Construção civil emprega seis mil e movimenta R$ 13 mi em salários
Com 925 empresas que empregam mais de seis mil trabalhadores, setor confirma relevância econômica e social mesmo em tempos de crise
Responsável por gerar empregos, renda e melhorias em infraestrutura, a construção civil também promove impactos diretos em outras atividades econômicas. Quando o setor vai bem, acaba por aquecer outras áreas da indústria, o comércio e os serviços. Exatamente por isso é considerado como “termômetro da economia”. E, em momentos de crise, como este que o país atravessa, as expectativas são direcionadas para o crescimento deste setor. Em Juiz de Fora, a construção civil se mostra pujante, sendo o maior segmento da indústria local, responsável por empregar 6.215 trabalhadores e pagar em torno de R$ 13 milhões em salários por mês. Os números são um cruzamento entre os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais). De janeiro a julho deste ano, arrecadou quase R$ 2 milhões em Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISSQN), conforme informações da Secretaria da Fazenda da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF).
Para além da relevância econômica, a construção civil também desempenha importante papel social. A edificação de moradias reduz o déficit habitacional, enquanto os investimentos em obras promovem melhorias de infraestrutura no espaço urbano. Além disso, por necessitar de muita mão de obra, gera um grande número de empregos, boa parte direcionada a profissionais com menor qualificação e que encontram maior dificuldade para ingressar ou se recolocar no mercado de trabalho.
A cidade possui 925 estabelecimentos que atuam no setor, segundo os dados mais recentes da Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia. “A construção civil tem grande relevância para a economia local e, também, para os municípios do entorno. Como somos uma cidade polo, atraímos pessoas da região para morarem, trabalharem e consumirem aqui. Termos um setor forte significa crescimento e desenvolvimento para toda a Zona da Mata”, avalia o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) Regional Zona da Mata e do Sindicato da Indústria da Construção de Juiz de Fora (Sinduscon-JF), Aurélio Marangon.
Minascon
Marangon ressalta que o desempenho do setor local é reconhecido em todo o estado de Minas Gerais. “A prova disso é que, no ano passado, Juiz de Fora foi escolhida para sediar a 15ª edição do Encontro Unificado da Cadeia Produtiva da Indústria da Construção Civil (Minascon).” Durante 13 anos consecutivos, o evento foi realizado na capital Belo Horizonte. Já a 14ª edição foi feita em Uberlândia.
O Minascon reuniu centenas de pessoas – entre empresários, fornecedores, profissionais e estudantes – para a apresentação de produtos e soluções inovadoras, discussão sobre o uso da tecnologia na construção civil e geração de negócios. “A realização deste evento é mais uma forma de o setor impulsionar a economia. Além da própria concretização de negócios durante o evento, foram muitas pessoas de fora que estiveram na cidade, se hospedando e consumindo”, analisa Marangon. Segundo ele, a cidade irá receber novas edições.
Apesar da retração econômica, investimentos são realizados
Apesar de ainda sentir os reflexos da retração econômica, os investimentos seguem sendo realizados pelo setor na cidade, conforme observa o economista e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Weslem Faria. “Ainda há os efeitos da crise, o que torna a retomada do crescimento para todas as atividades econômicas mais lenta. No caso da construção civil, os investidores ficam mais precavidos. No entanto, temos visto muitos imóveis em construção, o que demonstra um aquecimento acima dos parâmetros esperados para este tipo de contexto.”
Em julho, o Índice de Confiança do Empresário da Indústria da Construção de Minas Gerais (Iceicon-MG) atingiu 53,8 pontos, o que representou crescimento de três pontos ante o registrado em junho (50,8 pontos). O resultado mostra aumento do otimismo e, na análise da Fiemg Regional Zona da Mata, foi “influenciado, principalmente, pelas expectativas mais positivas do setor para os próximos seis meses.”
Redução de juros pode favorecer setor
Para o economista e professor da UFJF, Weslem Faria, a recente queda da Selic, que passou de 6% para 5,5% ao ano, pode trazer impactos positivos para a construção civil. “A redução tende a facilitar o acesso ao financiamento, o que pode contribuir para aumentar a demanda e os investimentos.” Neste sentido, ele acredita que as perspectivas para 2020 podem ser melhores. “A taxa de juros deve cair ainda mais e intensificar este impacto entre consumidores e investidores.”
Na última terça-feira (17), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central realizou o segundo corte consecutivo na taxa básica de juros. Em comunicado oficial, a autoridade monetária informou que novas reduções podem ocorrer e justificou que indicadores de atividade econômica sugerem retomada do processo de recuperação da economia brasileira de forma gradual.
Na avaliação do economista, a retomada consistente do crescimento da construção civil está atrelada à recuperação da economia. “Só assim as pessoas poderão ter renda para se planejarem para a compra de imóveis.” Weslem destaca que, com a economia aquecida, os investidores também irão ficar mais confiantes para realizar investimentos em longo prazo, atendendo as demandas ativas também no setor de infraestrutura, como construção de pontes, rodovias e viadutos.
O presidente da Fiemg Regional e do Sinduscon-JF, Aurélio Marangon, concorda. “A manutenção da taxa básica de juros Selic e a inflação controlada favorecem a retomada. O empresariado está confiante e isto pode fazer com que os projetos que foram paralisados saiam do papel.”
Tecnologia, sustentabilidade e acessibilidade em destaque
Para além das questões que desafiam a retomada do crescimento econômico, o trabalho da construção civil pelos próximos anos deve se direcionar em três principais focos: o uso de tecnologias inovadoras para a implantação da chamada indústria 4.0, a inclusão de práticas sustentáveis na realização de processos e a garantia de acessibilidade nas novas edificações. Para Marangon, o setor local já atua nestas frentes.
A indústria 4.0 se refere ao uso de inteligência artificial em toda a cadeia produtiva. “Ainda não estamos neste nível, mas a busca pelo conhecimento para chegarmos lá está acontecendo”, afirma o presidente, concluindo que “este é o futuro para todos os setores industriais e é preciso envolver os empresários neste processo de transformação”.
Com relação às práticas sustentáveis, as empresas juiz-foranas também estão atentas. “As construtoras solicitam aos arquitetos projetos que tenham este conceito.” Ele exemplifica que a cidade tem prédios com medidor de água individualizado, iluminação em LED, gás encanado, coletores de lixo separados e outras aplicações que garantem menor impacto ao meio ambiente. A preocupação com sustentabilidade também está presente no canteiro de obras, onde já são realizadas a reutilização da água e o gerenciamento de resíduos. “São práticas que vão se intensificar cada vez mais.”
Com relação à acessibilidade nas edificações, para Marangon, a preparação também tem ocorrido na concepção dos projetos. “Há o reconhecimento de que este tipo de investimento é mais do que necessário. As empresas estão direcionando esforços neste sentido.”