso se reinventar’
Com o tempo, o mercado de trabalho impõe novas exigências e, assim, é necessário buscar formas de se atualizar para manter a empregabilidade, seja buscando especializações ou novos cursos, de acordo com a coordenadora do curso de Administração do Centro Universitário Estácio Juiz de Fora e especialista em gestão organizacional, Lucimar Soares. “O mercado precisa de pessoas que inovam e que tragam diferencial, seja para produto ou qualquer tipo de serviço. As pessoas percebem que vão chegando pessoas novas, com mentalidade diferenciada, e se já está ali tem um tempo, então precisa se reinventar para se manter.”
A dificuldade em continuar buscando novos aprendizados vem de cada pessoa, entretanto, a especialista aponta a necessidade de se planejar. “Se eu desejo buscar uma nova qualificação, eu devo saber trabalhar e otimizar o seu tempo, para que as duas coisas possam estar me atendendo e eu possa estar indo de encontro com aquilo que eu busco, que é a minha recolocação profissional ou minha qualificação para esse mercado exigente que vivemos.”
‘Não me imaginava estar formado depois dos 40’
Ao longo de sua carreira, o jornalista Marcos Alfredo, de 49 anos, percebeu diferentes mudanças na economia que acabaram impactando-o profissionalmente. Em 1990, ele se formou em técnico em eletrônica, trabalhando com conserto de aparelhos. Entretanto, com a chegada dos computadores, o setor foi afetado por uma queda na demanda de serviços. Percebendo isso, Marcos, que dominava a língua inglesa, passou a lecionar o idioma em escolas. Em 1996, ele passou a atuar com filmagem e fotografia de eventos, realizando o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) em 2004, a partir da vontade de ter o próprio negócio.
Paralelamente, Marcos também trabalhava com a criação de sites, mantendo seu próprio portal de turismo, com cobertura de cidades como Ouro Preto, Caxambu, Lima Duarte e mesmo Juiz de Fora. Anos mais tarde, novas mudanças foram sentidas, e os serviços também tiveram queda na demanda. “Eu vi que estava acontecendo uma coisa muito forte, tanto para eu trabalhar com site, como para trabalhar com fotografia e vídeo. Então eu percebi que tinha que me profissionalizar e buscar mais coisas. Aí resolvi, em 2015, entrar no jornalismo.”
Marcos se formou em 2018 pelo Centro Universitário Estácio Juiz de Fora. Durante a graduação, foi estagiário da Prefeitura de Juiz de Fora e da Rádio Itatiaia, onde, atualmente, trabalha como editor de web. Ele também atua como repórter correspondente do Estado de Minas em Juiz de Fora, além de ser orientador da Empresa Júnior Acesso, da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). “Eu não me imaginava estar formado depois dos 40, porque, na minha época era muito difícil ter formação. Então agarrei com tudo, mesmo com apertos, fiz o máximo para aproveitar”, conta. “A família também sempre deu muito apoio, tanto minhas duas filhas, quanto minha esposa, pai, mãe e irmã. Isso ajuda muito porque, ao entrar na faculdade aos 45, você está mudando o rumo de vida.”
Logo após a graduação, Marcos iniciou uma pós em Comunicação, Marketing e Mídias Sociais. “Quanto mais você aprende, mais você sabe que não sabe”, brinca. “É claro que tem muitas coisas que nós já sabemos, mas tem muita coisa nova, então você tem que se atualizar.” O jornalista também está sempre em busca de atualizações por meio de cursos on-line. “Tenho colegas e amigos que ficaram em empregos por 20 anos. Agora, o que eu noto é que as coisas mudam, às vezes, de um semestre para o outro. Às vezes, o que você está fazendo agora, daqui a dois anos não serve para mais nada”, aponta Marcos. “O que eu percebi comigo, até no mercado de trabalho, é que não basta ser qualificado, tem que ser qualificado mas sempre ter alguma coisa além para poder oferecer.”
Recolocação demanda preparação em diferentes áreas e boa saúde
Apesar de ainda existir preconceito com pessoas acima de 40 anos que buscam se recolocar no mercado de trabalho, a especialista em gestão organizacional, Lucimar Soares, aponta que tal questão depende de quem realiza os processos seletivos, entretanto, atualmente, grande parte dos empresários têm visualizado a troca de conhecimentos entre os mais jovens e os mais velhos. “Cada caso é um caso mas, de modo geral, as empresas já começam a perceber que se você tem mais de 40 anos, não significa que você não está mais preparado.” E se uma vaga temporária surgir, o conselho é não descartar a possibilidade. “Ela pode ser a porta de entrada para ocupar outra posição”, diz a especialista.
Além de buscar se capacitar para o que o mercado de trabalho espera, um dos pontos importantes para pessoas acima de 40 anos é cuidar, também, da saúde. “Como eu tenho me preparado de diversas maneira, seja ela na questão da saúde ou qualificação? O que eu tenho feito para, ao chegar no processo seletivo, eu possa estar oferecendo e dizendo para eles que tenho essa idade, mas eu estou bem?”, são alguns questionamentos que devem ser feitos na procura para se recolocar no mercado de trabalho, segundo Lucimar.
A especialista também aponta a necessidade de dominar um segundo idioma, especialmente o inglês, bem como estar atento às próprias redes sociais. “Preste atenção no que você tem colocado no seu LinkedIn, no seu Facebook ou no Instagram, porque quando você vai para o mercado de trabalho, você está sendo analisado em todas essas áreas, não só no momento do processo seletivo.”
‘Preciso ressignificar minha vida’
Além das pessoas que buscam novas qualificações em áreas semelhantes de conhecimento, há quem opta por mudar para outra diferente, como no caso da futura pedagoga Geiza Costa, de 43 anos. Por mais de 20 anos, ela atuou no setor de comércio. Em 2020, iniciou o curso de pedagogia na Faculdade Metodista Granbery. A mudança partiu do seguinte pensamento: “preciso ressignificar minha vida”.
“Tive que fazer uma análise sobre o que fiz, o que eu gosto, o que me deixaria feliz, aí eu tive a certeza de que a Pedagogia para mim, hoje, me traria satisfação pessoal. Não só trabalhar por conta do dinheiro, mas porque sei que vou poder impactar muitas outras vidas com a minha postura, com os meus ensinamentos, e, até mesmo, com a formação minha e de outras pessoas que conviverem comigo”.
Quando ainda trabalhava no comércio, Geiza buscou qualificações para atender a sua carreira profissional, como graduação de Gestão Comercial, além de Master of Business Administration (MBA) em Gestão de Pessoas. Entretanto, com a rotina corrida do setor, faltava tempo para outros projetos pessoais. “Por essa necessidade de ter mais proximidade com a família e ter uma vida social mais ampla, eu decidi sair do comércio. Só que eu percebi que, para entrar em qualquer outra parte de trabalho, estava muito difícil porque você acaba ficando rotulada. Você sempre trabalhou no comércio, então outras empresas que te chamam, tendem a te puxar para a área comercial.”
No primeiro período da graduação em Pedagogia, Geiza acredita que a maturidade auxilia a lidar com as mudanças oriundas do novo projeto. Para o futuro do mercado de trabalho na sua nova área de atuação, as perspectivas são positivas. “Nós sabemos que o mercado tem dificuldades. Não adianta ‘romantizar’, ainda mais na área de educação, tanto nos setores público e privado, onde sabemos que tem muitos problemas e muitas restrições”, diz. “Eu acredito que, com o tempo, vai melhorar, vai criar uma consciência da necessidade da educação. Penso que vai chegar um momento em que não teremos mais essa evasão das escolas, porque eu acredito muito na educação, não só na parte do decorar e entender conceitos, mas até mesmo no aspecto de vida do ser humano.”