Primeiro edital privado de cultura de Juiz de Fora é lançado
Instituição Cultural Bodoque Artes e Ofícios inaugura abertura de fundo próprio contemplando artista negro da periferia do país
Com o tema “Vivência artística como prática de liberdade”, o primeiro edital cultural privado de Juiz de Fora elaborado para enfrentar os impactos da pandemia de Covid-19 abriu suas inscrições neste domingo (19) e encerra no próximo dia 16. Promovido pela Instituição Cultural Bodoque Artes e Ofícios, o mecanismo prevê a aquisição de uma obra de arte de um artista nacional negro e periférico no valor de até R$ 1 mil, valor retirado do recém-criado fundo cultural da entidade. As inscrições podem ser feitas pelo site da Bodoque.
“No Brasil, a sociedade se estrutura a partir da escravidão. Ou seja, mesmo com a abolição, o arranjo social continua a subjugar a população negra: processos de morte pela mão do Estado; pela violência; apagamentos históricos, racismo religioso e silenciamentos culturais, além do encarceramento em massa. Nesse sentido, podemos afirmar que o genocídio do povo negro é naturalizado a olhos vistos”, reflete o documento que prevê, ainda, uma exposição virtual com os dez primeiros colocados.
Auxílio durante e após a pandemia
Previsto como apoio à classe artística no momento de pandemia, o edital deve permanecer, assim como o fundo cultural, proveniente de porcentagem dos recursos arrecadados com a escola e os serviços, de design a restauro de papel, oferecido regularmente pela entidade. “Como o valor dos editais está relacionado exclusivamente à arrecadação da Bodoque, a ideia é alternar os valores bem como os critérios de premiação, para ter condições de manter os editais regularmente, com valores menores ou maiores, dependendo das variáveis. Cada edital vai contemplar um público-alvo diferente, sempre buscando atender grupos que se encontram socialmente mais vulneráveis dentro da classe artística”, explica o educador Frederico Lopes, um dos responsáveis pela iniciativa, já indicando a comunidade LGBTQIA+ como o próximo público atendido pelo mecanismo.
“Sinto que ações como essa são fruto de um trabalho que passa sim pela responsabilidade cidadã, mas que, acima de tudo, entende que nossas conquistas individuais são, em alguma medida, conquistas coletivas, por isso são capazes de promover mudanças significativas na realidade de muitas pessoas”, defende ele, para logo sugerir: “Espero, sinceramente, que outras instituições culturais se inspirem nessa iniciativa para que o fomento à cultura em nossa cidade seja proporcional à oferta de demanda de trabalhos artísticos um dia.”