‘A Turma dos Dedos Falantes: a investigação’ ensina Libras para crianças e professores

Em seu novo livro, Jéssica Gravino também coloca em foco o vitiligo e a inclusão dos idosos no mundo digital


Por Elisabetta Mazocoli

18/04/2023 às 07h54

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Legenda: Para Jéssica, o aprendizado de Libra deve ser inserido desde a primeira infância, porque a criança é capaz de absorver estudos muito rápido (Foto: Divulgação/ Estácio)

Jéssica Gravino é uma pedagoga, especialista em Línguas de Sinais e Educação, que logo em sala de aula percebeu um problema: a falta de obras que abordassem a inclusão para o público infantil. Além disso, como intérprete, a juiz-forana viu de perto a dificuldade que os alunos surdos enfrentam durante o aprendizado. Foi assim que surgiu a ideia de escrever as próprias histórias para dar atenção a esses temas, e “A Turma dos Dedos Falantes: a investigação” já é o terceiro fruto desse trabalho. A sequência traz livros de aventuras que ensinam Libras para crianças e professores, sempre alternando temáticas. Sua nova obra, também coloca em foco o vitiligo e a inclusão dos idosos no mundo digital.

O primeiro livro da Turma foi lançado em 2020 e falou sobre a surdez e a baixa visão através dos personagens Bóris e Penélope. Já em 2022, o segundo livro, “Turma dos Dedos Falantes na máquina do tempo” propôs reflexões sobre o mundo das pessoas com síndrome de down, além do cuidado com o meio ambiente. Neste lançamento, seu objetivo é trazer de volta os personagens e apresentar, ainda, Beatrix, uma menina famosa que some, misteriosamente, e que a turma passa a querer entender o que aconteceu com ela. Ao longo da história, o vitiligo vira tema de aprendizado, assim como um olhar para o bullying sofrido pelos personagens.

As experiências que Gravino teve foram essenciais para que ela entendesse essa lacuna no mercado e que também refletia na formação dos alunos. “Eu tinha que escolher para cada ano escolar quatro livros e tinha dez turmas. Eu queria escolher livros que abordassem a inclusão, mas não tinha material. Eu ficava procurando, mas era bem escasso, até hoje são”, afirma. Foi ainda nessa época que seus primeiros manuscritos surgiram e, com o tempo, ela foi adaptando as histórias. Outra vivência importante foi quando, morando nos Estados Unidos, percebeu que, diferentemente de como ocorre no Brasil, a língua de sinais americana era uma disciplina escolar.

Foi também a partir de um pedido que a temática do vitiligo chamou a sua atenção. “Eu fui procurada por uma mãe que pediu pra que eu falasse sobre vitiligo na sala de aula, porque a filha dela estava iniciando a fase mais avançada da doença e estava se escondendo. Queria sempre ir com blusa e calça para não aparecerem as manchas”, conta. Sendo assim, começou a pensar sobre o assunto e decidiu, anos depois, também abordá-lo em livros, já que percebe que ainda é um tema pouco discutido e que envolve diversos preconceitos.

Falta de interesse do mercado

Apesar de esforços mais recentes para mudar esse cenário, o mercado para livros infantis que abordem temáticas de inclusão e que tenham recursos para aumentar o acesso para pessoas com deficiência ainda é pequeno. Para a escritora, a dificuldade de trazer essas obras para as escolas também está na falta de interesse de diretores e coordenadores pedagógicos de trazerem essas temáticas. “Nem sempre se interessam por trazer essas temáticas. Alegam que não tem surdos na escola, por exemplo, mas não é isso. Precisamos aprender a língua para lidar com a sociedade, e quem sabe um dia poder mesmo receber essas pessoas. É um material cultural muito importante, inclusivo, apelativo para a realidade”, diz.

O objetivo das suas obras, portanto, é tentar trazer ao menos em partes o bilinguismo infantil a partir do aprendizado de Libras. “A gente acredita que esse aprendizado deve ser inserido desde a primeira infância, porque a criança é capaz de absorver estudos muito rápido”, explica. Para mudar esse cenário, portanto, ela revela que livros como os da série precisam conseguir mais parceiros e possibilidades em escolas.

“Ser realmente um material inclusivo”

Assim como nos outros livros, Jessica trouxe recursos interativos para contar sobre as aventuras da Turma dos Dedos Falantes. Ao ler o livro, é possível acessar QR codes que são inseridos nas páginas, braille na capa, audiodescrição de todas as cenas e a leitura da história em audiobook. “Temos também a interpretação em Libras para os surdos, para não só trazer a temática, ser realmente um material inclusivo”, explica. Esses recursos podem ser utilizados por pessoas cegas e surdas, mas também pelos leitores que querem conhecer mais sobre as possibilidades dessa história.

O desenho dos personagens de sua obra é da ilustradora Paula Vasconcelos e o projeto gráfico assinado pelo designer Vitor Faria. É possível adquirir as obras através do site dedosfalantes.com.br ou do número de WhatsApp (32 999279611).

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