Com queda na empregabilidade, comércio aposta em recuperação no segundo semestre
Dados do Caged mostram que segmento fechou 269 postos de trabalho entre janeiro e julho de 2023; vagas temporárias podem ser oportunidade de contratação
Nos primeiros sete meses de 2023, o setor comercial apresentou baixa na empregabilidade em Juiz de Fora. De acordo com o Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), de janeiro a julho, a diferença entre as contratações e as demissões resultou em um saldo negativo de empregos formais, com o fechamento de 269 postos de trabalho. Os dados mais recentes do Caged, divulgados no último dia 30, mostram que, considerando todos os segmentos, Juiz de Fora perdeu 183 postos de trabalho em julho. Destes, 160 foram do comércio, setor mais afetado em relação a empregabilidade naquele mês.
Esta foi a primeira queda no número de empregos do comércio desde fevereiro, quando houve o fechamento de 290 postos de trabalho. De março até junho, o setor vinha acumulando saldos positivos, mas que não refletiram em um resultado favorável para o setor no ano. Apesar do saldo observado no período, o segmento aposta no desempenho do segundo semestre para melhorar o cenário com a ampliação das vendas, já que as próximas datas comemorativas, como Dia das Crianças, Black Friday e especialmente o Natal, exigem dos estabelecimentos novas contratações, ainda que temporárias, para auxiliar no crescimento da demanda.
Contratações temporárias podem ser oportunidade
Por atuar predominantemente com peças predominantemente do vestuário de verão, a loja Outlet Fashion registrou baixo movimento nos últimos meses, de acordo com a gerente, Janaina Oliveira. Por conta disso, o estabelecimento fez cortes no quadro de funcionários em uma de suas duas unidades. Entretanto, pela proximidade da temporada primavera/verão, as expectativas são melhores. “Para nós, essa época de setembro em diante é a melhor para as vendas, assim como a do início do ano, entre janeiro e fevereiro. São as datas em que vendemos mais”, aponta. “Para o final do ano, nós pegamos freelancers. Dando certo e a empresa gostando do funcionário, nada impede dele continuar conosco.”
Para quem trabalha especialmente com brinquedos, os próximos meses também trazem expectativas de melhora para o setor com o Dia das Crianças, comemorado em 12 de outubro, e com o Natal. De acordo com Jéssica Ferreira Rosa, vendedora da loja Max Granatão, as vendas no primeiro semestre de 2023 também foram baixas. Mas, com a expectativa de aumento da demanda, o estabelecimento se prepara com novas mercadorias e, já a partir deste mês, com novas contratações. Para a vendedora, os consumidores têm dado prioridade a produtos de gêneros alimentícios, deixando para segundo lugar itens como brinquedos e roupa de cama. “Mas nós esperamos que melhore, ainda mais no Dia das Crianças e Natal”, espera.
Estratégias de vendas
Já na loja de roupas Sandway, a proprietária Bianca Tostes fez uma avaliação positiva em relação aos primeiros meses do ano, entretanto, ela acredita que isso ocorreu por conta de estratégias de venda por parte do estabelecimento, que apostou no e-commerce e na divulgação em redes sociais. “Não dá para ficar parado esperando o movimento acontecer. Eu acredito que (o segundo semestre) vai ser melhor, sim, é sempre. A Black Friday é muito boa para nós, dá uma movimentada na economia. Eu sempre sou otimista, porque tenho 30 anos de comércio, passei por uma pandemia e a minha loja sobreviveu”, comenta.
Em termos de empregabilidade, Bianca aponta que o quadro na loja permaneceu o mesmo, ou seja, não houve novas contratações nem demissões. Porém, com as demandas para o final do ano, o estabelecimento pretende realizar contratações temporárias a partir de novembro. “Se a pessoa se sobressair, nós podemos até contratar (para o quadro fixo). Vai depender muito da demanda, mas hoje eu percebi que não é quantidade de funcionário que faz o diferencial na empresa, tem que ter qualidade de atendimento.”
Sem demissão
Na loja Spasso Calçados, os primeiros meses também foram positivos em termos de clientela, conforme o vendedor Sebastião Antônio Guimarães. De acordo com ele, o estabelecimento contava com oito lojas na cidade, entretanto, o número foi reduzido a duas, sendo que os funcionários não foram demitidos, mas realocados para essas unidades. Desta forma, Sebastião acredita que não devem ocorrer novas contratações para o final do ano, que promete trazer ainda mais movimento para o estabelecimento. “Tem que ter otimismo”, aponta. “Ao meu ver, vai ser melhor do que ano passado, inclusive por causa da pandemia, porque agora está entrando no eixo. Com a perspectiva de final do ano, geralmente (o segundo semestre) é bem melhor do que o primeiro.”
Comércio ainda se recupera da pandemia, aponta categoria
A recuperação da pandemia tem sido mais lenta para o setor comercial, de acordo com o presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio/JF), Emerson Beloti. Esse fator, somado a altos valores de aluguéis e com o crescimento de vendas on-line, dificulta o desenvolvimento do comércio, segundo avalia. “Alguns apontam que a pandemia já terminou, mas não é bem assim que funciona, economicamente, uma empresa. A volta é mais demorada.”
Conforme Beloti, o funcionamento do comércio se difere em relação ao setor de serviços, que tem crescido cada vez mais de Juiz de Fora. Os dados do Caged mostram que, de janeiro até julho, as atividades econômicas do setor criaram 1.807 novos postos de trabalho. Com isso, de acordo com o representante do Sindicomércio, a cidade tem se tornado referência na prestação de serviços.
“O serviço não requer grande capital para começar um negócio, porque se vende o serviço. Você tem custo menor que uma empresa no varejo, que tem que alugar uma loja o mais próximo possível da região central, ter estoque de produtos, então é outro cenário”, analisa, destacando que esses pontos, entretanto, não se aplicam em questão de saúde e educação, que, mesmo sendo do segmento de serviços, requerem grandes estruturas.
Além disso, o comércio também acompanha a construção civil, que norteia o crescimento da cidade, de acordo com Beloti. “Quando a construção civil está com saldo positivo, o comércio do varejo também acabam ficando, porque ele é consequência, não é causa. A causa é a construção civil.”
No caso da construção civil, julho também registrou mais demissões do que contratações, conforme o Caged. O segmento encerrou o mês com o fechamento de 46 postos de trabalho. O saldo do ano, entretanto, foi positivo para a construção civil, com 151 contratações a mais do que o número de demissões.
Ainda conforme destacado pelo presidente do Sindicomércio, estabelecimentos do segmento alimentício, como supermercados, são os que mais empregam. “É um segmento importante, que proporciona muita empregabilidade, então creio que em relação a esse resultado negativo, não houve queda maior por causa do alimentício que trouxe um contraponto.”
Setor emprega mais de 30 mil pessoas em JF
A extinção de 160 postos de trabalho em julho no comércio em Juiz de Fora pode representar alguma especificidade pontual do mercado, de acordo com Gilson Machado, economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio-MG). Conforme o especialista, para avaliar o desempenho do setor, é necessário considerar outros fatores, como o estoque de empregos, ou seja, a quantidade de pessoas com carteira assinada no município. Em julho, o comércio contava com 31.961 postos de trabalho, o que representa 23% do estoque total de Juiz de Fora, considerando todos os segmentos. No caso, a cidade acumulava 137.828 postos de trabalho formais.
“Ao observar o estoque de empregos, que proporciona maior estabilidade ao mercado de trabalho e exclui sazonalidades, podemos notar que o setor do comércio vem crescendo no município. Foram criados 575 novos postos de trabalho em relação ao mesmo período do ano anterior, que registrava 31.386 postos de trabalho”, destaca Machado.
Ainda conforme o economista, ao avaliar a série histórica e observar o período da pandemia, percebe-se um aumento nos postos de trabalho. Isto porque o momento mais crítico para o setor, em termos de empregabilidade, ocorreu em junho de 2020, quando houve um acúmulo de 2.806 desligamentos em relação a janeiro do mesmo ano. No início de 2020, o estoque de empregos no comércio estava em 31.230.
“O setor do comércio já recuperou essa perda no mercado de trabalho e está em um patamar superior em 2,3%, o que representa 731 novos postos de trabalho. Ao analisarmos a média ao longo dos meses, podemos concluir que o mercado de trabalho no setor do comércio teve uma média de criação de 17 novos postos de trabalho desde janeiro de 2020”, aponta. “É importante observar Juiz de Fora dentro da região à qual pertence, a Zona da Mata, pois possui maior relevância entre os 143 municípios que a compõem, com um estoque total de empregos representando 34% em sua região, ou seja, possui um estoque de 137.828 em comparação aos 401.046 da região da Zona da Mata.”
Como lembrado por Machado, o segundo semestre de 2023 pode trazer, ainda, um aumento na demanda por novos profissionais no comércio, considerando a necessidade de atender um fluxo maior de clientes nos estabelecimentos. “Ao olharmos para o segundo semestre do ano corrente, espera-se que o mercado de trabalho tenha novas recolocações no mercado, mantendo-se tudo mais constante, pois o segundo semestre inclui datas comemorativas no calendário anual com maior apelo emocional e volume de vendas.”