JF tem quase 400 estabelecimentos fechados durante pandemia
Estimativa do Sindicomércio considera lojas no Centro, em shoppings e comércio de bairro
Com a migração de Juiz de Fora para a onda amarela do Minas Consciente, um outro ponto tem chamado a atenção pelas ruas da cidade: estabelecimentos que, antes da pandemia do coronavírus, eram pontos comerciais, hoje estão com as portas fechadas. O Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio/JF) estima que cerca de 200 lojas encerraram suas atividades desde março deste ano apenas no Centro da cidade. Se incluir o comércio dos bairros e os shoppings, a estimativa é que haja cerca de 400 espaços fechados. Na última quarta-feira (12), a Tribuna esteve nas ruas e contabilizou, ao menos, 130 pontos comerciais fechados na área compreendida entre as ruas Mister Moore e Braz Bernardino e as avenidas Rio Branco e Getúlio Vargas, incluindo lojas em galerias da região.
De acordo com o presidente do Sindicomércio-JF, Emerson Beloti, o aluguel é um dos fatores que levou muitos empresários a encerrarem seus negócios. Grande parte não conseguiu negociar com locadores e viu a necessidade de entregar o ponto. Já para quem conseguiu reabrir, após Juiz de Fora avançar de onda no Minas Consciente, a retomada vem com dificuldade. “Acho que os locadores vão ter que fazer revisões, porque o lojista está com outro tipo de faturamento. O comércio não está vendendo lá essas coisas, só está dando movimento porque as pessoas não saíam há quatro meses”, explica.
No levantamento realizado pela Tribuna, entre placas de aluga-se, portas com cadeados e vitrines vazias, 133 pontos comerciais estavam fechados na cidade. Desses, 60 se encontravam nas galerias localizadas na região visitada. Entre as ruas com mais estabelecimentos fechados, encontram-se a Barbosa Lima (16), São João Nepomuceno (10) e Marechal Deodoro (9).

Entrega do ponto
Na cidade, houve casos em que uma empresa, com mais de uma filial, precisou entregar um dos seus pontos. A exemplo, a loja de roupas esportivas Top Fitness, que antes contava com quatro unidades em Juiz de Fora, optou por fechar uma localizada na Rua Mister Moore, como medida para redução de gastos, de acordo com o proprietário Rodrigo Toledo. “Em shopping, além do aluguel, o condomínio é mais alto, e como tínhamos duas lojas no Centro, optamos por fechar a do shopping. Também ficamos com receio de ter que fechar as outras, mas estamos segurando”, conta.
Com a reabertura do comércio, a expectativa da empresa é que as vendas possam melhorar. “Infelizmente, como eu fechei, alguns concorrentes também fecharam, então acredito que vai ser menos concorrência. Também tem uma demanda represada. O pessoal talvez queira compensar o tempo que ficou sem consumir. Acredito nisso”, diz Rodrigo. “Muita gente teve que fechar uma única loja que tinha e provavelmente não vai conseguir mais voltar. Com isso, foram vários empregos embora. Ficamos muito tristes com isso.”
Empregabilidade
Sem capital de giro, a crise acabou impactando também os empregos. Só no setor comercial, cerca de cinco mil pessoas foram demitidas em Juiz de Fora, o que representa quase 10% do efetivo que, antes, era de 42 mil, de acordo com o Sindicomércio. “Sem empregabilidade não tem consumo, aí a cidade agoniza e tem problemas”, aponta o presidente Emerson Beloti, acrescentando que a categoria busca um equilíbrio na retomada das atividades. “A saúde é imperativa. Não estamos falando que a saúde deve ser comparada a qualquer coisa. Mas temos que buscar esse equilíbrio porque, se não, você trata da saúde e mata o seu sustento”, diz.
Na avaliação do presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Juiz de Fora (CDL/JF), Marcos Casarin, os impactos da pandemia ainda devem ser observados pelos empresários por muito tempo já que, para sobreviver à crise, muitos buscaram, por exemplo, empréstimos. “As sequelas vão ficar para frente, um ou dois anos, porque, às vezes, ele se endividou ou prorrogou o aluguel em um acordo, então vai ter que pagar na frente”, diz. “Não significa que reabriu e está resolvido.”
Desta forma, Casarin alerta para a necessidade de cuidados na retomada das atividades em relação às questões de saúde e higienização. “Temos que ter a noção de que o vírus continua. Enquanto não tiver vacina, nada vai se resolver de uma hora para outra. Temos que ter mais consciência ainda para o quadro epidemiológico não avançar”, ressalta.
Reabertura deve ser feita com precaução, diz especialista
De acordo com o professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fernando Perobelli, dentro deste quadro de grande restrição econômica, os empresários que não possuíam um “colchão de liquidez” – dinheiro de reserva para ser usado em momentos de baixa demanda – acabaram ficando mais vulneráveis com a crise econômica ocasionada pela pandemia. “Houve demora muito grande de acesso ao crédito que estava sendo disponibilizado pelo Governo federal para esse tipo de empresário, para atuar minimizando a crise, tanto pelo lado da pessoa jurídica, quanto pelo lado da pessoa física”, diz o professor. “Como Juiz de Fora tem um percentual bastante grande do seu processo produtivo e geração de renda dependentes do setor comercial, que foi um dos setores mais impactados, nós realmente vivenciamos o fechamento dessas unidades.”
Com a reabertura, o economista avalia que os empresários deverão retomar as atividades com precaução. Isso porque a demanda dos consumidores não deve ser do mesmo nível anterior à crise. “A renda da grande maioria da população foi reduzida, e mesmo aquela população que teve uma menor diminuição da renda, está no processo que a gente chama de consumo precaucionista, ou seja, vai consumir apenas bens que são essenciais, porque há uma instabilidade econômica muito grande. Nós não sabemos qual vai ser a duração dessa crise, e as pessoas têm medo de perder seus empregos”, exemplifica.
Campanha
Para a retomada, o especialista avalia que seja o momento de os empresários apostarem em campanhas, em especial, nas plataformas digitais, a fim de reconquistar seu público. “É preciso reafirmar as questões higiênicas, mostrando a segurança do seu empreendimento para esse consumidor retornar, investindo muito na relação com o mesmo”, aponta. “É um novo comportamento do consumidor que terá que levar a um novo comportamento do empresário.”

Bares e restaurantes também foram afetados
As dificuldades econômicas afetaram, também, bares e restaurantes em Juiz de Fora. O setor vem buscando articular a retomada das atividades juntamente com o Comitê Municipal de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19. Na sexta-feira (14), a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) publicou decreto com as especificações voltadas às novas regras de funcionamento para restaurantes. Entretanto, permanece vedado o consumo interno em bares, que deverão continuar realizando apenas vendas por meio de delivery e retiradas no balcão.
De acordo com a presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes Regional Zona da Mata (Abrasel-ZM), Francele Galil, o número de estabelecimentos que fecharam as portas pode chegar a cerca de 30% da categoria, entretanto, a retomada das atividades irá auxiliar a definir um balanço mais efetivo das perdas. “Esse quadro pode mudar a partir do momento em que empresários avaliem e façam suas contas, para saberem se esse padrão que foi determinado pelo Comitê seria o suficiente para que eles pudessem retomar as atividades dentro desse novo normal”, justifica.
Assim como no comércio, manter os aluguéis dos espaços foi um ponto que impactou o segmento nos últimos meses. Entretanto, a apreensão também está na manutenção dos empregos, de acordo com Francele. Isto porque, até então, os estabelecimentos contavam com a Medida Provisória 936 – convertida para a Lei 14.020/2020 -, o Programa Emergencial para Manutenção de Emprego e Renda. “Estamos finalizando o subsídio dado pelo Governo federal, e isso traz uma preocupação a mais para a categoria. Ou seja, como manter esses funcionários, a estabilidade e os salários ainda com as portas fechadas. Enquanto ainda há esse subsídio, o aluguel fica em primeiro lugar como fator dificultador. Mas, no segundo momento, seria a questão da mão de obra.”
De acordo com a presidente da Abrasel-ZM, o setor já soma mais de 800 demissões. “É um sistema muito vulnerável. Não são empresários que têm um capital de giro para poder segurar e manter esses praticamente seis meses de atividade cerceada”, diz.