Carnaval, polo audiovisual e centro histórico: secretários de Cultura e de Turismo revelam planos para nova gestão
Rogério Freitas e Eduardo Crochet compartilham prioridades e planos para gestão da Funalfa e Setur
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Em 2025, a Funalfa e a Secretaria de Turismo (Setur) passaram por mudanças em suas gestões: a chegada de Rogério Freitas e de Eduardo Crochet, respectivamente. Os secretários escolhidos para a segunda gestão de Margarida Salomão (PT) compartilharam com a Tribuna algumas das prioridades dos setores para os próximos quatro anos e os desafios enfrentados até então. Entre os temas abordados, estão o carnaval de 2025, a criação do polo audiovisual e a consolidação do centro histórico de Juiz de Fora, principalmente com a abertura do Mercado Municipal marcada para abril deste ano. Os secretários substituíram Giane Elisa, na Funalfa, e Marcelo do Carmo, na Setur, que comandaram as pastas durante os últimos quatro anos.
A transição para uma nova gestão é sinalizada por Rogério como um momento de superação dos desafios estabelecidos pela Covid-19, que impactaram fortemente esses setores. Para ele, além disso, é um trabalho de dar continuidade às medidas de descentralização da cultura, com um olhar para a periferia e a necessidade de abarcar os movimentos culturais mais diversos em todas as ações da cultura do município. Da mesma forma, Crochet entende que é preciso dar continuidade ao trabalho que já estava sendo realizado de consolidar Juiz de Fora como um atrativo turístico e um porto seguro na região da Zona da Mata – sempre em diálogo com as cidades do entorno.
O primeiro grande desafio que a dupla enfrenta à frente das pastas é o carnaval de 2025. Essa festividade já começou com duas grandes mudanças: a fixação da festa nas datas oficiais e a qualificação das escolas de samba a partir de um edital público. A informação do diretor-geral da Funalfa é que serão destinados R$500 mil para atender as necessidades das escolas de samba e garantir o desfile em 2026, ao contrário do que irá acontecer esse ano. Esse recurso, conforme explica, servirá para atender necessidades diversas, como a de quadras para ensaios e a renovação dos ritmistas. A festa também está sendo olhada pelos dois como uma grande oportunidade de movimentar pessoas e negócios. “A previsão é que a gente tenha entre 200 e 220 mil pessoas envolvidas nos blocos até a quarta-feira de cinzas. Isso gera uma movimentação importante para hotéis e principalmente para bares, restaurantes, comércio e patrocinadores. É uma cadeia que se movimenta”, destaca Rogério.
Para Eduardo, o diferencial da movimentação desse ano está inclusive nas atrações de fora, que atraem visitantes. Além disso, é um momento de integração das cidades próximas. “Consideramos o carnaval uma das dimensões do direito à cidade, que chamamos de direito à folia. Estamos fazendo um mapeamento com a Polícia Militar e a Polícia Rodoviária a respeito das condições das estradas e da expectativa de fluxo dos carros durante o carnaval e pré-carnaval, considerando as cidades vizinhas e Juiz de Fora. Vemos que é um fluxo de mão dupla, tanto de pessoas vindo para cá quanto de pessoas daqui que vão para as cidades vizinhas. Isso promove uma integração regional e projeta esse conjunto de cidades como uma região de folia”, destaca Eduardo.
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Articulação para polo audiovisual
No final de 2024, a prefeita já tinha anunciado que uma das prioridades da cultura para 2025 seria a criação de um polo audiovisual em Juiz de Fora. Essa intenção é confirmada por Rogério, que esteve inclusive na Mostra de Cinema de Tiradentes, para trocar ideias com outros gestores que já enfrentaram a criação desse modelo de incentivo ao audiovisual. Essa é indicada por ele como uma das ações mais importantes de incentivo à economia criativa na cidade. “Estamos em uma cidade média importante, que tem um capital cultural notável e um diferencial nessa área. Precisamos articular essa mola da economia criativa para vermos se conseguimos reter mais as pessoas na cidade”, destaca.
Essa elaboração do polo audiovisual está contando com o planejamento de César Piva, diretor-presidente do polo audiovisual de Cataguases. A criação do polo audiovisual também motivou a mudança de sede da Funalfa, que irá ocupar o complexo na Avenida Rio Branco, onde funcionava o antigo CES e a TV Diversa. O local terá um estúdio em que serão feitas atividades de qualificação para a população. Outro diferencial, em sua perspectiva, será a sala de exibição do Mercado Municipal, que pode servir para que mais pessoas assistam a esses filmes.
Além disso, ele destaca que houve uma reformulação grande no fundo nacional do audiovisual, que é um mecanismo organizado que vai ser muito movimentado em função da lei do streaming. “Estamos preparando Juiz de Fora para fazer a disputa de recursos e se colocar de maneira ainda mais firme. Temos as condições ideais, porque a cidade já é uma locação, com áreas históricas e rurais. E temos essa facilidade de locação de uma cidade média para fazer isso”, diz.
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Revitalização do centro histórico e 50 anos do calçadão
A delimitação do centro histórico foi anunciada no final de janeiro, mas esse projeto de revitalização da área central da cidade ainda é um tópico que está sendo trabalhado por ambas as secretarias. “A prefeita tem buscado fazer uma requalificação do centro histórico. Vamos ter um resultado que vai gerar turismo, vontade de ir ao centro, vontade de morar no Centro. Os projetos estão sendo desenvolvidos, e a fase um é a inauguração do mercado. (…) Ao longo dos quatro anos, queremos uma outra cara pro centro da cidade”, conta Rogério. E, nesse contexto, o calçadão da cidade também irá completar 50 anos – e, para ele, ali é o espaço de “caldeirão político e estético da cidade”. Por isso, também devem acontecer ações para valorizar e comemorar esses espaços.
Como explica Crochet, o mercado será o carro chefe para atrair os turistas. “Não é só um mercado em que temos um hortifruti de qualidade, como era, também teremos peixaria, açougue, charcutaria, queijaria… Além disso, um local todo pensado para o artesanato local, com grande abertura para a praça e um espaço cultural de primeira linha, bem no coração da cidade.” Outro diferencial são os arranjos produtivos para apresentar os produtos da região, chamados de “gastronomia da roça”, como é o caso do Queijo Minas Artesanal, recentemente reconhecido como patrimônio imaterial da Unesco. Para fazer essa revitalização de forma mais ampla, eles também afirmam que os órgãos estão se mobilizando para intensificar o diálogo com as iniciativas privadas e com os órgãos públicos.
Contato com cidades da região e Rio de Janeiro
Conforme destaca Crochet, o turismo é fortemente ligado ao desenvolvimento econômico – e, por isso, é interessante notar que Juiz de Fora se localiza em um ponto estratégico para trocas variadas. “Juiz de Fora é um polo turístico, mas também um polo regional integrado. Não queremos tirar os turistas das outras cidades, mas promover essa circulação para que as pessoas fiquem mais tempo na região”, conta. A expectativa é que, quando visitarem uma cidade mineira próxima, os turistas possam encontrar no município uma estrutura para se hospedarem e se locomoverem sem dificuldade. E que, com a criação do centro histórico e dos novos atrativos, essa visita se estenda por mais tempo.
Mas, pela proximidade com o estado do Rio de Janeiro, ele entende que essa articulação também precisa ser feita com as cidades próximas, como é o caso de Petrópolis e Areal. A cidade imperial tem esse diálogo com Juiz de Fora devido aos dois museus com maior acervo do período no Brasil, o Museu Imperial e o Museu Mariano Procópio. Mas essa ligação também ocorre pela produção de cervejas em ambas as cidades. Enquanto isso, Areal é uma cidade que tem atraído muitos turistas devido à produção de vinho. “Estamos marcando com os prefeitos e secretários de cultura e turismo da região para estreitar esses laços”, afirma Crochet.
Outros planos
Ainda sem poder apresentar muitos detalhes, os secretários apresentaram outros direcionamentos do que podem ser as ações futuras das secretarias. Em relação ao Mercado Municipal, a Setur planeja trazer uma ferramenta para conhecer e visitar Juiz de Fora a partir do local, com novas rotas turísticas se abrindo, inclusive envolvendo a Zona Rural. “Queremos formalizar o arranjo produtivo da charcutaria, que vai pegar também o nosso querido torresmo.” Outro diferencial no setor do turismo é a provável volta da Parada do Orgulho LGBT para a Avenida Rio Branco – algo que também já está sendo discutido. Ele ainda indica que a secretaria está se preocupando com o turismo de juiz-foranos para outras localidades, e considera uma possível parceria para o turismo em praias, tão procuradas pelos mineiros.
Na Funalfa, Rogério destaca que a intenção é ampliar as salas de exibição em Juiz de Fora. Além disso, ele entende que a “evolução natural” do polo audiovisual é ter, no futuro, uma plataforma de streaming regional para o público poder assistir aos filmes produzidos na Zona da Mata. Sobre os editais de cultura do ano, por fim, ele afirma que a expectativa é de manter as ramificações para garantir a diversidade das produções dos contemplados, mas que ainda será feito um balanço das inscrições ocorridas nos últimos anos.
Tópicos: funalfa / polo audiovisual / turismo