É possível fazer teatro sem assistir teatro?
Sábato Magaldi lembra: o teatro resiste contra tudo e todos
Esta semana, fui pego de supetão por uma notícia que, depois, descobri ser antiga. Uma atriz norte-americana da nova geração afirmou, em entrevista, que não assiste a filmes – nem mesmo aqueles em que participa. Segundo ela, quando alguém sugere um filme que mudaria sua vida, pensa: “Quanto tempo terei que ficar sentada aí?”
Diante de tal contexto, absurdo e grotesco, senti uma espécie de fúria típica de quem envelhece e não entende os padrões da nova geração. E, foi assim, que me questionei: é possível ser cozinheiro sem comer? Ou jornalista sem ler jornais? E será possível fazer teatro sem ver teatro?
O genial Sábato Magaldi, em “Onde está o teatro”, nos lembra do milagre que é a própria existência do palco em nosso país: “Fazer teatro, nesse cenário, é prova de heroísmo, a que não se costuma dar importância.” Aqui ele fala de uma arte que resiste, que se afirma contra tudo e todos, que pesquisa, experimenta, desafia e provoca, mesmo sem as verbas astronômicas de outros centros culturais ao redor do mundo que podem contar com políticas públicas voltadas ao teatro e mesmo quando a imprensa se retira, desculpando-se com a necessidade de dividir o espaço, preferindo temas de maior apelo popular.
Em Juiz de Fora, estamos longe do glamour de filmes hollywoodianos e, infelizmente, longe também da verba dos grandes centros que, diga-se de passagem, também é mínima. Porém, sabemos que produzir arte exige vocação e coragem. No nosso pequeno centro, cada espetáculo, cada cena, cada ensaio é um ato de resistência ainda maior.
Ao ler sobre uma atriz que não assiste a filmes, sinto que estamos diante de uma geração que ignora o processo, que despreza a imersão, a contemplação e o risco que são inerentes à arte.
O teatro brasileiro e juiz-forano existe porque alguém se senta, se entrega, se incomoda. Porque alguém lê, observa, se deixa tocar. Porque alguém assiste teatro, assiste aos espetáculos que são apresentados na sua cidade – e além. Sem isso, não há arte.
E assim, entre Millie Bobby Brown e Sábato Magaldi, entre absurdos globais e heroísmos locais, compreendemos que a verdadeira arte não se limita à visibilidade nem à audiência imediata, mas que ela exige presença. Presença de quem faz e, sobretudo, de quem observa.
Uma velha conhecida do teatro juiz-forano
Em tempo, mais um espaço para assistir teatro ressurge. A Casa D’Itália, localizada na Avenida Barão do Rio Branco, 2585, voltará a abrigar espetáculos teatrais após décadas sem receber a arte do encontro.
Uma parceria firmada entre a ‘Fact!’ e a Casa D’Itália reabre as portas do histórico salão, palco de tantos espetáculos na história de Juiz de Fora.
O espaço, tombado como patrimônio histórico, passa a receber parte das atividades da produtora. Além de ensaios e aulas, a parceria também prevê apresentações de alunos no fim do ano e o lançamento de um calendário artístico para 2026, sob a curadoria da Fact!.
Em cartaz
Após temporada na França, no Festival Off Avignon 2025, onde foi eleita uma das favoritas da crítica internacional, a montagem “Nastácia” inicia sua circulação nacional em Juiz de Fora. Com direção de Miwa Yanagizawa, dramaturgia de Pedro Brício e cenários e figurinos de Ronaldo Fraga, o espetáculo retrata a intensidade da heroína Nastácia Filíppovna, de Dostoiévski (O Idiota), unindo teatro, artes visuais e música. As apresentações acontecem nos dias 20 de setembro, às 20h, e 21 de setembro, às 19h, no Teatro Paschoal Carlos Magno. Os ingressos podem ser adquiridos online, através do Uniticket, ou presencialmente, no Zine Cultural na Praça Menelick de Carvalho, 150.
O musical “A fantástica trupe da esperança”, do Grupo Academia, continua em cartaz, com apresentações às 20h nos dias 16, 17, 18 e 23 de setembro, também no Teatro Paschoal Carlos Magno. A história acompanha três crianças e um animal abandonado que encontram uma trupe de circo liderada por um homem autoritário. Entre números circenses, segredos e desafios, eles precisam enfrentar um monstro que ameaça a cidade e libertar a herdeira de um trono perdido. Os ingressos estão disponíveis pelo Sympla, a partir de R$18.