ENTREVISTA / Célia Diniz, vice-presidente do Centro Espírita Luiz Gonzaga


Por RAPHAELA RAMOS

21/07/2011 às 07h00

O chamado cinema transcendental fincou de vez sua bandeira no irregular terreno do cinema nacional. Pelo menos é o que sugerem as produções e as bilheterias vistas nos últimos tempos. Somente em 2010, ano de centenário de Chico Xavier, cerca de cinco filmes espíritas foram lançados, entre eles, o longa biográfico dirigido por Daniel Filho. Baseada na obra As vidas de Chico Xavier, do jornalista Marcel Souto Maior, a empreitada foi conferida por quase 3,5 milhões de pessoas. Para encerrar as homenagens ao médium mineiro, os diretores Glauber Filho e Halder Gomes levaram à telas, no início de abril deste ano, a sequência As mães de Chico Xavier, que acaba de sair em DVD (lançado ontem). No cinema, ela somou mais de 500 mil espectadores.

Inspirada no livro Por trás do véu de Ísis, também de Souto Maior, a produção narra três diferentes histórias de mulheres que enfrentam graves problemas e encontram conforto nas cartas de Chico. O roteiro é assinado por Emmanuel Nogueira. Nele, uma das protagonista, a atriz Vanessa Gerbelli, revive as dores de Célia Diniz, mineira que perdeu o filho de três anos. Em entrevista à Tribuna, Célia, ex-professora de química, falou sobre sua relação com Chico e o espiritismo, além de comentar o sucesso do novo gênero no cinema.

Tribuna – Em sua opinião, por que motivo os filmes espíritas estão ganhando as salas e o gosto do espectador?

Célia Diniz – As temáticas espíritas têm atraído milhares de pessoas que estão em busca de respostas. De onde vim? O que estou fazendo aqui? Por que sofro? Por que uns são ricos e outros tão pobres? E principalmente, para onde foram aqueles que amo e que realidade me aguarda quando eu for também? São questões que a doutrina espírita responde por meios de filmes espíritas ou espiritualistas, como Ghost, O mistério da libélula, Amor além da vida, Além da vida, Sexto sentido, Nosso Lar e, agora, As mães de Chico Xavier.

– Por que seu caso foi um dos escolhidos para integrar o roteiro?

– Minha perda foi escolhida porque a mensagem veio de uma criança ainda muito pequena, fato raro, segundo Chico Xavier. Outro fator que pesou foi eu já ser espírita. Os roteiristas queriam mostrar a resignação e a força que o espiritismo evangélico cristão oferece em momentos como este, apesar da dor da perda e da saudade.

– O que achou do resultado? O cinema foi capaz de contar com clareza tudo o que sua família passou?

– O resultado foi muito bom, considerando que não existem palavras ou cenas capazes de revelar a verdadeira dimensão do que passa uma família diante de perdas tão devastadoras. Mas a Vanessa Gerbelli interpretou com tanto carinho e respeito minha dor e parte da convivência com meu filhinho que cheguei a me ver ali.

– Você se tornou espírita depois do episódio com Chico Xavier ou já seguia a doutrina? O que aquele momento representa para sua vida?

– Eu já era espírita. Com a perda e o recebimento da mensagem, tentei me tornar uma pessoa melhor. Ninguém sai da perda de um filho do mesmo tamanho. Ou você se apequena na dor, na revolta, no desânimo ou compreende que tudo o que vem de Deus concorre para o bem de todos. No segundo caso, passa a compreender também que a ajuda oferecida àqueles que sofrem ao seu lado torna sua dor muito mais suportável. No momento em que o médico acenou negativamente com a cabeça para mim, foi como se o mundo tivesse desmoronado. O que eu já havia aprendido com o espiritismo, com Chico Xavier e com meus pais precisou renascer em mim.

– O que diria para uma mãe que passa agora pela mesma situação vivida por você?

– Eu não diria nada de diferente do que o evangelho de Jesus Cristo nos ensina: buscai o Reino de Deus que todo o resto nos será dado por acréscimo de misericórdia. Certezas são intransferíveis, mas gostaria de dizer que é possível vencer esta dor e que tudo o que não nos destrói nos faz mais fortes. O luto é uma estrada pela qual você tem que passar sem estacionar no acostamento. Foi assim que me senti ao ser visitada por esta mesma dor novamente, em 2006, quando uma dengue hemorrágica levou minha filha de 27 anos. Só então aprendi uma questão que me intrigava há tempos, o amar a Deus sobre todas as coisas. Amando-o, conseguimos entregar nossos filhos, acreditando que com Ele estarão melhores do que conosco. Uma mãe vivencia o verdadeiro amor quando faz esta entrega, confiando que a morte não existe, e a vida continua.

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