JF é considerada como melhor destino turístico LGBT+ do Brasil
Cidade foi contemplada na feira World Travel Market, no projeto Rota da Diversidade, mas ainda enfrenta desafios para proporcionar experiência melhor como destino turístico LGBT+
Juiz de Fora foi contemplada como melhor destino turístico LGBTQIAPN+ do Brasil na feira World Travel Market, no projeto Rota da Diversidade, que aconteceu este ano. De acordo com o Secretário de Turismo da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), Marcelo do Carmo, no evento, que é o maior da América Latina, foi levado em conta a história desse tipo de turismo na cidade, a partir do Miss Brasil Gay, com o ineditismo do que foi feito e as ações atuais. Para ele, no entanto, a Secretaria ainda enfrenta desafios para expandir esse turismo e precisa contar não só com o poder público, mas também com mais ações do empresariado, para conseguir proporcionar uma experiência ainda melhor para os visitantes.
O Secretário destaca essa visita como a ação de marketing mais importante da pasta para “vender Juiz de Fora como destino turístico”. A história do Miss Brasil Gay, para ele, diferencia a cidade das demais e faz com que se destaque. ” O Miss Brasil Gay começa como uma festa para angariar recursos para a escola de samba Juventude Imperial, mas à medida que os artistas começam a vir, e a Elke Maravilha tem um papel fundamental nisso, ganha esse poder e essa visibilidade capaz de atrair pessoas de outras cidades, mesmo em meio à ditadura militar. A gente criou o turismo LGBT no Brasil, com atividades voltadas exclusivamente para esse público”, diz, com base em suas pesquisas em nível de mestrado e doutorado.
Esse mesmo destaque que Juiz de Fora ganha nacionalmente proporciona, para membros dessa comunidade, a realização de uma das bases do que faz as pessoas viajarem. “O que nos estimula a fazer turismo é conhecer o desconhecido, conhecer outras culturas, fazer o que você nunca faria na sua cidade ou no local onde você vive. Quando a gente viaja, estamos sempre buscando um paraíso, e nesse mês de agosto, JF vira o paraíso para a comunidade LGBTQIAPN+. A gente desperta nos turistas não apenas o desejo de vir a JF, mas também a ideia do paraíso, esse lugar onde é possível fazer o que quiser sem ser repreendido, podendo se vestir de mulher ou o que quiser”, diz. O secretário ainda destaca o que João Silvério Trevisan, em “Devassos do paraíso”, fala sobre a cidade – apontando que foi nela que nasceu o primeiro movimento organizado em prol da comunidade LGBT.
Com o pontapé inicial dado pelo Miss Gay, todo o mês de agosto passou a destacar pautas relacionadas ao evento, fazendo com que o debate se ampliasse. “O Miss Brasil Gay tem em seu DNA militância, resistência política, ações de visibilidade, inclusão e ampliação do acesso à cultura e ao lazer. Quando o Miss Brasil Gay vai para o ginásio poliesportivo, é muito nessa tendência, com ingressos a preços populares e ingressos sociais, para que toda a comunidade tenha acesso”, conta. Por isso, como medidas para este ano, além de ações a longo prazo para se criar uma cultura ainda maior de incentivo ao turismo ao redor do evento, ele destaca a importância de outros setores se envolverem – seja com ações para esse público, descontos que incentivem o passeio pela cidade e o reforço da Rainbow Fest e outros eventos ao longo do mês.
Meta é aumentar dias no destino turístico
De acordo com pesquisa feita pela Setur, 89% do público do Miss Gay era de Juiz de Fora. Entre os turistas, 33% estava hospedado em hotel e pousada, e apenas 17,5% ficou quatro noites ou mais na cidade. Esse percentual preocupa o Secretário, ainda mais considerando que, de acordo com a mesma pequisa, o público que frequenta a Rainbow Fest tinha um gasto diário de R$104 (sem incluir hospedagem e transporte), enquanto o que vai ao Miss Gay, contando com o ingresso, gasta R$337 em média por dia (sem incluir hospedagem e transporte). Para ele, ambos os valores são considerados muito baixos. “Precisamos de novamente despertar o desejo dos turistas de ficarem em JF por mais que uma ou duas noites. Nós precisamos efetivamente criar mais e novas experiências para o turista. Ele só vai permanecer por mais tempo em JF se ele tiver algo a fazer”, destaca. Mais opções de lazer e entretenimento seriam essenciais para conseguir isso.
O desafio, então, seria propor novas opções para que o turista permaneça por mais tempo. “Nós já começamos a conversar com o empresariado, por exemplo, e isso vai desde o artesanato até grandes ações. Eu já fui procurado por pessoas que querem fazer uma feira de artesanato somente com expositores LGBT e com produtos voltados para a comunidade, mas também já fui convidado para fazer uma corrida LGBT, como vai acontecer este ano na parada de SP”, explica. E ainda, aponta alguns caminhos que o empresariado pode seguir para potenciar esse efeito, ainda mais considerando que o Miss Gay costuma injetar milhões na economia da cidade, como por exemplo gerando ainda mais eventos, festas em piscinas de hotéis, promoções de pacotes de hospedagem e festivais.
Preconceito contra população LGBT ainda é desafio
Engajar o empresariado a criar novas opções de lazer e entretenimento para essa população, no entanto, ainda é um desafio. “Não adianta ser gay friendly só no mês de agosto. Isso precisa ser diário, o ano inteiro. O que a gente faz o ano inteiro para incluir essa comunidade?”, questiona Marcelo. As medidas que ele propõe, na Secretaria de Turismo incluem city tours mais voltados para esse público, em parceria com os hotéis da cidade, e também capacitação para que os profissionais da cidade recebam as pessoas LGBT melhor. “Não podemos mais ter um recepcionista espantado ao receber um casal de gays, lésbicas e trans, perguntando se é cama de casal ou de solteiro. Não pode haver espanto”, diz.
Apesar dos desafios, no entanto, ele considera muito importante o apoio do empresariado. “Essas resistências não nos paralisam. Proporemos de novo essas ações de capacitação. Nós não conseguimos capacitar todo mundo, mas se já vier uma pessoa de cada empresa, cada organização, essa pessoa pode começar a ser o difusor dessa pauta dentro do local de trabalho”, afirma Marcelo. Mesmo assim, o Secretário defende que os eventos durante o período não sejam nichados demais, o que, em sua visão, também restringe o público. “No mundo ideal, que eu sonho, é que haja eventos pra todo mundo e as pessoas convivam igualitariamente no mesmo ambiente independentemente da sua orientação sexual e identidade de gênero. Porque as pessoas são muito mais que orientação sexual e identidade de gênero, elas são muitas coisas, inclusive gays, lésbicas, trans. Isso não pode ser o determinante pra ação, mas a cereja do bolo da ação”, diz.
Inclusão de todos os públicos
Do Carmo também destaca que a inclusão de todos os públicos é uma prioridade para a pasta. “O turismo ainda é branco, excludente, elitista e caro. Precisamos mudar essa cultura. Talvez esse seja o nosso maior trabalho nesse período”, afirma. Nesse sentido, ele ressalta a importância da cidade conhecer as próprias opções de turismo para se tornar porta-voz desse patrimônio. Também destaca o papel que perfis do instagram, blogueiros e a mídia podem ter de mobilizar esse público e fazer que o turismo cresça ainda mais.
Ainda este mês, ele revela que a Secretaria também irá ao Festival Internacional de Turismo de Ouro Preto. “Queremos mostrar as diversas motivações que podem trazer o turista para JF. Acabamos de receber material impresso para que a gente leve, mas nessa feira, óbvio que trabalharemos o turismo LGBT, mas há outra série de públicos que já trabalhamos, inclusive nas escolas. Lançaremos no mês que vem um projeto que se chama Educatour, e levaremos crianças, jovens e adolescentes de escolas públicas municipais para fazer city tour pela cidade gratuitamente”, afirma.