O cinema que nos consome


Por MÁRCIO CORINO

29/11/2012 às 07h00

Um filme híbrido, que mistura as linguagens de ficção e documentário, com elenco formado por integrantes da carioca Companhia de Dança Rubens Bardot, o mais antigo grupo afro-brasileiro de dança contemporânea. Assim é Esse amor que nos consome, primeiro longa-metragem do cineasta também carioca Allan Ribeiro, que será exibido hoje, às 21h, no Espaço Alameda de Cinema, dentro da programação do Festival de Cinema Primeiro Plano.

No longa, o diretor do grupo de dança, o argentino Gatto Larsen, e o coreógrafo brasileiro Rubens Barbot, que interpretam a si mesmos, atuando em locações reais, são companheiros de vida há mais de 40 anos e acabam de se instalar em um casarão abandonado no centro do Rio de Janeiro. Ali, passam a viver e ensaiar com sua companhia de dança. A luta do dia a dia se mistura à criação artística e à crença em seus orixás. Através da dança, eles se espalham pela cidade, marcando seus territórios. O roteiro foi desenvolvido pelo diretor Allan Ribeiro e pelo ator/personagem Gatto Larsen.

Allan possui uma parceria artística com a companhia desde 2006. Nestes anos, criaram juntos imagens para espetáculos de dança, restauraram e organizaram todos os arquivos audiovisuais de espetáculos antigos e realizaram um curta-metragem: Ensaio de cinema, que recebeu mais de 30 prêmios em festivais no Brasil e no exterior. Minha relação com a companhia já é antiga, o que faz com que a dança e a proposta de atuação para os ‘não atores’ funcione mais facilmente. Além disso, fizemos um curta-metragem anteriormente, em que já testamos, com bastante êxito, esta relação com a câmera e nossa representação em imagens cinematográficas. A maioria das coreografias foi filmada com planos-sequência e câmera na mão, explica o diretor.

A produção seguiu um modelo cooperativo, muito presente no jovem cinema independente brasileiro. O espírito subversivo dos personagens e da Rubens Barbot foi fonte de inspiração para que o projeto fosse levado adiante, superando as dificuldades financeiras de um filme inicialmente sem patrocínio. O projeto levou a produtora executiva Ana Alice de Morais a ser selecionada pelo edital da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro para participação no laboratório de produtores do Festival de Rotterdam. Posteriormente, foi selecionado pelo edital de fomento também da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro, que possibilitou a sua finalização. Era um filme urgente, pois nossa locação, o lugar onde eles moravam, que foi o ponto de partida para contar esta história, poderia ser vendido a qualquer momento. Sem este casarão, o filme não existiria, pois ele é o símbolo do poder de luta, criatividade, renovação e ousadia do grupo.

Portanto, filmamos com recursos próprios e ajuda dos amigos e somente depois conseguimos dinheiro para finalização com a SEC RJ, secretaria de cultura de nosso estado.

Em termos de experimentação de linguagem, Esse amor que nos consome acompanha uma tendência cada vez mais forte do cinema contemporâneo, cujas produções se situam entre o tom documental e ficcional. Discutindo o assunto amplamente, chegamos à conclusão de que não há diferença entre realidade e ficção. É tudo um jogo. Os atores interpretam a si mesmos, atuando com atores profissionais e amigos que se arriscam no ofício, finaliza Allan.

‘ESSE AMOR QUE NOS CONSOME’

Hoje, às 21h

Espaço Alameda de Cinema

(Rua Moraes e Castro 300)

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