Batida erudita
"Os tambores são os novos violinos." Com esta afirmação, publicada em dezembro de 2007, o crítico musical do "New York Times", Allan Kozinn, sacralizou algo que pesquisadores da música já vêm afirmando nas últimas décadas: o crescimento da percussão no gênero erudito. "Na verdade, foi o instrumento que mais se desenvolveu na música clássica do século XX, e este desenvolvimento colocou a percussão em uma posição central e de destaque no cenário atual", observa Fernando Rocha, diretor do Grupo de Percussão da UFMG, que faz concerto hoje, dentro da programação do 24º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga.
De acordo com Fernando, o potencial para a exploração de novos sons é o grande responsável por esta "descoberta" da percussão, o que vem atraindo o interesse dos compositores desde o início do século XX. "Como decorrência disso, mais peças destinadas apenas a esta família de instrumentos começaram a ser escritas. Assim, a principal parte do nosso repertório vem destes trabalhos, a chamada música contemporânea de concerto, que é a erudita escrita por compositores atuais", explica.
Integrante do Grupo de Percussão da UFMG, Breno Bragança ressalta que, de todos os instrumentos usados na música clássica, os de percussão são os que possuem maior diálogo com as vertentes musicais populares. "Instrumentos como a conga e o bongô podem ser tocados de maneira erudita e têm raízes na música popular de outras culturas, como a africana. Assim, a percussão erudita é muito mais próxima do popular do que o violoncelo, por exemplo, que não possui estas origens."
Na apresentação desta noite, os percussionistas da UFMG apresentarão repertório que Fernando Rocha descreve como "bastante eclético, acessível e dinâmico", com técnicas que podem surpreender o público.
"Utilizaremos instrumentos comuns ao universo da música orquestral, entre eles o vibrafone e a marimba (teclados de percussão da mesma família que o xilofone), tambores variados (como congas, bongôs, caixa) e os tradicionais da percussão brasileira, como pandeiro, zabumba, triângulo e surdo. Além disso, também usaremos baldes, canos e isqueiros, objetos não concebidos como instrumentos musicais, mas empregados como tal em algumas das obras", adianta Fernando.
Elaborado com composições que utilizam a percussão em diferentes contextos, o concerto será aberto com ‘Vous avez du feu? (1961), do francês Emmanuel Sejourné, em que os instrumentistas "tocam" isqueiros. "É um exemplo de uma corrente contemporânea conhecida como "música cênica", que é para ser vista", explica o diretor. Em seguida, o grupo executa "Alone or together" (Eugene Novotney), baseada em frases rítmicas características da música indiana, usando tambores e baldes de plástico. Já "Stubernic", de Mark Ford, explora diversos recursos de uma marimba, tocada ao mesmo tempo por três percussionistas.
Um dos destaques é a peça "Drumming", de Steve Reich, considerada a primeira obra-prima minimalista, composta para quatro bongôs."A obra é baseada na repetição de uma mesma frase, mas a percepção do ouvinte sobre ela é modificada gradualmente, a partir de processos introduzidos pelo compositor, como aumentar o ritmo da frase ou alterar uma nota", pontua Fernando. O repertório erudito é encerrado com "Marimba Spiritual", do japonês Minoru Miki, com elementos rítmicos e melódicos da música tradicional nipônica.
A noite será encerrada com três obras do multiinstrumentista brasileiro Hermeto Pascoal, que, para Breno Bragança, "é um meio-termo entre o popular e o erudito." Na sequência, serão apresentados os arranjos de "Forró Brasil" e "Suite Norte Sul Leste Oeste", em que a bateria original é substituída por instrumentos tradicionais brasileiros. A sessão é encerrada com a performance de cinco músicos tocando canos, batizada oportunamente por Hermeto Pascoal, em seu bom humor habitual, de "Entrando pelos canos".
Grupo de Percussão da UFMG
Direção: Fernando Rocha
Hoje, às 20h30