Rosa Montero em 4 obras: conheça a trajetória da escritora espanhola que vem ao Brasil

Tribuna indica obras para conhecer autora que fala sobre imaginação, desequilíbrio mental e fragilidade da existência, presença confirmada na Flip 2025


Por Elisabetta Mazocoli

27/07/2025 às 07h00

A escritora e jornalista Rosa Montero vem ao Brasil para a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece entre 30 de julho e 5 de agosto. Aos 74 anos, ela construiu uma carreira sólida e muito premiada na escrita, com livros que misturam gêneros e tensionam os limites entre ficção e não ficção. Já são mais de 30 obras, entre coletâneas jornalísticas, romances e literatura infantojuvenil, marcadas pela permanência de um estilo cru, bem humorado e profundamente criativo. Entre os seus trabalhos, há obras que falam sobre imaginação, desequilíbrio mental e a fragilidade da existência.

A trajetória de Rosa Montero com a escrita começou ainda na infância, quando teve tuberculose e precisou ficar confinada em casa para o tratamento. Durante esse tempo, ela se dedicou a ler e, mais tarde, também a escrever os sonhos que tinha. Já com 17 anos, entrou para a faculdade de Filosofia, até que trocou o curso pelo jornalismo, profissão em que ficou muito conhecida na Espanha, seu país natal. Atuou durante muitos anos como repórter no El País e chegou a ser redatora-chefe do jornal. Entrevistou muitas personalidades importantes, como Paul McCartney, Richard Nixon, Malala e Mario Vargas Llosa, e seus textos de entrevistas passaram a ser estudados em universidades de jornalismo em todo o mundo.

Em 1979, fez sua estreia literária, chamada de “Crónica del desamor”, e passou também a ganhar destaque pela literatura, já tendo sido vencedora do Prémio Nacional das Letras Espanholas, do Prêmio Grinzane Cavour e do Prémio Qué Leer. No Brasil, a maioria de seus livros é publicada pela Todavia, mas ainda há muitos títulos que não foram traduzidos. Apesar de colocar bastante de si na sua literatura, já explicou, em muitas entrevistas, que escreve falando de tudo e de todo mundo  — está longe de uma perspectiva apenas individual.

Rosa trabalha, muitas vezes, com temas da própria criação e histórias reais que não foram contadas, e que passam agora pelo seu próprio olhar. Apesar das suas obras tratarem de temas variados, é possível traçar um caminho em comum entre elas, através do que a autora chama de “artefatos literários”. Isso seria uma mescla de gêneros para construir suas narrativas, forjando identidade própria,  que se dá principalmente pela mistura e pela confiança no leitor poder ir descobrindo, ao longo de suas obras, o que é ou não é ficção.

a louca da casa
(Foto: Reprodução)

‘A louca da casa’

“A louca da casa”, reeditado pela Todavia em 2024, é talvez a melhor forma de começar a ler essa autora e compreender a sua genialidade. Isso porque refletir sobre a própria imaginação é também o que ela faz ao longo da obra, e de uma maneira absolutamente singular. Ela parte do próprio universo e de suas recordações para entender como a literatura e a vida se misturam, entendendo qual o papel dos sonhos, da loucura e dos medos que fazem com que um escritor crie uma história. Isso tudo acontece com um jogo narrativo cheio de surpresas e reviravoltas, em que o leitor precisa estar atento sobre o que está sendo dito e mesmo a forma que a autora está usando para contar.

a ridicula
(Foto: Reprodução)

‘A ridícula ideia de nunca mais te ver’

Em 2009, Rosa Montero perdeu o marido, o jornalista Pablo Lizcano, para um câncer, e passou por um intenso processo de luto depois de mais de 20 anos de convivência. Quando ela leu o diário da cientista e prêmio Nobel Marie Curie, foi justamente o luto que também a impressionou: as duas estavam em sintonia e a própria escrita as envolveu. Foi assim que “A ridícula ideia de nunca mais te ver” surgiu, como uma espécie de biografia nada óbvia de uma das cientistas mais importantes do mundo, que também se aprofunda sobre uma parte pouco conhecida de sua vida, a escrita, e sobre a própria história de Rosa, em uma busca que também nos faz entender sobre o que permanece mesmo muito além da vida.

nos mulheres
(Foto: Reprodução)

‘Nós, mulheres’

Em “Nós, mulheres”, a autora novamente se volta para uma escrita de não ficção e dá luz a histórias inusitadas sobre mulheres com o próprio olhar. A obra traz uma antologia universal de mulheres que marcaram a vida com as ciências, as artes, a política e os costumes — dentre elas, nomes como Agatha Christie, Frida Kahlo e Mary Anning. Isso tudo sem tratá-las como simples “heroínas” ou mesmo “vilãs”, mas entendendo a particularidade de cada trajetória e como suas vidas também estavam ligadas a uma história maior de opressão e invisibilidade. É uma leitura interessante para os mais acostumados com sua obra, que podem aproveitar as sutilezas e lampejos de sua escrita, mas também ficam curiosos em relação à trajetória dessas mulheres.

o perigo de estar lucida
(Foto: Reprodução)

‘O perigo de estar lúcida’

Em uma das suas obras mais recentes, a autora faz uma investigação sobre como a loucura e a criação estão relacionadas. Ela pensa isso a partir da própria vivência, como alguém que teve fortes crises de pânico durante boa parte da vida, e também de um repertório cultural amplo, que mistura livros de psicologia e relatos de grandes escritores e trabalhadores da cultura. Longe de simplificar o que significa a loucura ou mesmo o sofrimento psicológico real por trás de nomes importantes das arte, ela coloca em cena como esses fatores podem influenciar as experimentações da imaginação. Nesse caminho, também busca o surgimento das próprias ideias e as dúvidas em relação à literatura.

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