Mostra gratuita leva cinema ao interior de Minas
Recria Cine completa quatro anos exibindo filmes nacionais a crianças do ensino fundamental e médio de Ervália (MG)
Um projeto que nasceu da percepção e do esforço de três jovens do Coletivo Refazenda hoje multiplica a cultura em uma pequena cidade próxima a Viçosa, chamada Ervália. O Recria Cine está em sua quarta edição, levando cinema para estudantes de ensino fundamental e médio, encantando também adultos. Enquanto a primeira edição, em 2016, foi organizada apenas por três pessoas, hoje o projeto atinge mais de 50 voluntários. A última edição contou com cerca de 200 crianças e adolescentes por dia e a expectativa é de que este ano o projeto possa atingir ainda mais jovens, de 24 a 27 de julho.
A iniciativa surgiu com da união de três amigos: Tobias Rezende, formado em midialogia pela Unicamp, Jules Matos, estudante de jornalismo na UFJF, e o produtor cultural André Castro, formado pela Uenf. “O Tobias participou da direção de um curta-metragem infanto-juvenil chamado ‘Coisa-Malu’, premiado e exibido em Cannes, na França. E ele, como meu primo, quis mostrar para os primos mais novos, e alimentamos a ideia de exibir para as crianças da cidade com mais filmes”, conta Jules.
A cidade de pouco mais de 18 mil habitantes vive uma relação precária com o cinema, já que, segundo o cofundador Jules, faz mais de 30 anos que o único cinema de Ervália foi fechado. “Lá as crianças têm que ir para Viçosa, onde tem o cinema mais próximo, e ficam muito limitadas ao que a televisão e a internet oferecem. Muitas vezes não há produções regionais e nacionais infanto-juvenis disponíveis”, comenta. Pensando nisso, o festival busca trazer produções voltadas para esse público, com a valorização do cinema nacional e a representação das nossas culturas. “Ao mesmo tempo que as crianças conseguem ver um filme de Muriaé ou Cataguases, conseguem ver um filme produzido na Amazônia, no Amapá, em todas as regiões do país. Quando têm a oportunidade de assistir de graça, na própria cidade e em tela de cinema, filmes bons e feitos no Brasil, isso cria também uma identificação e inspira a fazer cinema e transpor as montanhas da cidade.” Esse ano, mais de cem filmes, de 21 estados do Brasil, foram inscritos para o processo de curadoria. Desses, 23 filmes foram selecionados, dois longas e 21 curtas, contemplando 12 estados brasileiros.
Como ferramentas de desenvolvimento dessa cultura cinematográfica, o evento conta ainda com oficinas de cinema, teatro e fotografia, que mostram o processo de produção e gravação de filmes, permitindo também a criação de curtas ao fim da mostra. “Há oficinas de formação audiovisual para o público adolescente, por exemplo. Na segunda edição, convidamos um diretor de cinema de Belo Horizonte, Carlos Canela, um dos fundadores da Carabina Filmes, que ensinou sobre produção de curtas e no final produzimos um curta dirigido pelos alunos. Fazemos isso desde a primeira edição, com equipes de cinema e teatro que bolam o roteiro e filmam. As crianças ficam deslumbradas de ver acontecendo.”
Multiplicador da cultura
Esse ano, o Recria Cine acontece na Escola Estadual Monsenhor Rodolfo, com o objetivo de resgatar o papel da escola como agente de transformação cultural. “A mostra acontece em julho, período de férias, e as crianças voltam à escola sem serem obrigadas. Isso dá uma cara nova à escola, e elas se sentem abraçadas por um ambiente que muitas vezes pode parecer engessado”, destaca Jules.
Desde o início do projeto, a intenção do Coletivo Refazenda era de incentivar outras iniciativas na cidade e, aos poucos, a chama que haviam acendido começou a se expandir. “No último Recria Cine, fizemos um vídeo final em que entrevistamos a diretora da escola, e ela disse que, depois da primeira edição, a escola bombou de iniciativas. Do projeto também saiu a ideia de fazer um sarau na porta da igreja em homenagem a Tia Ló, poeta da cidade que faleceu há alguns anos, e o sarau passou a acontecer todo mês. Grupos de teatro também passaram a fazer ações nas escolas, ensinando as crianças a grafitarem”, destaca Jules.
Atualmente o grupo sonha com a possibilidade de ampliar o projeto para outras cidades da região, mas ainda depende de patrocinadores para fortificar a mostra em Ervália antes de expandir para outros lugares.
Até segunda-feira (29), o Recria Cine recebe doações de patrocinadores para custear as despesas do evento. A contribuição pode ser feita através do link.