Distrito de Sarandira recebe terceira edição do Festival SaranCINE

Evento acontece na próxima semana, entre 3 e 5 de agosto, com atividades que envolvem cinema e gastronomia com o meio ambiente


Por Cecília Itaborahy

28/07/2023 às 07h40

 

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Segunda edição do evento, em 2021, aconteceu de forma híbrida, com atividades presenciais e à distância. Neste ano, Festival se firma no presencial (Foto: Divulgação Carabina Cultural)

Os espaços de memória estão ali: imersos nas matas que ainda existem, nos casarões tombados que continuam a contar história, nas tradições que passam pelas famílias dos, aproximadamente, 300 habitantes. Sarandira já foi sustentada pelo ciclo cafeeiro. Tem um passado marcado por uma população bem maior. A dependência que se deu, com o tempo, das cidades próximas, mudou tanto as formas de vida como o jeito que se olha para o lugar. Mas a identidade está ali, firmada. Recentemente, esse olhar foi sendo mudado. Uma série de ações que têm como objetivo intensificar esse pertencimento foram serem realizadas: desde a revitalização de algumas casas e praça a atividades culturais. Dentre os dias 3 e 5, a comunidade recebe, mais uma vez, o Festival de Cinema e Gastronomia de Sarandira (SaranCINE). É uma forma de atrair turistas e, ainda mais, debater as questões socioambientais, de maneira ampla, em lugar que ainda respira características rurais.

A primeira edição do SaranCINE aconteceu em 2021, de maneira completamente on-line, já trazendo como foco as questões ambientais. Já no ano seguinte, ele foi realizado de forma híbrida, com atividades presenciais e à distância. Neste ano, então, ele se firma no presencial, entendendo que os encontros são essenciais para entender e colocar em prática aquilo que se debate no festival: a relação do homem com o meio ambiente e as formas como ele pode ser usado para a manutenção de tradições e, ainda, fortalecimento de renda, a partir, principalmente, da gastronomia – outro foco do evento.

Quando Carlos Canela e Suzana Markus conheceram o distrito de Sarandira e fizeram de lá a sede da Associação Carabina Cultural, que realiza, junto da Carabina Filmes, o SaranCINE, entenderam que era preciso pensar em atividades que têm como finalidade a preservação do lugar. Antes mesmo do festival existir, eles já produziam debates com a comunidade sobretudo falando sobre a economia criativa, tendo como assunto as vocações que já são inerentes ao lugar.

Já dentro do festival, eles pensaram em realizar alguma atividade que promovesse essa preservação de maneira prática. No primeiro ano, convidou os moradores a plantarem uma árvore dentro de casa; no segundo, premiou as escolas que mais arrecadaram lixo eletrônico e óleo de cozinha usado para reciclagem e, agora, com o “Meu quintal é mais verde”, vai premiar a casa, a partir de fotos de quintal, que for mais verde, ou seja, tiver uma horta com produção ativa, para estimular tanto a produção independente quanto a alimentação mais saudável. “O processo de se produzir o alimento dentro de casa precisa ser relembrado e expandido. A gente vive em um momento limite, em relação a questões ambientais. E esse é um passo para a recuperação”, afirma Carlos Canela.

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Debate sobre culinária ambiental e fortalecimento de renda a partir da gastronomia também é outro foco do evento (Foto: Divulgação Carabina Cultural)

Cinema e gastronomia

Ainda de acordo com ele, a ideia é, realmente, que os moradores estejam intimamente envolvidos no SaranCINE. O festival é deles e para eles. Isso se reflete, por exemplo, na curadoria dos filmes que fazem parte da mostra. Carlos Canela é um dos curadores e diz que, de modo geral, os filmes deste ano trazem a discussão do meio ambiente para próximo da comunidade, mostrando, através das cenas, como se utilizar, ecologicamente, dos bens que já estão disponíveis em Sarandira. “O cinema é para modificar. E, através dos documentários, tudo isso fica nítido, porque se aproxima da realidade ao mesmo tempo que conta as histórias. É um cinema acessível.”

A programação traz filmes do Brasil todo que foram selecionados a partir de um chamamento público – sempre tendo como foco os debates relacionados ao meio ambiente. Além deles, dois outros são de diretores convidados: o “Vó”, de Marcos Pimentel (também curador do festival), que mostra um neto que se recorda de sua avó a partir das comidas que ela fazia, e “Sistemas Culinários da Cozinha Mineira – o milho e a mandioca”, de Chico de Paula, realizado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e pelo Instituto Periférico, que fala sobre os processos desde o plantio à produção do milho e da mandioca, reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial neste mês pelo estado.

Levar a gastronomia no nome não é à toa. Para além dos filmes que falam sobre isso, a profissionalização da culinária que já existe ali é um dos caminhos rumo à independência principalmente econômica das maiores cidades, já que a maioria dos moradores precisa sair de lá para trabalhar nas cidades mais próximas. “Antigamente, as pessoas do distrito precisavam comprar só sal. Mas isso vai se perdendo. Por isso que a gente pensa em incentivar essa culinária de qualidade. Além das relações de afeto por trás disso.” E isso tudo diz respeito ao meio ambiente. A discussão é, realmente, longa e ampla. “A gente tenta englobar tudo isso no festival. O meio ambiente é tudo. Quanto mais ampla a discussão, mais efetiva.” O SaranCINE conta ainda com debates, oficinas e atividades culturais, como shows e intervenções de palhaçaria – tudo gratuito.

Confira a programação completa:

Quinta-feira (3)
17h – Abertura: conversa com a comunidade sobre coleta seletiva como ajuda financeira para a restauração da igreja de Sarandira
18h30 – Mostra de filmes “O ferro velho de cada dia”, “Pa’muña”, “Mar de lama”.

Sexta-feira (4)
14h – Sarandirando: consciência ambiental em movimento com os estudantes de psicologia do UniAcademia, sob coordenação de Conrado Pável de Oliveira
17h – Debate: Produção audiovisual socioambiental com Carlos Canela, Eleika Furtado, Marcos Pimentel e os diretores: Fabrício Barros (“Amantikir”) e Pedro Carcereri (“Fé pelo clima”)
18h30 – Mostra de filmes (“Vó”, “Fé pelo clima”, “Amantikir”, “Aproveite a caminhada – Um filme sobre café e agrofloresta”, “8 bilhões: Somos todos responsáveis”)
21h – Show de Verdi de Mello
21h30 – Show Sylvio Rosa e Adrielle Moreira

Sábado (5)
8h às 12h – Oficina de bordado afetivo, com Denise Lima
8h às 18h – Oficina de desenvolvimento de personagens e narrativas visuais em desenhos animados, com a Inhamis Studio
11h – Oficina de culinária ambiental “Pé no rabo”, com chef João Simoncini e Cervejaria São Bartolomeu
14h – Debate sobre culinária socioambiental e cozinha mineira como patrimônio cultural, com chef João Simoncini, Marianna de Alencar e Souza (UniAcademia) e Nicole Batista (Iepha)
15h30 – Inauguração da nascente do casarão
16h – Palestra sobre saneamento rural (Tecnologia Embrapa) com Marcelo Otenio
17h – Invasão da palhaça Magrela (Lá na lona)
18h – Premiação do “Meu quintal é mais verde”
18h30 – Mostra de filmes (“Sistemas culinários da cozinha mineira – O milho e a mandioca”, “Nhãndê kuery mã hi’ãn rivê hê’yn – Não somos apenas sombras”, “Cosmovisões”, “Jaguamerica” e “Sobre sonhos e liberdade”)
21h – Palhaça Magrela pegando foco, com Deborah Lisboa (Lá na lona)
21h30 – Show do Samba de Colher

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